terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O renascimento da cinefilia


As inovações tecnológicas alteraram profundamente a forma e as condições com que assistimos filmes. Do suporte físico do celuloide, vivemos hoje tempos onde os acervos estão nas nuvens, esse espaço intangível onde cabem todos nossos sonhos.

Desde o surgimento do cinema, há mais de 120 anos, até o final dos anos 70, exercer a cinefilia exigia, além de dedicação, uma disponibilidade de tempo e recursos. O resgate e a revisão das grandes obras do cinema só era possível através do acesso às cinematecas. Mas então, o milagre se fez. Nos anos 80 surge o VHS. E tudo mudou. Pela primeira vez uma geração de cinéfilos sentiu o gostinho de “levar o cinema para casa”. Com aquelas fitas magnéticas, seladas ou piratas, os usuários se sentiam um pouquinho donos dos filmes. E a cinefilia viveu seu primeiro apogeu. Podia-se ver e rever filmes no conforto dos lares. A opção de escolha se tornou possível. Depois, era só rebobinar a fita e devolver na locadora antes de virar mais uma diária.


Quando o mundo do audiovisual já parecida dominado, eis que surge mais uma novidade tecnológica, que acabou por revigorar o prazer de consumir cinema em casa. Os antigos VHS foram substituídos pelos então inovadores DVDs. E lá se foi uma geração de cinéfilos se desfazendo dos acervos de fitas emboloradas em troca das elegantes cópias em DVD. A qualidade de som e imagem eram “Infinitamente” superiores. Sem falar que ocupavam menos espaço na estante.

Ah, bendita tecnologia! Sempre nos aprontando das suas. E não é que lá veio outra inovação? O futuro chegou. E com ele vieram os insuperáveis Blu-rays. Som THX, 5.1 canais, stereo surrounded e imagem cristalina em full HD. Com essas qualidades era quase uma obrigação substituirmos nossos queridos DVDs. Por que não? Os novos disquinhos azuis ocupavam ainda menos espaço.


A revolução seguinte acabou por se dar não no suporte no qual os filmes eram apresentados. Mas sim na diversificação dos canais de disponibilização. Chegou a era dos filmes “on demand”. A filosofia é simples: assistir o que quiser, na hora que desejar, da forma mais conveniente. A diversificação dos dispositivos e a evolução da velocidade do streaming propicia nosso consumo de filmes no computador, no tablet, no smartphone e na smart TV. Sem suporte físico. E sem ocupar espaço nas prateleiras. O inovador serviço da Netflix passou a ser o sonho de consumo dos novos (e antigos) cinéfilos.


Então, quando tudo parecia ajustado, eis que surge um novo prazer para exercermos a boa e velha cinefilia. O superado e decadente DVD vive um momento de renascimento. E a responsável por este movimento é a Versátil Home Vídeo que descobriu um nicho de mercado que dá novo fôlego aos disquinhos prateados. A vocação do colecionismo, típica dos cinéfilos de carteirinha, voltou a dar sinais de vida graças aos imperdíveis lançamentos dos boxes de DVDs dos mais diversos temas. E tem para todos os gostos: terror; western, ficção científica, filme noir, e tantos outros. Além de lançar filmes inéditos no mercado brasileiro, as edições da Versátil respeitam o consumidor aos privilegiar as versões restauradas, nas melhores condições disponíveis, recheados de extras que fazem a alegria de qualquer espectador. Hoje, com a Versátil, voltar a consumir e colecionar DVDs é vintage.

Curiosa essa evolução nas formas de assistirmos filmes. No início, nos primitivos “nickelodeons’, a exibição era privada. Apenas um espectador de cada vez. Depois, com o surgimento das gigantescas salas de cinema, as sessões passaram a ser um ritual coletivo. Centenas de pessoas, no mesmo ambiente, compartilhavam o mesmo momento. Na medida em que a tecnologia avançou o ato da cinefilia recuou para o ambiente doméstico, com poucos espectadores. E por fim, fechando um ciclo, a experiência de assistir filmes praticamente voltou a ser solitária com o uso dos dispositivos móveis, como o celular e o tablet. No entanto, apesar de tudo e todos, a cinefilia continua muito viva. E nunca foi tão fácil praticá-la.

(Texto originalmente publicado no portal “Movi+” em agosto de 2015)

Jorge Ghiorzi

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