quinta-feira, 2 de março de 2017

“Amy”: a fama que consome


Premiado em 2016 com Oscar da categoria, o documentário Amy refaz a trajetória do surgimento, ascensão, glória, decadência e prematuro desaparecimento da cantora e compositora britânica Amy Winehouse, falecida aos míticos 27 anos, em 2011.

Nesses tempos de elevada exposição midiática a qual estamos expostos, a disponibilidade do registro digital é uma realidade onipresente. Ainda assim, é surpreendente a existência de tantas gravações caseiras e semiprofissionais da trajetória de Amy, seja no âmbito privado, familiar, seja no registro histórico dos primeiros momentos da sua meteórica carreira.

Convencional em seu formato, mas envolvente pela personagem retratada, o documentário foi dirigido por Asif Kapadia, o mesmo realizador da cinebiografia Senna. Consta que a próxima empreitada de Kapadia será um filme sobre Maradona, reafirmando assim sua vocação para ser o documentarista oficial (!) dos famosos.


“Você sempre machuca quem você ama”

Celebridade involuntária e relutante, Amy Winehouse mostrou-se desde cedo afetada pela excessiva exposição da sua vida. Artista movida pela paixão, um talento espontâneo, Amy lutou a vida inteira contra a fama que a fragilizava e consumia.

Ao retratar de forma detalhista a recusa de Amy Winehouse ao culto às celebridades, o filme de Kapadia acaba por desenhar um cenário crítico sobre este universo que suga e vampiriza suas vítimas-alvo. As fraquezas emocionais de um artista podem facilmente ser potencializadas pelo assédio invasivo. E Amy Winehouse foi uma dessas vítimas, que se refugiou no álcool e drogas, até seu trágico fim.


“De certa forma o amor está me matando”

Documentários sobre celebridades já falecidas não trazem surpresas sobre o final. O interesse está, portanto, na trajetória, nos fatos, razões e motivações que determinaram o caminho. E Amy é suficientemente rico na construção de sua narrativa para atrair um olhar mais atento do espectador. Em destaque a comovente e sincera sequência com o cantor Tony Bennett (seu ídolo), com quem Amy chegou a gravar um histórico dueto, e também o momento emocionante do anuncio da melhor “Gravação do Ano” no Grammy de 2008, “Rehab”, da própria Amy.


Ao celebrar e resgatar a vida e a música de Amy Winehouse, o documentário, que está disponível na Netflix, é honesto, equilibrado e contundente, sem relativizar a conduta, por vezes no mínimo questionável, da própria artista que, voluntária ou involuntariamente, acabou por sabotar sua curta carreira. Amy agrada aos fãs e desperta o interesse nos curiosos.

(Publicado originalmente no portal “Movi+” em março de 2016)

Jorge Ghiorzi

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