segunda-feira, 17 de abril de 2017

Os 100 melhores do Cinema Brasileiro


Ainda que sujeitas a críticas, suspeitas, falhas, omissões e injustiças, o fato é que as listas são questionáveis já por definição. Ao ambicionar o ordenamento do juízo de valores, sejam eles positivos ou negativos, uma lista necessariamente sempre lida com o imponderável elemento subjetivo de uma avaliação particular. No entanto, ainda assim, não há como negar o irresistível apelo que elas, as listas, provocam. Ao concentrar uma imensa carga de informação, as listas fazem todo sentido nesses tempos de avassaladores volumes de conteúdos dispersos (por vezes desconexos) a que somos submetidos diariamente. Separar o joio do trigo é uma tarefa que devemos nos impor diariamente. E, convenhamos, uma lista facilita demais este trabalho.

Dito isto, vai uma ótima notícia para os cinéfilos interessados no cinema brasileiro. Os principais críticos de cinema do Brasil consolidaram uma oportuna e necessária lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A grande virtude da iniciativa é a diversidade da avaliação, que não ficou limitada ao campo apenas dos longas-metragens e nem restrito ao universo dos filmes de ficção. Tratou-se da produção brasileira como um todo, independente de gênero, forma ou bitola. Some-se a esta amplitude a origem dos votantes. Participaram críticos de cinema de todas as regiões do país, todos eles integrantes da “Associação Brasileira de Críticos de Cinema” (Abraccine).


O resultado final da votação resultou no livro 100 Melhores Filmes Brasileiros (Letramento) que publicou textos críticos/analíticos de cada um dos filmes, contextualizando sua origem, seu valor fílmico e sua importância na história da produção cinematográfica do Brasil em seus 120 anos de existência. O critério de redação dos textos foi simples: cada filme, um crítico. O resultado é um amplo panorama do cinema brasileiro onde constata-se a consolidação de alguns títulos unanimemente reconhecidos, ao lado de outros tantos que ganham uma projeção que não tiveram na época de seu lançamento e também alguns resgates históricos de obras que pareciam relegadas ao esquecimento.


Ao percorrer a lista, desde o 1º colocado (Limite, de Mário Peixoto) até o 100º filme (Meteorango Kid, Herói Intergalático, de André Luiz Oliveira), através das excelentes críticas, o leitor pode ficar certo de estar fazendo uma incrível viagem pelo o que de melhor o cinema brasileiro já produziu. Ainda que, com as ressalvas já feitas, uma lista sempre ofereça motivos para eventuais questionamentos justamente por não ser resultado de um experimento científico, mas sim fruto de uma reflexão específica, momentânea, sujeita ao tempo e espaço onde nascem. Assim, por este viés, entende-se que cerca de um terço dos filmes selecionados foram produzidos nos últimos 20 anos.


Claramente isto representa uma questão geracional que se manifesta pela predominância de uma grande presença de críticos mais jovens em detrimento da “velha guarda” da crítica brasileira. Mas, absolutamente isto não invalida nem contamina de forma injusta e comprometedora o resultado final da votação. É louvável e muito bem-vinda esta iniciativa e sua construção, ao longo do tempo, certamente pode ser revista, ajustada e reavaliada. Parabéns à Abraccine pela iniciativa e aos críticos pela virtuosa e abrangente seleção e seus fantásticos textos. O cinema brasileiro agradece. E aos cinéfilos, um recado final: vejam os filmes e leiam o livro.

(Texto originalmente publicado no portal “Movi+” em novembro de 2016)

Jorge Ghiorzi

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