terça-feira, 11 de julho de 2017
quinta-feira, 6 de julho de 2017
“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”: um novo recomeço
Uma boa notícia para os fãs. O Aranha não morreu,
apesar das recentes experiências desastrosas. Apenas mudou de casa e agora retorna
vivo, firme e forte. Para quem não está ligando os pontos desta teia, vale
lembrar. O personagem Homem-Aranha, nos quadrinhos, pertence à Marvel. Mas no
cinema o herói dava expediente na Sony, que detinha os direitos para a telona.
Nesta fase de exílio o Homem-Aranha protagonizou cinco filmes. Uma primeira
trilogia dirigida por Sam Raimi e estrelada por Tobey Maguire (2002, 2004 e 2007)
e outros dois filmes protagonizados por Andrew Garfield (2012 e 2014).
Era chegada a hora de retornar ao lar. A estreia nesta
nova fase ocorreu no ano passado com uma pequena participação do novo
Homem-Aranha em Capitão América: Guerra
Civil, onde, a convite do Homem de Ferro, integrou o grupo dos Vingadores.
Agora, finalmente ganha seu filme solo com a marca inconfundível da Marvel. Homem-Aranha:
De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming) é na verdade uma sequência direta
daquele filme do Capitão América. Porém, desta vez o foco é inteiramente
direcionado ao personagem alter-ego de Peter Parker. Se antes ele foi um mero
coadjuvante, nesta nova produção ele ganha vida própria e assume definitivamente
o protagonismo no universo Marvel como integrante confirmado dos Vingadores.
Ao mesmo tempo em que participa do maior grupo de
super-heróis do planeta, o jovem Peter Parker (Tom Holland) tem que se virar no
dia-a-dia com a rotina dos problemas típicos de um adolescente universitário: estudar,
fazer provas, ajudar com as tarefas domésticas e, quando possível, flertar com
a garota que balança seu coração. Não fosse tudo isso, ainda tenta provar para
Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de Ferro em pessoa, de que já está
pronto para a próxima missão, que não chega nunca. Nesta relação Stark assume por
vezes os ares da figura paterna que Peter Parker não tem.
Então, enquanto a missão não vem, ele próprio trata
de correr atrás de algo para mostrar o seu valor como super-herói. Típico
comportamento de rebeldia juvenil. Quando por acaso impede o roubo de um banco
com assaltantes que utilizam armamento com tecnologia de origem alienígena, o
Homem-Aranha entra na mira do novo vilão que está surgindo para levar o caos à
cidade, o Abutre (Michael Keaton). Neste embate o Aranha assume o novíssimo uniforme
super high-tech desenvolvido pelas indústrias do mega empresário Tony Stark.
Altamente tecnológico, o novo traje é quase uma armadura com muitas gadgets e incríveis novas funções da
tradicional teia, marca registrada do herói.
Homem-Aranha:
De Volta ao Lar foi dirigido
pelo novato, e pouco conhecido, Jon Watts que fez um ótimo trabalho neste reboot do personagem que estava à espera
de uma retomada, pois trata-se de um dos super-heróis de maior prestígio da
Marvel. A narrativa leve e descontraída flui sempre com competência, o que
torna o filme uma experiência agradável, praticamente sem momentos de baixo
interesse. As cenas de ação são eficientes, não pecando pelos excessos vistos
ultimamente nas produções do gênero. Apenas uma ressalta negativa para as
sequências noturnas que são de difícil visualização, o que dificulta sua plena
apreciação.
Recentemente filmes como Deadpool e Guardiões da
Galáxia apontaram um caminho que renova o interesse nas adaptações das HQs
para o cinema. Ambos abandonaram uma certa solenidade na abordagem e
acrescentaram generosas doses de humor. A proposta é reproduzir a experiência
desencanada de ler uma revista em quadrinhos, com diversão e relaxamento. Acertadamente
o novo Homem-Aranha bebe desta mesma fonte.
Objetiva e direta, a nova adaptação do herói aracnídeo não perde tempo com
questões de interesse relativo e parte direto para a ação. Pouco ficamos
sabendo das suas relações familiares. Nosso conhecimento se limita apenas ao
essencial: ele vive com a Tia May (Marisa Tomei) e basta. E nada de repassar a
origem dos poderes de Peter Parker. A história da picada da aranha radioativa é
citada rapidamente apenas num curto diálogo, e segue em frente.
A repaginação do Homem-Aranha nesta nova versão,
com a grife Marvel, foi bem sucedida e demonstra fôlego para muitos filmes.
Além do tom correto da aventura, claramente mirando um público mais jovem,
possivelmente o grande acerto da produção foi a escalação de Tom Holland para interpretar
o herói. Carismático, engraçado, bom ator e muito jovem (o que garante uma vida
longa na pele do herói) ele assume com talento o papel que recentemente foi do
insosso Andrew Garfield em filmes que não deixaram saudades. O novo
Homem-Aranha das telas saiu melhor que a encomenda, até porque a baixa
expectativa contribuiu para uma avaliação menos apaixonada e tendenciosa. É
fato: Homem-Aranha: De Volta ao Lar revitaliza,
com méritos, o prestígio de um herói que andava em baixa.
sábado, 1 de julho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
“Zabriskie Point”: jornada no deserto
36º 25’ N 116ª 48’ O. Estas são as coordenadas
geográficas que assinalam a localização do “Zabriskie Point” no globo
terrestre. Um lugarzinho perdido no mapa, no meio do Parque Nacional do Vale da
Morte, no deserto da Califórnia. O terreno árido é resultado de um lago que
secou há milhões de anos. Uma região onde a vida é um desafio constante da
natureza.
Este é o cenário que inspirou a única experiência
de Michelangelo Antonioni em terras norte-americanas. Zabriskie Point (1970)
foi realizado num período de grande evidência do diretor, quando o nome de
Antonioni se consolidava como um cineasta com livre trânsito internacional, além
da condição de apenas um realizador de cinema de arte europeu. Seu trabalho
anterior, primeiro em língua inglesa, foi Blow-Up
– Depois Daquele Beijo (1966), e o seguinte foi O Passageiro – Profissão: Repórter (1975).
Os emblemáticos tempos de passagem da década de 60
para os 70 estão na essência da narrativa de Zabriskie Point. Período de lutas pelos direitos civis, emancipação
dos negros, contracultura, guerra do Vietnã, movimento hippie, psicodelia e rock,
muito rock. O filme de Antonioni já inicia conflagrado, no olho do furacão. Na
sequência de abertura, em estilo documental, somos jogados no meio de uma
assembleia de universitários no campus discutindo sobre a iminente greve e as
ações do grupo no enfrentamento contra a repressão policial. Logo identificamos
entre os universitários o protagonista da história. O jovem Mark (Mark
Frechette) parece alheio e distante da veemência dos discursos revolucionários
de seus colegas. Ao se manifestar em público pela primeira e única vez na
reunião revela sua verdadeira natureza de independência. Declara em alto e bom
tom: “Estou disposto a morrer (pela causa). Mas não de tédio”. E sai da sala de
forma teatral e dramática, para espanto dos estudantes pela clara exibição de
individualismo.
Ao participar de um confronto da policia com um
grupo de grevistas, Mark é testemunha da morte de um policial de Los Angeles.
Por estar portando uma arma, Mark foge do local para não ser acusado de
homicídio. Sem destino, sem mapa, sem bússola e sem dinheiro no bolso, decide, num
impulso, roubar um pequeno avião e seguir sem rumo em direção ao deserto.
A outra protagonista da história é Daria (Daria
Halprin), secretária de um poderoso empresário (Rod Taylor) que planeja
construir um mega empreendimento residencial em pleno deserto de Mojave. Ao
fazer uma viagem de carro por este mesmo deserto, para encontrar-se com seu
chefe (e talvez amante, pode-se supor pelo contexto), Daria decide dar uma
parada numa cidadezinha no meio do caminho para visitar um amigo. Durante a viagem
Daria percebe no céu um pequeno aviãozinho que começa a dar voos rasantes sobre
seu carro. Nestas coordenadas do deserto as histórias dos dois personagens
errantes se cruzam e os destinos de ambos mudam de rota.
A escolha do deserto como cenário faz todo sentido
se considerarmos que Michelangelo Antonioni é um cineasta reconhecido pelo
pleno domínio da mise-en-scène nas
geografias dos espaços cênicos que representa em suas obras. Em Zabriskie Point o diretor expõe o
ambiente urbano da metrópole, com sua sufocante profusão de placas, painéis,
outdoors e publicidade, em contraste com a paisagem desolada e plácida do
deserto, espécie de paraíso (ainda) intocado pela civilização. Neste aspecto, o
ambiente representa a própria natureza interior dos personagens que promovem
uma fuga para, por fim, encontrar-se em si mesmo. Há sim algo de
existencialista nesta jornada de descoberta. Um sonho utópico perseguido que
não se completa. Fica apenas a desilusão.
Michelangelo Antonioni se posicionava como um
intelectual marxista, no entanto, contradizendo este discurso, seus filmes
invariavelmente tratavam de uma elite burguesa com seus problemas típicos,
longe da dura realidade de um trabalhador proletário. Ainda assim, não resta
dúvida que Zabriskie Point é um filme
explicitamente anticapitalista, de contestação ao establishment e à manutenção
do status quo da ordem ideológica, política e econômica instalada. Há, porém,
uma fragilidade nesta abordagem um tanto idealizada que manifesta uma
indulgência demasiada com os movimentos jovens, plenos de contestação, mas
vazios nas alternativas que sugerem como opção.
Realizado há mais 45 anos, com a ambição de
retratar um período peculiar da sociedade norte-americana, Zabriskie Point por vezes soa por demais datado e preso a um estilo
“hiponga”, típico daquele momento. Mas não há como negar, porém, que o olhar
europeu (estrangeiro) de Antonioni foi suficientemente bem sucedido para
transmitir o espírito da América naquele início de década. Ainda que não tenha
sido bem recebido no lançamento, ficando aquém das expectativas nas
bilheterias, o longa-metragem foi reavaliado ao longo do tempo e hoje pode ser
classificado como um dos melhores trabalhos de Michelangelo Antonioni.
Pelo menos duas sequências icônicas de Zabriskie Point passaram para a
história. A primeira delas é a sessão de amor coletivo em pleno deserto com
vários casais transando em meio às areias, um símbolo do sexo livre em conexão
com as forças da natureza. A outra sequência de destaque, ainda hoje
impactante, é a explosão final, metáfora do desejado fim do consumismo
capitalista. De beleza plástica excepcional, a sequência ganha ares de pintura pop art a lá Andy Warhol ou Jackson
Pollock. Com direito a uma hipnótica trilha sonora composta pelo Pink Floyd.
Na época do lançamento mundial Zabriskie Point foi censurado no Brasil pela explosiva mistura de
política, contestação, corpos nus e sexo livre.
Assista o trailer: Zabriskie
Point
(Texto originalmente publicado na coluna “Cinefilia”
do DVD Magazine em novembro de 2016)
Jorge Ghiorzi
sexta-feira, 23 de junho de 2017
segunda-feira, 19 de junho de 2017
“O Ano do Dragão”: violência em Chinatown
O recente (2016) falecimento de Michael Cimino,
além de lamentável em si, atraiu a atenção para a filmografia do realizador que
andava com prestígio em baixa na indústria. Ainda que tenha sido homenageado
pelo Festival de Veneza em 2012, a verdade é que Cimino rumava para uma forçada
aposentadoria por não conseguir desenvolver novos projetos pessoais. Agora, com
a filmografia definitivamente fechada, seus trabalhos voltam a ser reavaliados
e relançados, atestando o valor de uma obra que estava à espera de um novo
olhar.
Ao falar-se de Michael Cimino as primeiras
lembranças que vem à mente são justamente o seu ápice, o drama de guerra
vencedor do Oscar, O Franco Atirador
(1978), e o equivocadamente alegado maior fracasso (apenas comercial, a bem da
verdade), o portentoso western épico O
Portal do Paraíso (1980). As duas produções surgiram em sequência, fato que
apenas confirma a oscilação na carreira do realizador. Considerando este fato, é
perfeitamente compreensível a expectativa que rondava o filme seguinte, O Ano
do Dragão (Year of the Dragon, 1985), lançado após Cimino lamber por
cinco anos as feridas deixadas pela dolorosa experiência de O Portal do Paraíso.
Recontar, ainda que alegoricamente, a história da
formação da América, é uma ambição que perpassa alguns filmes do diretor. A
conquista de territórios, os primórdios do capitalismo e a integração dos
imigrantes europeus são pano de fundo em O
Portal do Paraíso. Os fantasmas do conflito do Vietnã que assombram a sociedade
norte-americana estão em O Franco
Atirador. O submundo e a corrupção das Máfias que construíram fortunas e
moldaram o poder dos EUA aparecem em O
Ano do Dragão, e também em O
Siciliano (1987), ainda que este transcorra na Itália.
Baseando em um livro de Robert Daley (que também
escreveu o livro que deu origem ao filme O
Príncipe de Cidade, de Sidney Lumet), O
Ano do Dragão tem roteiro do próprio Cimino em parceria com Oliver Stone. O
filme se passa na Chinatown de Nova Iorque, berço da máfia chinesa que opera
nos EUA comandando o tráfico de ópio, matéria prima da heroína. Para expandir
seus negócios os chineses entram em conflito com os italianos (carcamanos). A
disputa por territórios deflagra uma guerra, acaba com o equilíbrio de forças e
rompe o acordo de paz, coniventemente aceito pelas corruptas forças policiais
da região.
É neste cenário que entra em cena o capitão da
polícia Stanley White (Mickey Rourke) transferido do Brooklyn para Chinatown
com o encargo de cuidar da crescente violência no bairro. O policial avança o
sinal e vai fundo na missão. Não concordando com o faz de conta da polícia, que
prefere deixar tudo como está para ver como fica, White decide, contra o desejo
de seus superiores, fazer uma guerra pessoal assumindo o papel de justiceiro
incorruptível. Nesta obsessão o policial compra briga com o Sistema, destrói
seu casamento, acaba com suas poucas amizades e manipula a imprensa, através da
sedução de uma repórter de TV.
Impulsivo, arrogante e extremamente vaidoso, o
personagem Stanley White é de origem polonesa, o que o coloca também como um
imigrante na América, assim como os chineses e os italianos aos quais persegue
em sua saga punitiva. Há um forte componente de discriminação racial nas
atitudes do policial, um estigma, aliás, que sempre perseguiu o próprio diretor
Michael Cimino, particularmente após O
Franco Atirador, onde tratava os asiáticos de forma maniqueísta.
Os desempenhos em O Ano do Dragão são pontos fracos no resultado final. Mickey Rourke
está por demais caricato e constantemente beira ao overacting. John Lone não está particularmente bem com o líder da
máfia chinesa. Mas o desastre maior está no papel da repórter de TV Tracy Tzu,
fundamental para a narrativa. Ariene Koizumi, por vezes creditada apenas como
Ariane, atriz norte-americana de origem japonesa, não dá conta da complexidade
da personagem e coloca a perder todas as nuances da relação sadomasoquista que
desenvolve com Stanley White.
Tenso e explosivo como outros trabalhos do
realizador, em O Ano do Dragão
Michael Cimino não se furta e até se regozija com a exposição explícita de
sangue e as consequências das balas em corpos e crânios. Uma destas explosões
de violência é a sequência do tiroteio na casa noturna, que revela uma ótima
decupagem e montagem dinâmica. Sequência, aliás, que nos remete a outra, muito
semelhante, em Scarface, dirigido por
Brian De Palma três anos antes. Coincidência? Plágio “involuntário”? Quem sabe.
Mas vale lembrar que o mesmo Oliver Stone foi roteirista dos dois filmes.
Assista o trailer: O
Ano do Dragão
(Texto originalmente publicado na coluna “Cinefilia” do DVD
Magazine em novembro de 2016)
quinta-feira, 15 de junho de 2017
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