O primeiro
encontro de Michael Jordan com o cinema ocorreu há 27 anos. O colega de cena do
maior jogador de basquete de todos os tempos foi ninguém menos do que Pernalonga,
na animação Space Jam: O Jogo do Século.
Dois anos depois Jordan fez uma pequena participação em Jogada Decisiva, de Spike Lee, que se passa no mundo do
basquetebol. Hoje aposentado das quadras, empresário bilionário, o atleta volta
às telas. O retorno não é em pessoa, mas como personagem real retratado em um
drama que recria, com toques de ficção, um dos momentos mais emblemáticos do
início da sua carreira: a vitoriosa parceria com a Nike.
Air – A História
Por Trás do Logo (Air), dirigido por Ben Affleck, revela a incrível história dos
bastidores que antecederam a parceria revolucionária entre um então novato
Michael Jordan e a também novata e incipiente divisão de basquete da Nike.
Naquele tempo, início dos anos 80, a famosa marca de artigos esportivos era
apenas uma postulante ao podium dos líderes do setor. A Adidas e a Converse
dominavam o mercado A grande sacada da Nike, consolidada em 1984, foi apostar
em um jovem talento do basquete e jogar todas as fichas em uma arriscada jogada
única. O resto é história. A parceria de Michael Jordan com a Nike revolucionou
o mundo dos esportes e da cultura contemporânea com o lançamento da marca de
tênis Air Jordan.
Quem apostou
na ideia, e a perseguiu como um sonho intuitivo, foi um vendedor, Sonny Vaccaro
(Matt Damon), responsável pela divisão de Basquete da Nike, empresa que era
conhecida apenas pelos praticantes de corrida. Primeiramente precisou convencer
internamente que sua visão estava correta, em especial persuadir o dono da
empresa, Phil Knight (Ben Affleck). Depois, convencer a família de Michael
Jordan do projeto inovador da Nike. O atleta estava inclinado a fechar contrato
com a Adidas, mas então entra em cena a mãe de Jordan (Viola Davis), que sempre
soube o imenso valor do talento de seu filho dentro e fora das quadras.
A empreitada do
funcionário da Nike para obter a todo custo a atenção de Jordan e sua família
passa por uma série de obstáculos (apresentados de maneira simplista) e o
roteiro doura um tanto a pílula, abusando de personagens bem intencionados.
Sabemos, claro, que não é exatamente assim que ocorre no ambiente corporativo dos
tubarões predadores dos grandes negócios.
Air – A História Por Trás do Logo faz um justo e
merecido tributo a um dos maiores atletas da história, mas traz um ranço típico
de filmes biográficos “chapa branca”, que não ousam, optando por mostrar seus
personagens apenas com virtudes, sem nuances. Consta que o próprio Michael
Jordan participou, ainda que informalmente, na concepção da história que vemos
nas telas. Certamente isto explica o clima de “filme de sessão da tarde”, sem
grandes conflitos, o que resulta em uma obra meramente didática e burocrática.
Jordan não aparece em cena, mas o filme retrata uma parte importante da sua
vida. No elenco o destaque fica mesmo com Matt Damon e Viola Davis, ambos nada
mais do que corretos, operando em modo piloto automático.
Como cineasta Ben
Affleck se mostra como um realizador absolutamente convencional, sem nenhum
traço autoral identificável que o tire da condição de aplicado operário padrão
de Hollywood. Ainda que, vale lembrar, Argo
tenha recebido o Oscar de Melhor Filme, em 2013, e Affleck premiado pela
direção no Globo de Ouro e BAFTA.
Air – A História Por Trás do Logo é o mais longo
comercial da Nike que você já viu, apresentado com toda pompa e circunstância
como um primoroso case de marketing
com lições que farão a alegria de mentores de carreira, coachs motivacionais e gestores corporativos.
Assista ao trailer: Air - A História Por Trás do Logo
Jorge Ghiorzi /
Membro da ACCIRS
janeladatela@gmail.com