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quarta-feira, 19 de abril de 2023

Os Três Mosqueteiros - D’Artagnan: tudo pelo reino



O romance histórico do francês Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros (1844), é uma das histórias clássicas mais adaptadas pelo cinema, a ponto de estabelecer um gênero cinematográfico em si, o “capa-e-espada”. Desde os filmes mudos, passando por desenhos animados, comédias e musicais, as aventuras de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan já ganharam muitas versões, interpretações e releituras. Às vésperas de completar 280 anos o clássico de Alexandre Dumas ganha mais uma versão, que chega às telas como uma das adaptações mais fiéis da obra original, produzida na França, com cenários franceses, elenco francês e diretor francês. Ou seja, uma autêntica produção com “lugar de fala”, legitimada pela origem de todos os envolvidos.

Dirigido por Martin Bourboulon (da comédia Relacionamento à Francesa e do drama biográfico Eiffel) Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (Les trois mousquetaires: D’Artagnan), na verdade é a primeira parte de um programa duplo. A segunda parte, Os Três Mosqueteiros: Milady, será lançada no final do ano.


Herói improvável, D’Artagnan (François Civil) assume o protagonismo involuntário da história ao se apresentar como o homem certo, na hora certa. Recém chegado à Paris, vindo da Gasconha (sul da França) com a ambição de integrar o pequeno exército de mosqueteiros, servidores leais do rei Luis XIII (Louis Garrel), o jovem e impetuoso D’Artagnan se vê de imediato mergulhado no meio de ardiloso plano para derrubar o reino. Aquele era um período de intensa disputa política que opõe duas nações, França e Inglaterra, e duas religiões, Católicos e Protestantes. A trama tem como vilã a sedutora Milady de Winter, interpretada por Eva Green, que parece talhada para papéis desta natureza, e ganhará ainda mais destaque no segundo filme da série.

O maquiavélico Cardeal de Richelieu, em conluio com Milady, articula um complô para desacreditar a rainha, revelando um caso de adultério que abalaria o reino. Mas, os Mosqueteiros entram em ação cena, salvam a pele da rainha e garantem a unidade do abalado reino do rei Luis XIII. A trama ganha contornos de suspense e emoção, que a aproximam de uma investigação policial que sustenta as duas horas desta primeira parte da narrativa.


As dinâmicas sequências de ação e lutas são, no mais das vezes, empolgantes e vigorosas. Duelos de espada aparecem em filmes desde os primórdios do cinema, mas, é fato, pouco evoluíram em termos de coreografia e encenação ao longo dos últimos 100 anos. Neste aspecto há que se considerar que neste Os Três Mosqueteiros há algo de novo que merece ser destacado. Não exatamente na coreografia, mas na forma de gravar as lutas, quase sempre captadas com câmera baixa em leve contra-plongée (de baixo para cima) e, o que faz toda diferença para transmitir uma sensação de imersão e realismo (!), são mostradas em engenhosos planos-sequência (olha aí John Wick fazendo escola).


Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan tem o mérito de fazer a releitura de um clássico, respeitando sua origem, sem, no entanto, abrir mão de uma narrativa que busca o ritmo de uma boa aventura que faça sentido às plateias atuais. Ponto negativo: o filme certamente sofrerá um efeito de frustração pela falta de desfecho, como Kill Bill, por exemplo, por ser dividido em duas partes lançadas com vários meses de intervalo. Porém, com uma agravante, fruto do nosso tempo. O ritmo ágil e descartável com que o audiovisual é consumido nos dias que correm, a primeira parte deste Os Três Mosqueteiros poderá parecer velha e antiga demais (talvez até mesmo esquecida) quando a segunda parte chegar aos cinemas no final do ano.

Assista ao trailer: Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS

janeladatela@gmail.com