![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxQT4arJfVpvE1C3jwl8hvsUh6tXDsf8jRhNbDr2v93BrJdAyhpoOMM4IMZkraJ75S6IIvFDX2jPNhUCzUyMT0qo2Yrk6226CEUoLQFxTQPj2Zs1qMTJmJRNLa7pUyU25DMXXzeVXUdDkUZrVzzMCCs6RL-yk5zuwo7J-N-PpRUGxzcsgUMdMvm1vcqxL0/w581-h407/R6_0079_IMAX_R34_01_V01_DKP_bt1886.0003665.tif)
Uma certa
tendência à grandeza e grandiloquência, marca registrada na quase totalidade da
obra de Christopher Nolan, está ostensivamente presente nas três horas de
duração do drama histórico Oppenheimer (Oppenheimer, 2023). A
cinebiografia do físico J. Robert Oppenheimer, que passou à História como “pai
da bomba atômica”, transita do universo quântico das partículas subatômicas até
a vastidão do globo terrestre e além. Uma viagem que coloca o espírito humano à
prova em sua eterna busca pela dominação das forças que regem a natureza. O que
Albert Einstein teorizou, Oppenheimer colocou em prática, inaugurando uma nova
Era para a humanidade.
Anos 40. Segunda
Guerra Mundial. Os alemães nazistas avançam nas pesquisas para desenvolver uma
arma nuclear. Caso fossem vitoriosos neste experimento bélico a Alemanha se
tornaria incontestavelmente invencível, e a conquista global seria um fato
inevitável. Este é o cenário que dá o ponto de partida do filme de Nolan. Os
Estados Unidos, inicialmente neutros no conflito, após o ataque japonês à Pearl
Harbor, foram induzidos a abandonar a isenção e mergulhar de cabeça na guerra que
colocava em risco a liberdade na Europa, particularmente do aliado Reino Unido.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCjAhEF3R8icV0MSsUC9TpPwdKjXG5AtEomigubz3E0oFFyUiXUqDAPOSsaowpF7ggaxJSM1eXeycdKdiuvBB_pyhqDRz45p0Zwmo7TEDiPkWAFPA0z4I4oTZaNMZQFPG6d5OKWn8InyDzphi4GFcqm2MDqhN2RV0xIvO1z1EdEbmlfXxtcNl4Ri9M3ZfR/w557-h313/ezgif-1-85db249b8c_1687370385423_1687370392138.jpg)
A risco da criação
pelos alemães de uma bomba a partir da fissão nuclear acelerou a pesquisa
científica dos norte-americanos. Assim surgiu o secretíssimo Projeto Manhattan,
liderado pelo Oficial do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, Leslie
Groves (Matt Damon), e o físico teórico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy).
Os cientistas e físicos mais destacados dos EUA foram convocados para se
dedicarem em tempo integral ao desenvolvimento daquela que seria a primeira
bomba atômica do mundo. Para tanto ficaram isolados por três anos em uma cidade-laboratório
especialmente construída em Los Álamos, no meio do deserto do Novo México. O
final desta história sabemos todos: a bomba atômica foi desenvolvida, mas não a
tempo de ser utilizada contra a Alemanha nazista, que assinou rendição antes,
diante das Forças Aliadas que invadiram Berlim. Mas, a Segunda Guerra
prosseguia no front asiático, especialmente com o Japão, que se recusava a
depor armas. Após um bem sucedido teste no deserto (uma sequência primorosa),
poucos dias depois as duas primeiras bombas atômicas foram lançadas sobre as
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.
Uma das críticas
contumazes atribuídas aos filmes de Christopher Nolan é que eles despendem
muito esforço narrativo ao tentar explicar em demasia determinadas situações
e/ou aspectos técnicos com diálogos por demais expositivos. Há em Oppenheimer
uma reversão de expectativa neste sentido. Por mais que as questões da física
quântica e nuclear sejam estranhas aos leigos – portanto, exigissem uma
abordagem mais didática -, o fato é que desta vez o realizador mostra-se mais
comedido. É inclusive econômico nas explicações científicas. Mantem-se na
exposição dos conceitos básicos, suficientes para a compreensão essencial do
espectador, que acaba conectando-se ao drama pelo o que ele tem de conflito
moral, e não pelo o que oferece em termos de ciência. Esta decisão favorece
nossa empatia com a batalha pessoal e os dramas de consciência do protagonista.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZGxVQk3wtXZdBQYC6uUEdgnhP48FFtTutBY7eQFUG0So6z7qiaK1DPfz9rvcRbQu3nn3fMCaYaJ-IHHlMZtqeweDIySWn__2bSqbXvB6AXH0S6kfkxV_1iLgU6TIwhUrRZymTNgEAO3AMrN7MYrNhvDHzYVv501RN-kzZ3RWKD3ZJA7WugDCzNSDHHM24/w534-h374/KK%20EN%2091%207949%205863_04_r6a_168g_1_ew_ip_v001_imax_bt1886.0000993.tif)
Oppenheimer opera em quatro
abordagens distintas que se alternam ao longo das já citadas três horas de
duração. Há em cena, simultaneamente, com pesos relativamente equilibrados e
linhas temporais próprias (como em Dunkirk), uma empolgante narrativa de
experimento científico, uma ágil trama de espionagem industrial, um emocionante
drama político e um comovente drama pessoal com toques de tragédia. Embalando
tudo, com muita criatividade estética, qualidade técnica e sensibilidade
artística, uma irretocável percepção de espetáculo de entretenimento que
Christopher Nolan já demonstrou em muitas oportunidades.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSGcXEeE-4MPMSuwQR529huuvVj9t-w2D6PO-TPWHBrhLjBb23MnTuBF-rJYbUTX4f5Lv3i_YZjiVjlBeTkKMQBNWtDqI1x76_U53W09TO-T6gNo0uf2pxTGVWRDmtF3rXXmaA4otoPDe4v_xZEYLI27DRBtvJ-FpJLM-UuhcRwipwKAIN4obFt4Yesp1t/w551-h367/GF-13457_MSG.jpg)
Isento de
posicionamento moral, Oppenheimer, o filme, reflete em essência a
incógnita que é Oppenheimer, o homem. O renomado físico era uma figura dúbia,
controversa, com viés de vaidade mal disfarçada. Oppenheimer é um sedutor
exercício de imersão sensorial e estética, que apresenta um belíssimo painel de
um período histórico conturbado, cujas consequências abriram as portas para a
Guerra Fria, que perdurou por cerca de quatro décadas.
Uma curiosidade: o
Projeto Manhattan já havia sido tema de um filme em 1989, chamado O Início
do Fim (Fat Man and Little Boy), dirigido por Roland Joffé (de Os Gritos
do Silêncio e A Missão). O papel do Oficial militar Leslie Groves,
vivido por Matt Damon no filme de Nolan, foi interpretado por Paul Newman no
filme de Joffé.
Assista ao trailer: Oppenheimer
Jorge Ghiorzi /
Membro da ACCIRS
janeladatela@gmail.com