Lançada pela
Mattel em 1959, a Barbie foi a primeira boneca a representar uma mulher adulta.
Até então a indústria só produzia bonecas representando bebês, estimulando nas meninas
crianças a crença de que o papel de mãe seria o único destino possível para as
mulheres na vida adulta – a propósito, esta ideia é brilhantemente mostrada na
criativa sequência de abertura. A chegada da Barbie foi um sucesso absoluto, uma
revolução que mudou o mercado para sempre. A grande sacada viria um pouco mais
adiante, quando a Mattel lançou as diversas versões da Barbie, com seus
respectivos acessórios: a médica, a executiva, a jogadora de tênis, a
bailarina, a top model e outras tantas. Um universo próprio foi criado e
fechado em torno das Barbies, inclusive com direito a um “namorado” de ocasião,
o Ken.
É exatamente neste
ponto da História que inicia a estória da versão cinematográfica live-action,
Barbie (Barbie, 2023), dirigida pela cult e descolada Greta Gerwig
(Francis Ha, Lady Bird e Adoráveis Mulheres), com roteiro escrito
em parceria com o companheiro Noah Baumbach.
O dia amanhece na
Barbilândia, o mundo perfeito onde vive a bela Barbie (Margot Robbie). O sol a
pino é um convite para ir à praia, curtir, rir e dançar com as amigas, as outras
“Barbies”. Enquanto elas se divertem pra valer, como se não houvesse amanhã,
Ken (Ryan Gosling), e os demais “Kens”, ficam fazendo poses exibicionistas para
atrair a atenção das meninas. Esse era um dia normal na Barbilândia, até que o
inesperado acontece. Nossa heroína Barbie descobre, para seu espanto absoluto,
que algo profundamente errado não está certo, quando surgem alguns pequenos probleminhas
mundanos em seu corpinho irretocável. Aconselhada pela boneca “doida” do pedaço,
Barbie decide sair de Barbilândia e partir para o nosso mundo real em busca da
solução para seus problemas. À tiracolo, o vaidoso Ken embarca também nessa
viagem. O que se imaginava acontece: os dois mundos, com suas realidades e
regras muito diferentes, colidem e o caos se instala.
A Barbie
apresentada por Greta Gerwig é uma Barbie pós-moderna, como pede os tempos revisionistas
atuais. Ainda que em seus primeiros momentos a personagem reproduza modelos
tradicionais de comportamento, a evolução da consciência da boneca é o grande
arco dramático a que o filme se propõe. O mesmo ocorrendo com Ken, que inicialmente
reforça o estereótipo machista e patriarcal, até a esperada desconstrução da
figura masculina.
Sim, Barbie
é uma produção essencialmente feminina e feminista, com uma pegada crítica
mordaz, mas sem abrir mão da leveza e do humor, em favor de uma agenda que está
longe de ser panfletária. Trata-se de um grande produto da indústria – com o
ônus e o bônus desta condição - mas o recado está lá, explícito na tela, para
quem quiser ver. A lamentar que o público infantil, que deverá lotar as salas
de cinema, não tenha ainda o alcance necessário para a compreensão plena das
referências e do posicionamento político e social proposto pelo filme.
Barbie acerta em cheio
na concepção visual, na estética e na dinâmica das personagens, que transforma
um “mundo de boneca” em uma divertida e multicolorida aventura live-action
com gostinho de sessão da tarde.
Assista ao trailer: Barbie
Jorge Ghiorzi /
Membro da ACCIRS
janeladatela@gmail.com
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