A tragédia e o resgate
dramático de um time adolescente de futebol preso em uma caverna inundada na
Tailândia, ocorrido em 2018, atraiu a atenção da mídia internacional e comoveu
o mundo inteiro. O episódio durou nove dias e apresentou lances emocionantes, quase
inacreditáveis, como se fosse um filme transcorrendo na vida real em tempo real,
sob os olhos atentos do planeta. Passados quatro anos, aquela incrível história
ganha uma versão para o cinema, pois essencialmente o caso continha todos os
elementos de uma narrativa ficcional com final feliz. Além, é claro, de fazer
um devido reconhecimento ao trabalho heroico das equipes de resgate.
O caso é bastante
conhecido e recente, mas não custa relembrar brevemente. Um time de futebol (os
“Javalis Selvagens”) formado por 12 meninos (de 11 a 17 anos) e seu treinador (de 25
anos) da província tailandesa de Chiang Rai faziam um passeio na caverna Tham
Luang, para se proteger do mau tempo. Logo a chuva ficou mais intensa e a água
subiu muito rápido, deixando o grupo preso no local. As fortes chuvas inundaram
a caverna e o grupo foi dado como desaparecido. As operações de busca começaram
no mesmo dia, mas o nível da água dificultava o acesso das equipes de resgate.
Grandes tragédias
costumam ser matéria prima para tratamentos ficcionais pelo cinema. Como
exemplos podemos citar o caso dos sobreviventes dos Andes (Vivos) e dos mineiros chilenos soterrados (33). À frente desta adaptação cinematográfica da história dos
garotos tailandeses está o diretor Ron Howard, um artesão clássico de
Hollywood, já escolado por levar às telas outras histórias reais como Apollo 13, Uma Mente Brilhante (vencedor do Oscar de Melhor Filme), A Luta Pela Esperança, Frost / Nixon, Rush e Era Uma Vez Um Sonho.
Realizado com investimentos
e coprodução tailandesa, Treze Vidas – O Resgate (Thirteen
Lives) foi filmado em locações reais e é parcialmente falado em tailandês, o
que, em termos de produções norte-americanas, representa uma concessão pouco
usual. A decisão de filmar em espaços e cavernas reais – um pesadelo logístico
pelas dificuldades que impõe – foi decisiva para a construção do clima claustrofóbico
essencial para representar a tensão constante que permeia a ação dramática.
Esta decisão,
acertada no que refere à ambientação do filme, que assegura um realismo
dificilmente alcançado em estúdio, ganha ainda mais força pela forma como Ron
Howard e o roteiro abordaram a história. A narrativa de Treze Vidas basicamente tem apenas o ponto de vista externo da
tragédia na caverna, envolvendo mergulhadores, socorristas, familiares e
políticos, em uma pouco sutil disputa por protagonismo. O outro lado da
história, os garotos sobrevivendo ao medo, à fome, ao frio, pouco é mostrado. Esta
face da história é sonegada a nós, espectadores. No entanto isto só reforça o
senso de urgência e potencializa a angústia de uma situação extrema.
A direção de Ron
Howard é sóbria e reverente ao sofrimento das crianças e suas famílias,
verdadeiros protagonistas. E aqui vale uma palavra para os desempenhos contidos
e respeitosos de Viggo Mortensen e Colin Farrell que interpretam mergulhadores britânicos
voluntários que se juntam aos grupos de resgate criados pelo governo da
Tailândia. Os atos heroicos dos dois mergulhadores – dentre eles a elaboração
do incrível plano de resgate – são mostrados com um realismo quase documental e
sustentam o interesse por mais de duas horas de filme.
Treze Vidas é um resgate de uma história de
superação e celebração do espírito humano, realizado com correção e inspiração.
Assista ao trailer: Treze Vidas – O Resgate
Jorge Ghiorzi / Membro
da ACCIRS