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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Missão: Impossível – O Acerto Final: o fim de uma era?

 

O último capítulo da saga Missão: Impossível é superlativo em suas ambições, não apenas nos riscos físicos e na ação vertiginosa que consolidaram sua marca, mas na ousadia narrativa de fragmentar seu desfecho em duas partes. A confiança absoluta no conceito levou os produtores a uma aposta audaciosa: desdobrar a missão final de Ethan Hunt em dois filmes seriados, estratégia que, em 2023, revelou apenas a primeira metade de um quebra-cabeça repleto de espetáculo. Se Acerto de Contas – Parte 1 apostou em um tom introspectivo, explorando as consequências das escolhas passadas de Hunt, Missão: Impossível - O Acerto Final (Mission: Impossible - The Final Reckoning) redireciona o foco para o espetáculo puro, em detrimento da profundidade. As sequências de ação, meticulosamente coreografadas, reafirmam o compromisso da franquia com o cinema prático, mas a divisão em duas partes levanta uma questão crucial: haveria substância suficiente para justificar a extensão, ou o desfecho sucumbe ao peso de suas próprias expectativas?

O Acerto Final dá continuidade ao cliffhanger explosivo do filme anterior, que deixou Ethan Hunt e a IMF à deriva. Após falharem em interceptar a chave que controla a Entidade (a IA renegada), o mundo mergulha em um caos invisível. Governos não confiam em seus próprios dados, aliados se tornam suspeitos e a ameaça de uma guerra nuclear paira no ar. Gabriel (Esai Morales), operador da IA, surge como um profeta do colapso, enquanto a missão de Hunt se concentra em recuperar o código-fonte capaz de neutralizar a Entidade — escondido em um submarino nuclear russo desaparecido em águas geladas e território disputado.

Se confirmado como o último capítulo, O Acerto Final marca o fim de uma era para uma das franquias de ação mais resilientes — e consistentes — do cinema contemporâneo. A dupla Acerto de Contas (7º filme) e O Acerto Final (8º filme) funciona como um épico de despedida, elevando a escala da série a patamares quase operísticos. A sensação de conclusão é trabalhada com nostalgia deliberada: desde os créditos iniciais, que revisitam cenas icônicas como a invasão ao cofre da CIA em Missão: Impossível (1996) ou a queda livre em Efeito Fallout (2018), até o resgate de personagens-chave como Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), cuja química com Hunt evoca décadas de parceria. Até Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), cujo destino ambíguo no filme anterior gerou polêmica, recebe um arco que encerra não apenas sua história, mas um ciclo de sacrifícios e redenção.

A direção de Christopher McQuarrie reforça esse tom de despedida com sequências que ecoam a mitologia da franquia: o trem em alta velocidade remete ao primeiro filme, enquanto os combates corpo a corpo revisitam a brutalidade de Efeito Fallout. Até o vilão Gabriel, com seu fatalismo filosófico, surge como antítese definitiva de Hunt, encapsulando o conflito entre dever e humanidade que sempre permeou a série. Em um momento especialmente simbólico, a sombra de Jim Phelps (Jon Voight) ressurge — um lembrete de que toda a jornada de Hunt começou com uma traição e talvez termine com uma última escolha entre missão e família.

O Acerto Final transcende o blockbuster convencional. Nas entrelinhas, o filme dispara um alerta sobre os perigos da inteligência artificial descontrolada — tema que ressoa com urgência em nossa era digital. A trama, envolta em conspirações high-tech, reflete as próprias inquietações de Tom Cruise, um crítico ferrenho da desumanização do cinema. Cada cena prática, cada façanha sem dublês, é um manifesto silencioso contra a substituição do real pelo virtual. Enquanto Hunt enfrenta uma IA para salvar o mundo, Cruise trava nos bastidores sua própria batalha pela preservação do cinema como experiência visceral. A franquia mantém sua tradição: sequências de ação espetaculares, com Cruise arriscando-se pessoalmente e um uso comedido de CGI. Em O Acerto Final, a perseguição aérea com aviões bimotores analógicos é um tributo ao cinema de raiz — onde criatividade superava limitações tecnológicas. É um espetáculo que homenageia o passado enquanto desafia os limites do presente.

Missão: Impossível – O Acerto Final é um epílogo digno, ainda que imperfeito. Se por um lado recorre excessivamente a flashbacks e referências nostálgicas, por outro eleva o espetáculo a níveis estratosféricos, equilibrando ação vertiginosa com um olhar melancólico sobre o fim da jornada. O filme encerra com um clima de festa que se despede, mas deixa a porta entreaberta — talvez para novas missões, talvez para um novo capítulo sem Cruise. Seja como for, Ethan Hunt entra para a história como o espião que tornou o impossível uma possibilidade, tanto na tela quanto nos bastidores.

Assista ao trailer: Missão: Impossível – O Acerto Final


Jorge Ghiorzi

Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)

Contato: janeladatela@gmail.com  /  jghiorzi@gmail.com

@janeladatela


quarta-feira, 12 de julho de 2023

Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um: o auge da franquia

 

Depois de salvar as salas de cinema atraindo multidões no momento crítico de retomada da atividade na pós-pandemia, com o mega êxito Top Gun: Maverick em 2022, Tom Cruise assumiu para si uma nova missão: revitalizar os filmes de ação, sufocados pela avassaladora invasão dos universos dos super-heróis e pelo impasse criativo do gênero que se perdia em fórmulas vencidas. Então, missão dada é missão cumprida. Cruise injetou doses maciças de adrenalina na franquia Missão: Impossível, especialmente a partir dos três últimos episódios. O 7º capítulo acaba de chegar aos cinemas. Além de colocar a série em seu ápice, transforma a saga de Ethan Hunt e sua IMF (ainda longe de encerrar) em um marco do cinema de entretenimento contemporâneo, que se supera a cada novo capítulo. Algo que a franquia Indiana Jones teve todas as oportunidades para ser, mas se perdeu pelo caminho. Mas isso é outra conversa.

Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um (Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One) é o terceiro trabalho de direção de Christopher McQuarrie na franquia (os anteriores foram Nação Secreta, em 2015, e Efeito Fallout, em 2018). Seguindo o padrão da série, a equipe do IMF, formada por Ethan (Tom Cruise), Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), Benji Dunn (Simon Pegg) e Luther Stickell (Ving Rhames), é mais uma vez convocada para entrar em cena para impedir que uma aterrorizante arma tecnológica caia em mãos erradas, o que representaria uma ameaça de âmbito global com risco para toda a humanidade. Na corrida frenética e perigosa da equipe ao redor do mundo Ethan ainda é confrontado com um inimigo misterioso e mortal, um velho conhecido do passado, com o qual tem um acerto de contar a fazer.


A trama de MI7 lida com ameaças e perigos da Inteligência Artificial, ou seja, o excesso do uso da tecnologia que está imbricada em todos os momentos e situação do nosso dia a dia cada vez mais conectado. O subtexto do filme de Christopher McQuarrie (também roteirista) traz uma crítica a este uso e submissão excessiva à tecnologia que nos controla. É possível que neste posicionamento o filme reflita um pouco do posicionamento pessoal de Tom Cruise, um crítico contumaz do streaming, por exemplo. Neste contexto, não deixa de ser emblemático que o grande MacGuffin da narrativa é uma prosaica e analógica chave, um objeto suficientemente simbólico e representativo por si só, que contrasta com a tecnologia de ponta apresentada no universo do filme.

Como qualquer MacGuffin que se preze, a tal chave troca de mão em mão, entre os vilões e mocinhos da trama. O que nos leva a uma vertiginosa viagem proposta por MI7. Do deserto do Marrocos às ruas e vielas de Roma e Veneza, de um movimentado aeroporto em Abu Dhabi às planícies geladas da Áustria. Em cada uma das etapas temos uma unidade de ação praticamente independente, como se McQuarrie propusesse pequenos minifilmes, como fossem fases de um grande videogame em evolução.


Ao longo dos sete filmes da série MI a personagem de Tom Cruise foi evoluindo e agregando novas camadas e nuances em sua personalidade. De um espião quase ingênuo, no primeiro filme dirigido por Brian De Palma em 1996, até se transformar no destemido e voluntarioso agente dos filmes mais recentes, Ethan Hunt, no entanto, preserva seus maiores valores, a lealdade com seus companheiros e sua eterna suspeita com as reais intenções dos dirigentes políticos e forças que dizem lutar pela liberdade. Diferente do realista, trágico e rancoroso agente James Bond da fase Daniel Craig, por exemplo, o Ethan Hunt de Tom Cruise segue por um caminho mais dinâmico e visceral, o tipo de herói com o qual a plateia se identifica e pelo qual torce e vibra a cada sequência. Neste aspecto, MI7 não deixa dúvida.


Para os cinéfilos há pelo menos duas referências cinematográficas saborosas e saudosistas que não podem passar em branco. Uma delas é um tributo à célebre e icônica sequência do salto de moto de Steve McQueen em Fugindo do Inferno (1963). A outra é uma homenagem ao primeiro filme da série Missão: Impossível, com uma sequência vertiginosa de um trem em alta velocidade por um túnel.


Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um é um filme de ação superlativo. Uma aventura empolgante que faz o tempo voar, sem exaustão, por suas quase 3 horas de duração. E pensar que apenas acabamos de assistir metade da história, inconclusa nesta primeira parte. A sequência e o desfecho só veremos, a princípio, em 2024. Então, que o tempo voe até lá.

Assista ao trailer: Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS

janeladatela@gmail.com