Ainda que sujeitas a críticas, suspeitas, falhas,
omissões e injustiças, o fato é que as listas são questionáveis já por
definição. Ao ambicionar o ordenamento do juízo de valores, sejam eles positivos
ou negativos, uma lista necessariamente sempre lida com o imponderável elemento
subjetivo de uma avaliação particular. No entanto, ainda assim, não há como
negar o irresistível apelo que elas, as listas, provocam. Ao concentrar uma
imensa carga de informação, as listas fazem todo sentido nesses tempos de
avassaladores volumes de conteúdos dispersos (por vezes desconexos) a que somos
submetidos diariamente. Separar o joio do trigo é uma tarefa que devemos nos
impor diariamente. E, convenhamos, uma lista facilita demais este trabalho.
Dito isto, vai uma ótima notícia para os cinéfilos
interessados no cinema brasileiro. Os principais críticos de cinema do Brasil
consolidaram uma oportuna e necessária lista dos 100 melhores filmes
brasileiros de todos os tempos. A grande virtude da iniciativa é a diversidade
da avaliação, que não ficou limitada ao campo apenas dos longas-metragens e nem
restrito ao universo dos filmes de ficção. Tratou-se da produção brasileira
como um todo, independente de gênero, forma ou bitola. Some-se a esta amplitude
a origem dos votantes. Participaram críticos de cinema de todas as regiões do
país, todos eles integrantes da “Associação Brasileira de Críticos de Cinema”
(Abraccine).
O resultado final da votação resultou no livro 100 Melhores Filmes Brasileiros (Letramento) que publicou textos críticos/analíticos de cada um dos filmes,
contextualizando sua origem, seu valor fílmico e sua importância na história da
produção cinematográfica do Brasil em seus 120 anos de existência. O critério
de redação dos textos foi simples: cada filme, um crítico. O resultado é um
amplo panorama do cinema brasileiro onde constata-se a consolidação de alguns
títulos unanimemente reconhecidos, ao lado de outros tantos que ganham uma
projeção que não tiveram na época de seu lançamento e também alguns resgates
históricos de obras que pareciam relegadas ao esquecimento.
Ao percorrer a lista, desde o 1º colocado
(Limite, de Mário Peixoto) até o 100º filme (Meteorango Kid, Herói
Intergalático, de André Luiz Oliveira), através das excelentes críticas, o
leitor pode ficar certo de estar fazendo uma incrível viagem pelo o que de
melhor o cinema brasileiro já produziu. Ainda que, com as ressalvas já feitas,
uma lista sempre ofereça motivos para eventuais questionamentos justamente por
não ser resultado de um experimento científico, mas sim fruto de uma reflexão
específica, momentânea, sujeita ao tempo e espaço onde nascem. Assim, por este
viés, entende-se que cerca de um terço dos filmes selecionados foram produzidos
nos últimos 20 anos.
Claramente isto representa uma questão geracional
que se manifesta pela predominância de uma grande presença de críticos mais
jovens em detrimento da “velha guarda” da crítica brasileira. Mas,
absolutamente isto não invalida nem contamina de forma injusta e comprometedora
o resultado final da votação. É louvável e muito bem-vinda esta iniciativa e
sua construção, ao longo do tempo, certamente pode ser revista, ajustada e
reavaliada. Parabéns à Abraccine pela iniciativa e aos críticos pela virtuosa e
abrangente seleção e seus fantásticos textos. O cinema brasileiro agradece. E
aos cinéfilos, um recado final: vejam os filmes e leiam o livro.
(Texto originalmente publicado no portal “Movi+” em novembro de 2016)
(Texto originalmente publicado no portal “Movi+” em novembro de 2016)
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