domingo, 30 de junho de 2019

“Desejos”: triângulo amoroso no divã


DESEJOS (Final Analysis, EUA, 1992)
Direção: Phil Joanou
Elenco: Richard Gere, Kim Basinger, Uma Thurman, Eric Roberts

O divã já não é mais o mesmo. De local reservado para aqueles que buscam apoio de psicanalistas, ele passou a ser utilizado como pretexto ou cenário para cenas de amor e paixão envolvendo terapeutas e pacientes. Pelo menos é isto que alguns filmes recentes (1992) produzidos em Hollywood mostram. Este é o caso, por exemplo, de O Príncipe das Marés, dirigido e estrelado por Barbra Streisand, e o polêmico Instinto Selvagem, de Paul Verhoeven. Os dois filmes trazem psiquiatras (femininas) que acabam por namorar seus pacientes, substituindo (ou seria confundindo?) as confidências terapêuticas por confidências amorosas. O código de ética da profissão recomenda que não haja relacionamento amoroso entre psiquiatras / psicanalistas e os pacientes que tratam. Mas, quem disse que esta ética do mundo real deveria ser seguida à risca no mundo da ficção de Hollywood? Afinal, amores proibidos sempre esquentam os romances, seja nas telas ou nos livros.

Outro exemplar desta safra erótico-psiquiátrica é este Desejos, onde o personagem central é um psiquiatra as voltas com os problemas de uma paciente muito complicada e não menos misteriosa. A figura do psiquiatra, na maior parte dos filmes, sempre é tratada como uma personagem secundária. Raramente são protagonistas de uma história, pois sua presença nas tramas normalmente se limita a sequências isoladas, com impacto limitado no desenvolvimento dos enredos.

Mas este não é o caso de Desejos. Aqui o psiquiatra Isaac Barr, vivido por Richard Gere, é o foco central da narrativa deste thriller de suspense. Ele é um respeitado e bem sucedido profissional que ao tentar interpretar os sonhos de uma paciente, Diana Baylor (Uma Thurman), acaba por se envolver com a irmã, Heather Evans (Kim Basinger). À medida que as confidências de Diana vão sendo relatadas no divã, o psiquiatra, a pretexto de melhor conhecer a paciente, inicia um relacionamento com a irmã. O que parecia apenas um caso amoroso acaba por se transformar numa trama de adultério e assassinato. Neste triângulo de paixões nem tudo é como parece ser à primeira vista. As aparências enganam e os desejos não confessados jogam os personagens num jogo perigoso.


Este filme marca a volta à telas da dupla Richard Gere e Kim Basinger. A primeira vez foi em Sem Perdão (No Mercy, 1986), cujo resultado ficou aquém do que se poderia esperar levando-se em conta peso dos nomes. Naquela oportunidade o encontro das duas estrelas não provocou o frisson esperado, ficaram devendo. Este desejo foi então adiado para este Desejos, que teve mais sorte no resultado final. Este é um eficiente trabalho do jovem realizador Phil Joanou, que dirigiu também o documentário Rattle & Hum com o grupo U2. Sem dúvida a química da dupla desta vez funcionou plenamente. Muito contribuiu para isto o roteiro ágil e cheio de reviravoltas, escrito por Wesley Strick, o mesmo de Cabo do Medo e Batman – O Retorno.

Assista o trailer: Desejos

(Texto originalmente publicado no jornal “Correio Lageano” (Lages – SC) / Julho de 1992)

Jorge Ghiorzi

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