O
diretor Steven Soderbergh surgiu no cinema com o explosivo e polêmico (à época)
Sexo, Mentiras e Videotape (1989), um marco do cinema independente que
lhe rendeu aclamação precoce. Desde então, construiu uma carreira errática,
alternando entre projetos autorais e obras de entretenimento — sempre com
traços de inteligência acima da média, mas sem consolidar uma assinatura
autoral definitiva. Sua marca, se é que existe alguma a ser destacada, é a
versatilidade: um cineasta prolífico que transita entre muitos gêneros, do
thriller ao drama, do experimental à comédia, da ficção científica ao policial.
Em pouco mais de 40 anos de carreira, Soderbergh já dirigiu mais de 50 filmes,
dividindo sua produção entre cinema e TV Neste ano de 2025 já estreou no Brasil
seu drama de espionagem Código Preto. Agora, poucas semanas depois,
Steven Soderbergh, volta aos cinemas com mais um lançamento: o thriller de
horror Presença. (Presence, 2024). Nestes dois trabalhos o
diretor repete um de seus vícios mais frequentes: o excesso de estilo em
detrimento da substância narrativa.
Com
roteiro de David Koepp (também autor de Jurassic Park, O Pagamento
Final, Missão: Impossível I e O Quarto do Pânico) o filme
apresenta o casal Rebekah (Lucy Liu) e Chris (Chris Sullivan) que se muda para
uma nova casa com seus dois filhos Chloe (Callina Liang) e Tyler (Eddy Maday).
Uma perda chocante no passado afeta Chloe, que juntamente com os demais membros
da família busca restabelecer a normalidade. Aos poucos, porém, começa a
perceber que naquela casa há uma “presença” invisível que observa todos os
movimentos da família. Na sequência, eventos perturbadores assustam e ameaçam
todos moradores da casa.

O
filme se apoia em uma história em primeira pessoa, onde a câmera assume o papel
de um espírito aprisionado em uma casa vazia. A movimentação peculiar do
equipamento não é mero exibicionismo técnico, mas um recurso narrativo que
busca fluidez e a ilusão de tempo real — artifício para expressar a percepção da
verdadeira protagonista (uma entidade sobrenatural). Diferente de filmes que
simulam a ausência do invisível, Presença o torna explícito, quase
tangível, guiando a ação como um voyeur ativo. O clima remete a Poltergeist,
mas com o adendo de oscilar entre o físico e o metafísico, sem, no entanto,
mergulhar profundamente em nenhum dos lados. O que resulta em uma tremenda
deficiência do filme de Steven Soderbergh.

A
trama também esboça uma crítica ao descompasso entre pais e filhos em um mundo
hiperdigitalizado, tema relevante, porém tratado de forma superficial. Como em
grande parte da filmografia do diretor, há ideias interessantes, mas executadas
com frieza emocional. Os planos-sequência — embora eficazes para imersão —
tornam-se repetitivos, e a narrativa perde força por conta de uma trama que não
consegue sustentar a curiosidade inicial.

Presença é
um filme mediano que não oferece uma efetiva experiência significativa, seja
como horror ou seja como suspense. A premissa, que empolga nos primeiros
momentos, logo se torna redundante, repetitiva e perde seu apelo. Falta consistência
na trama e envolvimento emocional para sustentar o interesse. Apesar da técnica
precisa e da proposta conceitual válida, a experiência não empolga: falta
tensão genuína, desenvolvimento de personagens e um clímax satisfatório.
Soderbergh mais uma vez demonstra habilidade como artesão, mas falha em
entregar algo além de um exercício estilístico vazio. O espectador fica com a
sensação de ter assistido a um experimento formal interessante, porém
esquecível.
Assista ao trailer: Presença
Jorge Ghiorzi
Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de
Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do
Sul)
Contato: janeladatela@gmail.com /
jghiorzi@gmail.com
@janeladatela
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