A
escritora de romances de espionagem, Elly Conway (Bryce Dallas Howard), conta, em
uma série de livros de sucesso, as aventuras do agente secreto Argylle (Henry Cavill)
em perigosas missões contra um sindicato global de espionagem chamado “Divisão”.
As tramas criadas pela imaginativa autora começam a atrair a atenção de
agências reais de espionagem, pois refletem e antecipam com muita precisão
ações verídicas. Então, seu mundo vira de pernas pro ar quando a linha entre o
real e a ficção começa a ficar bem confusa e sua vida passa a correr risco.
A
premissa não é original. Já vimos, com resultados distintos, algo semelhante em
filmes como O Magnífico (1973) com
Jean-Paul Belmondo, Tudo Por Uma
Esmeralda (1984) com Kathleen Turner e o recente Cidade Perdida (2022) com Sandra Bullock. Usualmente, e em Argylle
– O Superespião (Argylle) não é diferente, a figura da escritora é
sempre uma personagem reclusa, fragilizada e emocionalmente carente que vira o
jogo usando como chave as próprias aventuras que cria como ficção. Uma espécie
de terapia radical que coloca à prova todos seus medos e receios diante da
vida.
Quando
os dois mundos se entrelaçam, o universo do livro invade o mundo real e pessoas
do mundo real ganham versões ficcionalizadas. O vai-e-vem do enredo enreda a
plateia e convida para uma movimentada aventura que opera em dois níveis. Aliás,
recomenda-se a atenção do espectador, sob pena de perder o fio da meada lá
pelas tantas. Quem diria, hein? A “Dama na Água” em pessoa, Bryce Dallas
Howard, depois das correrias sem fim da franquia Jurassic World, pagando de heroína de filme de ação e espionagem.
Entre caras, bocas e gritos, a verdade é que Bryce está muito bem e convence no
papel. E, como bônus, garante lugar no pódio das scream queens (rainhas do grito) da atualidade.
Seu
parceiro de aventura, o agente Aidan, é interpretado com muita graça por Sam
Rockwell. Pois está aí um ator que merece melhor sorte no atual panorama das
produções de Hollywood. Apesar de já ter ganho o Oscar de Ator coadjuvante por Três Anúncios para um Crime (2017), ele
ainda não ganhou um papel de grande visibilidade como protagonista. Além da
presença de Bryan Cranston, Catherine O’Hara e o onipresente Samuel L. Jackson,
completam o elenco de Argylle duas participações luxuosas: a cantora Dua
Lipa, em sua estreia como atriz, com um papel coadjuvante bem bacana, e Henry
Cavill, exercendo o “modo on” de canastrice (no que se sai muito bem, a
propósito).
A
direção é assinada por Matthew Vaughn, líder criativo por trás de duas
franquias: Kingsman e, sim, Argylle (alguém dúvida que estamos
diante de uma nova franquia?) Será que lá adiante estes dois universos –
Kingsman e Argylle - haverão de se encontrar? Quem viver verá.
Como
comédia de ação, Argylle – O Superespião é criativo, imaginativo e um
delícia de assistir. Ainda que peque pela excessiva duração. Faria um bem
danado para o ritmo se fosse mais enxuto. Um destaque de encher os olhos é a
sequência do tiroteio slow motion em meio às nuvens de fumaça colorida.
Um delírio policromático de fazer inveja às sequências alucinantes e exageradas
dos filmes de ação de Bollywood.
Assista ao trailer: Argylle – O Superespião
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS – Associação de
Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul
Contato: janeladatela@gmail.com