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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O Jogo da Morte: terror viral


Por volta de 2010 surgiu, aparentemente pela primeira vez na Rússia, um desafio no formato de jogo virtual, chamado Baleia Azul, que rapidamente se popularizou entre os adolescentes. O propósito do “jogo” para os participantes era cumprir diversas etapas de desafios, todos relacionados a atos de automutilação e jogos de tarefas com atividades arriscadas e perigosas, com proezas que colocavam a vida dos jovens em risco. Muitos morreram por desafios que deram errado, ou induções ao suicídio. Um tema pesado, que circulou ou eventualmente ainda circula, pelos ambientes mais baixos e sórdidos da internet. 

Rapidamente o desafio da Baleia Azul foi aproveitado para a produção de filmes que pretenderam reproduzir este ambiente de horror. O primeiro longa de larga circulação sobre o jogo foi uma produção egípcia, lançada ainda em 2010. Agora, em 2024, chegou a vez de uma produção russa (terra natal do jogo) tratar do tema. O filme em questão apropriadamente se chama O Jogo da Morte. Na primeira impressão, parece apenas um título genérico para um filme de terror. Mas, levando-se em conta o assunto do qual trata, o título O Jogo da Morte está mais do que apropriado. 

No longa, dirigido pela cineasta russa Anna Zaytsevaa irmã da protagonista Dana comete suicídio ao se jogar na frente de um trem. Em busca de respostas que explicassem a tragédia, Dana decide vasculhar o computador da irmã e descobre que ela estava envolvida em uma espécie de brincadeira na qual era chantageada e obrigada a tomar atitudes drásticas, como se mutilar física e psicologicamente, entre outras tarefas. A partir dessa descoberta Dana entra também no jogo para descobrir a identidade do responsável chantagista que provoca as mortes dos participantes e impedir que ele faça novas vítimas. 


Para início de conversa, para não deixar nenhuma dúvida: O Jogo da Morte é simplesmente um filme exploitation construído sobre uma base verídica. Passa longe de qualquer desejo de se apresentar como uma produção que pretenda ser um alerta aos pais ou sequer faça críticas ao jogo. Ainda que, nos créditos finais, venha um recadinho sobre os riscos da brincadeira perigosa. Isto posto, vamos ao filme. 

O efeito voyeurístico proporcionado pela exposição de conversas privadas na internet funciona bem no primeiro ato do longa. Então passa a ser um tanto redundante aborrecido pela recorrência. Até tornar-se absolutamente repetitivo e falsamente verossímil no terceiro ato. Ao abusar e apostar todas as fichas em uma narrativa 100% focada no ambiente virtual, apresentando uma sucessão interminável de chats, conversas de texto e bate-papos on line, O Jogo da Morte força a mão para construir um suspense que nunca convence na jornada investigativa da protagonista pelo submundo da deep web


O objetivo de simular – estética e formalmente – o que viria a ser conversas reais de internet, o que justificaria a onipresente existência de uma câmera ligada registrando tudo, lá pelas tantas perde a mão. Algumas sequências e situações do filme são absolutamente improváveis de terem sido gravadas por câmeras de celular, pela simples razão de não haver razão objetiva (real) justificável para terem sido registradas. Então, lá se vai a suspensão de descrença da plateia e o filme naufraga sem salvação. 

Por fim, o que resta de O Jogo da Morte é a certeza de estarmos diante de um thriller de suspense e terror que busca apenas e tão somente o sensacionalismo barato. Não que o longa pretenda passar a ideia de estarmos diante de um registro verídico de caso do jogo da Baleia Azul. Ainda assim, para efeito meramente comparativo, podemos definir O Jogo da Morte como uma “versão” rasa do que poderia ser uma encenação pasteurizada de um “snuff film”, versão 2.0. Então fica a dica: ao escolher um filme chamado O Jogo da Morte para assistir, escolha o original, homônimo, estrelado por Bruce Lee, em 1978. 

Assista ao trailer: O Jogo da Morte


Jorge Ghiorzi

Membro da ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul

Contato: janeladatela@gmail.com