Refilmagem
do sucesso do cinema sueco, Além das Profundezas (Breaking surface,
2020), Sem Ar (The Dive, 2023) é rápido e objetivo. Vai direto ao
ponto, sem protelar a entrega do que se propõe. No caso, um tenso suspense, de
tirar o fôlego, com perdão do trocadilho involuntário.
De
imediato somos apresentados às duas irmãs protagonistas, que decidem fazer
mergulho recreativo em um lugar lindo e remoto. O que deveria ser um tranquilo
reencontro anual das irmãs, rapidamente se transforma em uma tragédia. Durante o
passeio uma delas fica presa em uma rocha, abaixo d’agua. Sem poder se mover,
ela ficará totalmente dependente de sua irmã que terá que lutar por sua vida
enquanto ela lida com um nível perigosamente baixo de oxigênio, ao mesmo tempo
em que busca desesperadamente por ajuda na superfície.
Produção
alemã, dirigida por Maximilian Erlenwein, Sem Ar teve suas locações no
arquipélago de Malta, na região central do Mediterrâneo. Como é comum em filmes
assemelhados, como A Queda, por exemplo, um fio de enredo sustenta a
encenação dramática, a começar com a relação um tanto conflitada, mas nunca devidamente
explicada, entre as irmãs. Uma questão mal resolvida no passado se manifesta
justamente no momento mais crítico da vida de ambas. Mas nada tão significativo
a ponto de suplantar o principal foco narrativo, que é a exploração do medo da
morte, a tensão máxima, o efeito de confinamento e a solidão extrema.
Sem
Ar
é, antes de tudo, claustrofóbico ao explorar a sensação imersiva e sensorial
que só um mergulho subaquático – e um passeio orbital – são capazes de
proporcionar. Os gatilhos do medo, disparados pelo receio da morte e da solidão,
são manipulados pelo filme, no mais das vezes, com bons resultados do início ao
fim.
O
artifício de incluir relógios, marcadores de tempo, e referências e informações
que demarcam a passagem do tempo, reforçam a aflição das personagens, e também a
nossa aflição, que compartilhamos em tempo real, pois a ação do filme
transcorre em paralelo ao nosso tempo real.
As
soluções de roteiro, casuísticas e por vezes um tanto forçadas, são
suficientemente convincentes a ponto de não comprometer a integridade da
narrativa. Sem Ar, ainda que em sua essência não saia do lugar comum e
carregue demais nos clichês dos filmes de sobrevivência, é um thriller de
suspense que dá conta do recado, se a expectativa não for muito alta. Uma
experiência de entretenimento a qual assistimos com algum prazer e sem dor.
Assista ao trailer: Sem Ar
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS – Associação de
Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul
Contato: janeladatela@gmail.com