terça-feira, 25 de julho de 2017
segunda-feira, 24 de julho de 2017
“Em Ritmo de Fuga”: corra baby, corra
Amplamente divulgado antes da estreia, os seis
minutos iniciais de Em Ritmo de Fuga (Baby Driver, 2017) funcionam como uma síntese
do que poderá ser assistido nos 110 minutos restantes. Está tudo lá: vilões
estilosos, carros velozes, manobras alucinantes, fugas espetaculares, montagem
empolgante, personagens cínicos, overdose de adrenalina e
trilha sonora de arrepiar. Apontado como uma das surpresas da temporada, o
filme de Edgar Wright (realizador de Todo
Mundo Quase Morto e Scott Pilgrim
Contra o Mundo) surge com o frescor de uma novidade mesmo que esteja
trilhando caminhos já tantas vezes utilizados em filmes de ação, tipo Velozes e Furiosos e outros tantos congêneres
de pouca grife. Não se trata evidentemente de uma reinvenção do modelo, mas com
certeza tem o mérito de oferecer uma repaginada no gênero que vinha há muito
tempo pecando pela repetição de uma fórmula reproduzida à exaustão.
O encanto do cinema pelas perseguições
automobilísticas vem de muito tempo. Desde a era do cinema mudo com os Keystone Cops os realizadores conhecem o
poder da energia cinética da velocidade das caçadas e fugas para seduzir as
plateias. Em Ritmo de Fuga segue esta
linhagem. Mas pisa no acelerador e avança um sinal. Sem olhar pra trás.
Após a abertura, já citada, sabemos que aquele
jovem que assume o volante do Subaru vermelho em fuga com assaltante a bordo,
após um roubo de banco, é habilidoso como poucos na direção, apesar da pouca
idade. Desligado do mundo ao redor, seus sentidos são impulsionados apenas pelo
rock furioso que ouve pelos fones de ouvido. O nome dele é simplesmente Baby,
interpretado por Ansel Elgort, conhecido por seu papel anterior em A Culpa É das Estrelas. A música
desempenha papel fundamental em todas as atitudes de Baby, e pontuam sua vida
em todos os momentos, esteja ou não em ação como piloto de fugas.
Um exemplo da presença ostensiva da música no DNA
do filme pode ser vista logo em seguida à cena inicial. Os créditos de abertura
foram construídos como um número musical que não ficaria feio em um La La Land, por exemplo. Pontuado por
uma versão da canção “Harlem Shuffle”, dos Rolling Stones, a abertura é um
criativo plano sequência pelas ruas de Los Angeles onde frases e palavras da
letra da música são exibidos parcial e discretamente em fachadas, letreiros e
luminosos, enquanto Baby, cheio de bossa, vai caminhando até uma cafeteria.
O jovem piloto, órfão de pai e mãe, trabalha para
um chefão do crime (Kevin Spacey) que nunca contrata o mesmo grupo de
criminosos para seus elaborados planos de roubos a bancos e agências dos
correios. Apenas Baby é fixo no grupo, graças a uma dívida do passado que o
garoto tem com o chefão. Dentre os parceiros de crime estão as figurinhas aterradoras
interpretas por Jamie Foxx e Jon Hamm (da série Mad Men). Preso a este compromisso de prestar serviço como piloto
de fugas, Baby não vê a hora de cair fora e viver uma despreocupada vida de
adolescente. E a situação fica ainda mais crítica quando ele descobre a paixão
de sua vida: uma doce e ingênua garçonete que desconhece sua vida dupla no
crime.
Em
Ritmo de Fuga apresenta
algumas das melhores perseguições automobilísticas já vistas nas telas. E olha
que a lista é grande e respeitável: Bullit;
Operação França; Viver e Morrer em Los Angeles; Ronin
e o recente Drive. A edição das
imagens frenética, porém não abusiva nem gratuita, segue o ritmo da trilha
sonora criando um ambiente sensorial extremamente empolgante. Edgar Wright foi
muito habilidoso em lidar com os elementos do filme de forma orgânica e crível,
sem o uso excessivo de recursos de computação gráfica.
Em relação aos personagens, a lamentar a subutilização
de Kevin Spacey. Ficamos na expectativa de que seu papel vá crescer na trama,
mas isto não se concretiza efetivamente. Quanto a Ansel Elgort sua assustada de
cara de bebê está bem adequada ao personagem, ainda que o papel não exija
grandes arroubos de interpretação, pois pouco interage com os demais (inclusive
é acusado de autista pelo personagem de Jamie Foxx). Baby só perde sua frieza e
ganha humanidade quando está em frente a sua namorada ou de seu mentor surdo e
mudo, uma espécie de pai adotivo, interpretado pelo simpático e cativante CJ
Jones.
Em
Ritmo de Fuga sai do lugar
comum para filmes de ação do gênero. É entretenimento de primeira classe e
diversão garantida. Senão pela trama, ou pelas eletrizantes sequências de
perseguição, com certeza pela trilha sonora que reúne mais de 40 canções,
muitos sucessos e algumas pérolas a serem redescobertas. Uma pena que a
distribuidora brasileira optou por um título tão genérico e pouco memorável. A
versão nacional perde toda a carga de significados que o título original
oferece.
quinta-feira, 20 de julho de 2017
sábado, 15 de julho de 2017
“O Espírito da Colmeia”: quando a fantasia constrói o real
Era uma vez. Assim iniciam as fábulas, os contos de
fadas e as histórias infantis. A frase remete imediatamente a fatos ocorridos
no passado. Reais ou imaginados. Mas certamente fantasiosos. É neste registro
narrativo que transcorre O Espírito da Colmeia (El espiritu
de la colmena, 1973), de Victor Erice, o estimado cult do cinema espanhol dos anos 70. Alegórico e simbólico, o filme
se passa na Espanha no ano de 1940. Naquele momento a Europa estava conflagrada
pela Segunda Guerra Mundial, e o país, em particular, vivia as consequências do
fim da Guerra Civil espanhola, que durou três anos e instaurou o regime
fascista de Francisco Franco.
Assim como O Labirinto
do Fauno, o filme de Victor Erice também ecoa o terror do período do
general Franco. Menos explícito do que o filme de Guillermo Del Toro, O Espírito da Colmeia envereda por um
caminho mais imagético e trabalha essencialmente com a sugestão de repressão
daquele período político de supressão dos direitos civis.
A ação se passa num pequeno vilarejo no interior da
Espanha. O termo “ação” talvez não seja exatamente adequado no caso, pois a
vida pacata do povoado segue uma rotina de poucas novidades. Os únicos contatos
com o mundo exterior são o trem que chega diariamente à pequena estação local, e
o cinema ambulante que eventualmente visita a cidade e traz um pouco de
diversão lúdica para os moradores. As portas do imaginário coletivo são abertas
para a comunidade quando o clássico Frankenstein
(1931), de James Whale, é projetado no cineminha improvisado do povoado. Na
sessão a plateia é formada por adultos e menores de idade, sem distinção. O
filme impressiona de maneira especial duas pequenas crianças, Ana (Ana Torrent)
e sua irmã, poucos anos mais velha, Isabel (Isabel Telleria). A experiência
desperta dúvidas na pequena Ana. Ela questiona a irmã, querendo saber por que o
“monstro” de Frankenstein matou a garotinha (sequência do lago) e porque a
própria criatura foi morta depois pela população. Isabel responde que é tudo falso,
um truque do filme, que aquilo que assistiram não é verdadeiro. E conta, para
espanto da irmã, a história fantasiosa de um “espírito” de verdade que se
esconde num poço numa área distante da vila. A história estimula a imaginação
da pequena Ana, que passa a visitar o poço em busca do seu “Frankenstein”.
A narrativa muda de rumo quando um elemento do
mundo real invade o universo fantasioso criado na mente da garota. No caso, a
chegada de um soldado desertor que se esconde próximo ao poço. Para Ana, aquele
homem é a corporificação do espírito que povoa sua imaginação, o seu
“Frankenstein” construído por seu desejo. Passa então a cuidar do soldado,
levando alimentos e roupas em segredo, inclusive da própria família. Ana cuida
do seu monstro secreto como se fosse seu “Frankenstein” de estimação,
desenvolvendo com ele uma relação que mescla sentimentos de estranhamento,
fascínio e sedução. Por fim, a descoberta do pequeno segredo dos dois deflagra
o desfecho da narrativa.
A dedicação de Ana a seu amigo secreto expressa, de
certa forma, uma reação ao ambiente familiar pouco amoroso, onde seus pais
vivem uma relação fria e distante. O pai, Fernando (Fernando Fernán Gómez), é
um apicultor, que nas horas vagas escreve textos poéticos sobre a vida das
abelhas. A mãe, Teresa (Teresa Gimpera), é uma mulher um tanto melancólica que
escreve cartas para um desconhecido, que podemos supor que seja um amante ou
amor perdido do passado. Não há praticamente nenhuma interação entre Fernando e
Teresa. A volta deles o mundo das filhas pulsa de desejos, descobertas, medos e
fantasias. A casa da família representa metaforicamente uma colmeia de abelhas,
onde cada membro representa seu papel social submetido a uma hierarquia
estabelecida para uma vida sem surpresas nem sobressaltos. Não por acaso, os
vidros das portas e janelas da casa tem o formato hexagonal, semelhante aos
favos de mel.
O olhar inocente da criança protagonista reordena o
mundo percebido. A fantasia molda a dureza da realidade. A descoberta dos fatos
da vida, de modo especial a morte, revelam uma realidade transformadora. A
entrada em cena do soldado / “espírito”, e sua representação como figura
adulta, alheia ao mundo (re)conhecido, reconfigura a arquitetura mental da
pequena Ana. A colmeia está em desequilíbrio.
Há um clima de tensão e mistério no ar. A
narrativa, lenta e silenciosa, de poucos diálogos, explora primordialmente o
desconhecido, sob a ótica das crianças. Ao abrir mão de um realismo pleno, o
filme de Victor Erice entrega uma narrativa que assume o tom sobrenatural em
diversas passagens. Especialmente no final de forte caráter poético.
O “monstro”, ou espírito, é uma representação
simbólica da situação política vivida pela Espanha naquele período. A jornada
de descoberta da pequena Ana é uma metáfora para a sociedade sufocada no
enfrentamento aos desmandos da ditadura liderada por Franco. Então, Franquismo
é igual a Frankenstein. A sonoridade das palavras só auxilia na associação dos
significados.
Nos aspectos puramente técnicos e artísticos o
filme é um primor. Desde a doce e um tanto climática música de Luis de Pablo,
passando pelo roteiro enxuto do próprio Victor Erice, em parceria com Ángel
Férnandez Santos, até a bela fotografia de Luis Cuadrado, em tons âmbar, a cor
do mel, O Espírito da Colmeia é um
espetáculo que deleita o cinéfilo mais atento.
Assista o trailer: O Espírito da Colmeia
Jorge Ghiorzi
terça-feira, 11 de julho de 2017
quinta-feira, 6 de julho de 2017
“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”: um novo recomeço
Uma boa notícia para os fãs. O Aranha não morreu,
apesar das recentes experiências desastrosas. Apenas mudou de casa e agora retorna
vivo, firme e forte. Para quem não está ligando os pontos desta teia, vale
lembrar. O personagem Homem-Aranha, nos quadrinhos, pertence à Marvel. Mas no
cinema o herói dava expediente na Sony, que detinha os direitos para a telona.
Nesta fase de exílio o Homem-Aranha protagonizou cinco filmes. Uma primeira
trilogia dirigida por Sam Raimi e estrelada por Tobey Maguire (2002, 2004 e 2007)
e outros dois filmes protagonizados por Andrew Garfield (2012 e 2014).
Era chegada a hora de retornar ao lar. A estreia nesta
nova fase ocorreu no ano passado com uma pequena participação do novo
Homem-Aranha em Capitão América: Guerra
Civil, onde, a convite do Homem de Ferro, integrou o grupo dos Vingadores.
Agora, finalmente ganha seu filme solo com a marca inconfundível da Marvel. Homem-Aranha:
De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming) é na verdade uma sequência direta
daquele filme do Capitão América. Porém, desta vez o foco é inteiramente
direcionado ao personagem alter-ego de Peter Parker. Se antes ele foi um mero
coadjuvante, nesta nova produção ele ganha vida própria e assume definitivamente
o protagonismo no universo Marvel como integrante confirmado dos Vingadores.
Ao mesmo tempo em que participa do maior grupo de
super-heróis do planeta, o jovem Peter Parker (Tom Holland) tem que se virar no
dia-a-dia com a rotina dos problemas típicos de um adolescente universitário: estudar,
fazer provas, ajudar com as tarefas domésticas e, quando possível, flertar com
a garota que balança seu coração. Não fosse tudo isso, ainda tenta provar para
Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de Ferro em pessoa, de que já está
pronto para a próxima missão, que não chega nunca. Nesta relação Stark assume por
vezes os ares da figura paterna que Peter Parker não tem.
Então, enquanto a missão não vem, ele próprio trata
de correr atrás de algo para mostrar o seu valor como super-herói. Típico
comportamento de rebeldia juvenil. Quando por acaso impede o roubo de um banco
com assaltantes que utilizam armamento com tecnologia de origem alienígena, o
Homem-Aranha entra na mira do novo vilão que está surgindo para levar o caos à
cidade, o Abutre (Michael Keaton). Neste embate o Aranha assume o novíssimo uniforme
super high-tech desenvolvido pelas indústrias do mega empresário Tony Stark.
Altamente tecnológico, o novo traje é quase uma armadura com muitas gadgets e incríveis novas funções da
tradicional teia, marca registrada do herói.
Homem-Aranha:
De Volta ao Lar foi dirigido
pelo novato, e pouco conhecido, Jon Watts que fez um ótimo trabalho neste reboot do personagem que estava à espera
de uma retomada, pois trata-se de um dos super-heróis de maior prestígio da
Marvel. A narrativa leve e descontraída flui sempre com competência, o que
torna o filme uma experiência agradável, praticamente sem momentos de baixo
interesse. As cenas de ação são eficientes, não pecando pelos excessos vistos
ultimamente nas produções do gênero. Apenas uma ressalta negativa para as
sequências noturnas que são de difícil visualização, o que dificulta sua plena
apreciação.
Recentemente filmes como Deadpool e Guardiões da
Galáxia apontaram um caminho que renova o interesse nas adaptações das HQs
para o cinema. Ambos abandonaram uma certa solenidade na abordagem e
acrescentaram generosas doses de humor. A proposta é reproduzir a experiência
desencanada de ler uma revista em quadrinhos, com diversão e relaxamento. Acertadamente
o novo Homem-Aranha bebe desta mesma fonte.
Objetiva e direta, a nova adaptação do herói aracnídeo não perde tempo com
questões de interesse relativo e parte direto para a ação. Pouco ficamos
sabendo das suas relações familiares. Nosso conhecimento se limita apenas ao
essencial: ele vive com a Tia May (Marisa Tomei) e basta. E nada de repassar a
origem dos poderes de Peter Parker. A história da picada da aranha radioativa é
citada rapidamente apenas num curto diálogo, e segue em frente.
A repaginação do Homem-Aranha nesta nova versão,
com a grife Marvel, foi bem sucedida e demonstra fôlego para muitos filmes.
Além do tom correto da aventura, claramente mirando um público mais jovem,
possivelmente o grande acerto da produção foi a escalação de Tom Holland para interpretar
o herói. Carismático, engraçado, bom ator e muito jovem (o que garante uma vida
longa na pele do herói) ele assume com talento o papel que recentemente foi do
insosso Andrew Garfield em filmes que não deixaram saudades. O novo
Homem-Aranha das telas saiu melhor que a encomenda, até porque a baixa
expectativa contribuiu para uma avaliação menos apaixonada e tendenciosa. É
fato: Homem-Aranha: De Volta ao Lar revitaliza,
com méritos, o prestígio de um herói que andava em baixa.
sábado, 1 de julho de 2017
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