sexta-feira, 11 de agosto de 2017
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
“O Filme da Minha Vida”: memórias de cinema
Terceiro longa-metragem dirigido por Selton Mello, O
Filme da Minha Vida chega às telas confirmando as virtudes e os vícios
do realizador, que demonstra especial predileção por histórias minimalistas centradas
em personagens sufocados por crises pessoais, narradas com sensibilidade e apuro
técnico. Assim como em O Palhaço, lançado
em 2011, mais uma vez a figura do pai volta a ocupar importante papel na dramaturgia
da história. A coincidência foi meramente circunstancial tendo em vista que o
próprio autor da obra original, o escritor chileno Antonio Skármeta, escolheu
Selton para dirigir a versão cinematográfica do livro “Um Pai de Cinema”. Se
naquele trabalho de seis anos atrás o realizador tratou da temática paterna com
um olhar de comédia e eventuais toques dramáticos, desta vez virou a chave,
assumindo o drama intimista com ocasionais escapes cômicos.
O
Filme da Minha Vida é o filme das
memórias afetivas do narrador que revisita seu passado para refletir sobre os
significados e valores de sua existência. O passado pode ser um velho filme
preto e branco de John Ford, ou talvez uma velha Maria-fumaça percorrendo os
trilhos de bucólicas paisagens. Estas são metáforas que evocam o passado do
protagonista. Filho de pai francês (Vincent Cassel) e mãe brasileira, Tony
Terranova (Johnny Massaro) é um jovem professor de francês no colégio de uma
pequena cidade do interior na fronteira gaúcha. Um dia seu pai some de casa, abandona
a família sem deixar nenhuma explicação. Enquanto sofre pela repentina ausência
do pai, Tony precisa lidar com a passagem para a vida adulta. Seu grande
companheiro de jornada, e ombro amigo nas horas difíceis, é Paco (Selton
Mello), que faz às vezes a função de mentor e pai substituto. Enquanto aguarda
o improvável retorno do pai, Tony se dedica às suas grandes paixões: o cinema, a
poesia e as mulheres.
Filmado em locações na serra gaúcha, O Filme da Minha Vida exibe uma
exuberante paisagem natural lindamente fotografada pelo mestre Walter Carvalho,
esmero que também se verifica caprichada direção de arte que reproduz com
riqueza de detalhes o modo de vida, os figurinos e os ambientes de uma pequena
cidade do interior nos anos 60.
Neste novo trabalho Selton Mello volta a exibir um
cinema sensível e poético, mais interessado em examinar personagens do que
propriamente contar uma história. Algo que vai completamente na contramão da
imensa maioria da produção do cinema nacional. Há, portanto, uma ambição
artística que se manifesta num forte desejo do realizador em assegurar uma
marca pessoal de estilo.
A pretensão estética é uma das fragilidades de O Filme da Minha Vida, que parece
excessivamente preocupado em seduzir a sensibilidade do espectador a cada sequência,
cena e enquadramento. Esta escolha do realizador em valorizar mais as partes em
desfavor da integridade do todo resulta em sequências gratuitas e
exibicionistas que pouco significam no contexto geral, particularmente do
personagem Paco (uma egotrip do
ator-diretor) com suas tiradas supostamente cômicas, frases de efeito e
aforismos quase infantis. Isto sem falar em alguns personagens secundários mal
resolvidos, como o garoto que quer conhecer a zona, a jovem miss, a mãe de Tony e até mesmo o
próprio Paco, que não agregam em suas pequenas tramas paralelas, não chegam a
lugar algum e somem da trama sem qualquer resolução.
O
Filme da Minha Vida se ressente de
um roteiro frágil e dispersivo que só encontra seu eixo no ato final. Selton
Mello demonstra estar por demais apaixonado por seus personagens, a ponto de
não dar a devida atenção à história do filme da vida deles.
terça-feira, 1 de agosto de 2017
segunda-feira, 31 de julho de 2017
“Planeta dos Macacos – A Guerra”: civilização em jogo
Quem é o verdadeiro selvagem? O homem ou o macaco? Esta
é uma questão recorrente em praticamente todos os filmes da série.
Particularmente deste Planeta dos Macacos – A Guerra (War
for The Planet of Apes, 2017) terceiro título da série reiniciada com grande
estilo em 2011 graças aos ilimitados recursos que a tecnologia digital pode
oferecer. Após a peste símia que devastou grande parte da população humana, o
planeta Terra se oferece como um terreno livre para uma nova raça dominante
tomar conta. No sentido inverso dos homens, decadentes, fragilizados, sob o
risco de perder o dom da fala e o conhecimento acumulado geração após geração,
os macacos ganham consciência de grupo, conquistam o poder das palavras e da
comunicação entre seus iguais. As forças se equilibram como nunca antes na
história do planeta. Homens e macacos lutam por seu espaço, sem ceder ao jugo
do oponente. Mas os desejos de poder e conquista, intrínsecos ao ser humano
racional, colocam em risco uma convivência pacífica e harmônica entre as raças.
Planeta
dos Macacos – A Guerra, mais uma
vez dirigido por Matt Reeves, inicia logo após os eventos narrados em Planeta dos Macacos - O Confronto (2014).
César (Andy Serkis) e seu grupo de macacos geneticamente evoluídos voltam a ser
ameaçados pelos humanos sobreviventes do vírus mortal. O inimigo agora é um
coronel enlouquecido (Woody Harrelson) que lidera um exército dissidente com a
missão de eliminar a ameaça permanente dos macacos que, de acordo com seu
delírio paranoico, colocam em risco a sobrevivência da espécie humana no
planeta. Uma batalha sangrenta coloca novamente, frente a frente, homens e
macacos.
Mesmo lidando com temas amplos, de grande alcance
coletivo e global para o futuro do planeta, a força vital de A Guerra vem de uma história de vingança
pessoal conduzida por César contra seu nêmesis, incorporado na figura maligna do
coronel. Comportamento ancestral do homem, a retaliação
contra o inimigo estabelece um dilema ético do macaco líder frente ao grupo que
lidera. É, porém, um chamado da natureza que nem sua recém adquirida
consciência moral é capaz de refrear. César, neste sentido, avança mais um
estágio em seu processo de “humanização”.
A
Guerra traz algumas citações que
prestam tributo aos antigos filmes da série, como a caminhada a cavalo na
praia, a boneca de pano, os corpos crucificados em “X” e uma explicação para a
origem da futura personagem de Nova, vista nos dois primeiros títulos da saga. Mas
a mais explícita referência é ao clássico Apocalypse
Now. A começar pela careca de Woody Harrelson, que reproduz a imagem icônica
de Marlon Brando. E mais, a própria personagem do coronel de Harrelson emula a
figura do coronel Kurtz de Brando, enlouquecido nos confins da floresta
asiática. Temos até o esquadrão de helicópteros em voo rasante antes do ataque.
Só faltou a “Cavalgada das Valquírias” na trilha sonora.
A ideia dos ciclos é uma premissa inspiradora de
toda a saga Planeta dos Macacos. Um grade moto-contínuo move a evolução do
nosso planeta. Há sempre um recomeço, uma retomada, um novo ciclo a iniciar. Ao
ser lançado em 1968 o primeiro filme da série, inspirado na obra de Pierre Boulle,
não teve a preocupação (ou a necessidade) de dar todas as respostas. Isto
surgiu a partir do momento em que se decidiu fazer uma continuação. Ao avançar
a história original as lacunas precisaram ser preenchidas. Entre avanços e
recuos o conceito da saga se equilibrou no limite da ciência especulativa e da
fantasia escapista. Ora encontrando boas sacadas, ora se perdendo totalmente na
coerência da história. A cada novo episódio da antiga franquia (1968 – 1973) mais
e mais embaralhado ficava o enredo. Algumas pontas da história eram respondidas
ao mesmo tempo em se criavam novas armadilhas para serem resolvidas no filme
seguinte. Ou não, conforme o caso.
O fato a ser ressaltado é que desde o reboot lançado há seis anos (esqueça a bizarra
versão do Tim Burton de 2001) a saga começou a entrar nos eixos e encontrou uma
lógica perdida. Mesmo que não esteja na mesma continuidade temporal dos filmes
originais dos anos 60 e 70, os filmes da nova série dão sinais de que buscam
uma aproximação com a história original estrelada por Charlton Heston há 50 anos,
fechando assim um gigantesco arco narrativo.
Contrariando uma tendência, a nova série vem num
crescendo de qualidade a cada novo título lançado. Planeta dos Macacos – A Guerra, assim como a raça símia que
retrata, dá um novo salto evolutivo numa das sagas mais estimulantes da
atualidade.
Assista o trailer: Planeta dos Macacos – A Guerra
domingo, 30 de julho de 2017
quarta-feira, 26 de julho de 2017
“Dunkirk”: derrota vitoriosa
Inspirado em um dos episódios mais dramáticos, e
pouco lembrados, da 2ª Guerra Mundial, o monumental Dunkirk (Dunkirk, 2017),
dirigido por Christopher Nolan, traz para as telas um momento trágico da
história que reúne uma extraordinária gama de atos de superação, heroísmo e
honra protagonizados por soldados, oficiais e população civil. Desenvolvido a
partir de um fiapo de enredo, o épico de Nolan se detém em pequenos núcleos
narrativos de micro histórias individuais, alternados em tempos e espaços
distintos, que nos jogam com vigor diretamente no campo de batalha.
O grande painel narrativo de Dunkirk relata basicamente o resgate de cerca de 400 mil soldados
ingleses, franceses e belgas que ficaram cercados e isolados pelas tropas alemãs
na cidade litorânea de Dunquerque, no litoral norte da França. Abandonados,
encurralados, expostos ao inimigo na praia, sem chance imediata de fuga, a
única esperança era o resgate pela frota da Marinha inglesa.
A história se desenvolve em terra, no mar e no ar
por cerca de 10 dias entre os meses de maio e junho de 1940. Alguns poucos aviões
de combate da RAF - Força Aérea Real Britânica - assumem o combate ao inimigo
no céu sobre o Canal da Mancha e o Estreito de Dover, na tentativa de proteger
os soldados indefesos na praia. Enquanto isso, centenas de pequenos barcos
conduzidos por militares e civis ingleses preparam uma ação desesperada de
resgate, arriscando suas vidas numa corrida contra o tempo para salvar o maior
número possível de soldados compatriotas.
A impactante sequência de abertura nos apresenta um
dos protagonistas da história, um jovem soldado inglês (Fionn Whitehead) que
escapa de ser abatido pelo fogo alemão e chega à praia para juntar-se aos
milhares soldados que aguardam o momento de embarque. Para aumentar as chances
de escapar com vida daquele pesadelo, estrategicamente ele se une a outros dois
companheiros de farda (Aneurin Barnard e Harry Styles, integrante do grupo pop “One
Direction” em seu primeiro papel no cinema). As operações de embarque estão sob
o comando do almirante da Marinha interpretado por Kenneth Branagh. Outro
núcleo narrativo está nos céus, onde um piloto de caça aéreo (Tom Hardy) tenta heroica
e solitariamente dar conta de combater os aviões alemães que bombardeiam as
tropas na praia e nos navios de resgate. Por fim, há um terceiro centro de
interesse em alto-mar onde uma pequena embarcação civil é conduzida por um
voluntarioso pai de família (Mark Rylance) decidido a arriscar a vida para
salvar por conta própria o maior número possível de soldados. A bordo está um
oficial em surto (Cillian Murphy) sobrevivente solitário de um naufrágio,
recolhido no caminho.
Manipulando com maestria todos os elementos
técnicos, logísticos e humanos envolvidos na recriação do momento histórico que
ambicionou resgatar, Christopher Nolan conduz Dunkirk sob uma tensão constante. Para isto valeu-se de um roteiro fragmentado
que, ao embaralhar a cronologia dos fatos, provoca no espectador uma sensação
de desorientação sensorial, que pretende reproduzir (em termos) a sensação
experimentada pelos soldados em meio ao fogo cruzado do campo de batalha.
Contribui também decisivamente para esta sensação a
utilização da técnica de quebra do eixo gravitacional que Nolan lança mão em algumas
sequências de alto impacto emocional como o naufrágio dos navios e os rasantes
dos aviões caça. Recurso este que ele já havia empregado em filmes como A Origem (lembra da luta no corredor do
hotel?) e Interestelar.
O uso moderado de efeitos especiais,
particularmente da computação gráfica, aproxima Dunkirk de outros grandes épicos do cinema, como Lawrence da Arábia, produção da velha
escola, realizada sob as mais adversas condições em pleno deserto. Em certa
medida, os desafios e o pesadelo logístico de David Lean nas areias foram
reproduzidos por Nolan em alto-mar. O que não deixa de ser uma ousadia em
tempos onde as facilidades dos recursos digitais tem acomodado a criatividade
de muitos cineastas.
Desde já Dunkirk
se insere na lista dos melhores épicos de guerra da história do cinema.
Primoroso no que se refere aos aspectos meramente técnicos (montagem, trilha
sonora, som), a produção se destaca também pela sensibilidade no trato dos
pequenos dramas pessoais em contraste com as grandes causas coletivas. Ainda
que Nolan não seja exatamente um cineasta que se deixe levar facilmente pelo sentimentalismo,
contrariando a perspectiva racional do seu olhar como realizador que conhecemos,
o fato objetivo é que o poder avassalador das imagens de Dunkirk demonstra que nem o próprio diretor resistiu à magnitude
dos fatos ocorridos há quase 80 anos.
terça-feira, 25 de julho de 2017
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