Terceiro longa-metragem dirigido por Selton Mello, O
Filme da Minha Vida chega às telas confirmando as virtudes e os vícios
do realizador, que demonstra especial predileção por histórias minimalistas centradas
em personagens sufocados por crises pessoais, narradas com sensibilidade e apuro
técnico. Assim como em O Palhaço, lançado
em 2011, mais uma vez a figura do pai volta a ocupar importante papel na dramaturgia
da história. A coincidência foi meramente circunstancial tendo em vista que o
próprio autor da obra original, o escritor chileno Antonio Skármeta, escolheu
Selton para dirigir a versão cinematográfica do livro “Um Pai de Cinema”. Se
naquele trabalho de seis anos atrás o realizador tratou da temática paterna com
um olhar de comédia e eventuais toques dramáticos, desta vez virou a chave,
assumindo o drama intimista com ocasionais escapes cômicos.
O
Filme da Minha Vida é o filme das
memórias afetivas do narrador que revisita seu passado para refletir sobre os
significados e valores de sua existência. O passado pode ser um velho filme
preto e branco de John Ford, ou talvez uma velha Maria-fumaça percorrendo os
trilhos de bucólicas paisagens. Estas são metáforas que evocam o passado do
protagonista. Filho de pai francês (Vincent Cassel) e mãe brasileira, Tony
Terranova (Johnny Massaro) é um jovem professor de francês no colégio de uma
pequena cidade do interior na fronteira gaúcha. Um dia seu pai some de casa, abandona
a família sem deixar nenhuma explicação. Enquanto sofre pela repentina ausência
do pai, Tony precisa lidar com a passagem para a vida adulta. Seu grande
companheiro de jornada, e ombro amigo nas horas difíceis, é Paco (Selton
Mello), que faz às vezes a função de mentor e pai substituto. Enquanto aguarda
o improvável retorno do pai, Tony se dedica às suas grandes paixões: o cinema, a
poesia e as mulheres.
Filmado em locações na serra gaúcha, O Filme da Minha Vida exibe uma
exuberante paisagem natural lindamente fotografada pelo mestre Walter Carvalho,
esmero que também se verifica caprichada direção de arte que reproduz com
riqueza de detalhes o modo de vida, os figurinos e os ambientes de uma pequena
cidade do interior nos anos 60.
Neste novo trabalho Selton Mello volta a exibir um
cinema sensível e poético, mais interessado em examinar personagens do que
propriamente contar uma história. Algo que vai completamente na contramão da
imensa maioria da produção do cinema nacional. Há, portanto, uma ambição
artística que se manifesta num forte desejo do realizador em assegurar uma
marca pessoal de estilo.
A pretensão estética é uma das fragilidades de O Filme da Minha Vida, que parece
excessivamente preocupado em seduzir a sensibilidade do espectador a cada sequência,
cena e enquadramento. Esta escolha do realizador em valorizar mais as partes em
desfavor da integridade do todo resulta em sequências gratuitas e
exibicionistas que pouco significam no contexto geral, particularmente do
personagem Paco (uma egotrip do
ator-diretor) com suas tiradas supostamente cômicas, frases de efeito e
aforismos quase infantis. Isto sem falar em alguns personagens secundários mal
resolvidos, como o garoto que quer conhecer a zona, a jovem miss, a mãe de Tony e até mesmo o
próprio Paco, que não agregam em suas pequenas tramas paralelas, não chegam a
lugar algum e somem da trama sem qualquer resolução.
O
Filme da Minha Vida se ressente de
um roteiro frágil e dispersivo que só encontra seu eixo no ato final. Selton
Mello demonstra estar por demais apaixonado por seus personagens, a ponto de
não dar a devida atenção à história do filme da vida deles.
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