“No espaço
ninguém vai ouvir seu grito”. Esta foi a frase de impacto utilizada no
lançado de Alien: O 8º Passageiro nos cinemas em 1979. Aquela inusitada
e eficiente mistura de ficção científica e terror – sempre imitada, nunca
igualada - conquistou um gigantesco sucesso, projetando o nome de Ridley Scott ao
primeiro time de realizadores da sua geração. Logo a seguir realizaria nada
menos que Blade Runner (1982). Hoje, 45 anos depois, a produção original
gerou uma franquia com outros cinco títulos, mais dois spin-offs apenas
com a criatura alienígena.
A qualidade das
sequências e derivações do filme original são bastante distintas, variando da
excelência ao deplorável. O mais recente episódio da saga, Alien: Covenant
(2017), não foi dos mais felizes, para dizer o mínimo. Além de não deixar saudades
este quinto filme deixou um sentimento de game over por destruir tudo
que havia sido construído até então. O lançamento de Alien: Romulus
(2024) chega, portanto, com a missão de redimir uma franquia em decadência e
proporcionar um reboot para novos episódios.
Desta vez Ridley
Scott abriu mão da direção e entregou o controle da nave-mãe a Fede Alvarez,
realizador uruguaio que está fazendo carreira em Hollywood com títulos como o
remake A Morte do Demônio (2013), O Homem nas Trevas (2016) e Millennium:
A Garota da Teia de Aranha (2018). Consta, pelas informações de bastidores
veiculadas pela mídia, que Ridley Scott praticamente não frequentou as
filmagens, dando liberdade criativa a Fede Alvarez, também coautor do roteiro.
Apesar deste aparente afastamento, é significativa a proximidade de Romulus
com os conceitos e bases lançadas pela obra original de 1979.
Desta vez saem de
cena as forças militares e as grandes corporações. A ação de Alien: Romulus
transcorre essencialmente entre aqueles que sobrevivem na base da pirâmide
social, as pessoas comuns “escravizadas” pela exploração do trabalho nos
subterrâneos da sociedade futurista. Um espectro social praticamente invisível
em todos os demais filmes da franquia. Na trama, um grupo de jovens deseja
abandonar o local onde vivem e partir em busca de melhores expectativas de vida
em outro planeta. A oportunidade surge quando identificam uma estação espacial
desativada circulando nas imediações. Na esperança de encontrar a tecnologia
necessária para empreender uma viagem interplanetária para outro destino
distante, os jovens inadvertidamente vasculham a estação e se deparam com um
organismo aterrorizante que coloca a vida de todos em risco.
Uma das maiores
virtudes de Alien: Romulus é sua decisão de abandonar qualquer
complexidade da narrativa, algo muito presente em alguns episódios da série,
que se perderam pela excessiva ambição dramática e reflexões filosóficas e
existenciais. Desta vez o que temos é uma espécie de retorno ao básico, à
essência de uma experiência de terror e suspense. Isto estava lá, na origem da
série, mas se perdeu ao longo dos anos quando expandiu seu universo. Neste
aspecto, vale ressaltar que na linha do tempo da saga, Alien: Romulus
ocupa a segunda posição, entre o Alien original e Aliens: O Resgate
(aquele do James Cameron).
Há, aqui e ali,
referências estéticas e sonoras que remetem intencionalmente ao filme de 1979,
ao qual Fede Alvarez rende evidente tributo. Seu esforço e olhar criativo
definitivamente dão um novo fôlego ao conceito original, abandonado ao longo
dos anos. Então, as coisas voltam a ser colocadas no rumo certo. Alien:
Romulus é aquela sequência que o próprio Ridley Scott nunca conseguiu
entregar. Lembremos, ele foi o responsável pelo frustrante Prometheus
(2012) e o já citado, e sofrível, Alien: Covenant.
Algumas passagens
de Romulus são efetivamente emocionantes e provocam suspense genuíno e
real na plateia. Parte deste efeito se deve a uma combinação de fatores, a
começar pela ótima direção de cena de Alvarez, juntamente com uma cenografia
criativa, efeitos práticos e uma edição muito afiada. Enfim, a essência dos
elementos que compõem o que definimos como uma mise-en- scène eficiente.
Com um elenco – e
personagens – jovens, Alien: Romulus destaca-se pelas sequências de ação.
Os corredores da estação espacial se mostram particularmente tenebrosos e
assustadores com os jovens exploradores sendo eliminados, um por um, ao serem
perseguidos e encurralados por uma comunidade de “pequenos” aliens em fase de
crescimento, que infestam aquele espaço confinado que flutua no espaço – onde ninguém
ouve seu grito. Já vimos algo assim no Alien de 1979, certo? Mas, naquela
vez, os personagens eram todos adultos.
O perfil jovem
dos personagens de Romulus permite uma possível aproximação estética e
temática com os filmes slasher, ao serem eliminados em sequências de
terror gráfico, com direito à final girl. Estaria aí uma estratégia para
captar o interesse das novas gerações, desconectadas com a saga iniciada há 45
anos? Um destaque absoluto do elenco é a presença da ótima Cailee Spaeny, de Priscilla
e Guerra Civil. Sua personagem, Rain Carradine, não fica nada a dever à
Tenente Ellen Ripley, bem como o desempenho, que emula uma jovem Sigourney
Weaver.
Alien: Romulus, longe de buscar
soluções estéticas e narrativas inovadoras, aposta – e acerta muito - no
essencial: superar a apatia e impasse criativo que a franquia havia chegado. O
filme de Fede Alvarez é tenso, sombrio e, no mais das vezes, assustador.
Reacende o interesse de uma saga que parecia estar com os dias contados. Com
uma nova e jovem protagonista – Rain Carradine – a saga Alien renova o
interesse, garantindo a sobrevivência e muitas reencarnações da criatura
alienígena.
Assista ao trailer: Alien: Romulus
Jorge Ghiorzi
Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)
Contato: janeladatela@gmail.com / jghiorzi@gmail.com