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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Alien - Romulus: volta ao terror


“No espaço ninguém vai ouvir seu grito”. Esta foi a frase de impacto utilizada no lançado de Alien: O 8º Passageiro nos cinemas em 1979. Aquela inusitada e eficiente mistura de ficção científica e terror – sempre imitada, nunca igualada - conquistou um gigantesco sucesso, projetando o nome de Ridley Scott ao primeiro time de realizadores da sua geração. Logo a seguir realizaria nada menos que Blade Runner (1982). Hoje, 45 anos depois, a produção original gerou uma franquia com outros cinco títulos, mais dois spin-offs apenas com a criatura alienígena.

A qualidade das sequências e derivações do filme original são bastante distintas, variando da excelência ao deplorável. O mais recente episódio da saga, Alien: Covenant (2017), não foi dos mais felizes, para dizer o mínimo. Além de não deixar saudades este quinto filme deixou um sentimento de game over por destruir tudo que havia sido construído até então. O lançamento de Alien: Romulus (2024) chega, portanto, com a missão de redimir uma franquia em decadência e proporcionar um reboot para novos episódios.


Desta vez Ridley Scott abriu mão da direção e entregou o controle da nave-mãe a Fede Alvarez, realizador uruguaio que está fazendo carreira em Hollywood com títulos como o remake A Morte do Demônio (2013), O Homem nas Trevas (2016) e Millennium: A Garota da Teia de Aranha (2018). Consta, pelas informações de bastidores veiculadas pela mídia, que Ridley Scott praticamente não frequentou as filmagens, dando liberdade criativa a Fede Alvarez, também coautor do roteiro. Apesar deste aparente afastamento, é significativa a proximidade de Romulus com os conceitos e bases lançadas pela obra original de 1979. 

Desta vez saem de cena as forças militares e as grandes corporações. A ação de Alien: Romulus transcorre essencialmente entre aqueles que sobrevivem na base da pirâmide social, as pessoas comuns “escravizadas” pela exploração do trabalho nos subterrâneos da sociedade futurista. Um espectro social praticamente invisível em todos os demais filmes da franquia. Na trama, um grupo de jovens deseja abandonar o local onde vivem e partir em busca de melhores expectativas de vida em outro planeta. A oportunidade surge quando identificam uma estação espacial desativada circulando nas imediações. Na esperança de encontrar a tecnologia necessária para empreender uma viagem interplanetária para outro destino distante, os jovens inadvertidamente vasculham a estação e se deparam com um organismo aterrorizante que coloca a vida de todos em risco.


Uma das maiores virtudes de Alien: Romulus é sua decisão de abandonar qualquer complexidade da narrativa, algo muito presente em alguns episódios da série, que se perderam pela excessiva ambição dramática e reflexões filosóficas e existenciais. Desta vez o que temos é uma espécie de retorno ao básico, à essência de uma experiência de terror e suspense. Isto estava lá, na origem da série, mas se perdeu ao longo dos anos quando expandiu seu universo. Neste aspecto, vale ressaltar que na linha do tempo da saga, Alien: Romulus ocupa a segunda posição, entre o Alien original e Aliens: O Resgate (aquele do James Cameron). 

Há, aqui e ali, referências estéticas e sonoras que remetem intencionalmente ao filme de 1979, ao qual Fede Alvarez rende evidente tributo. Seu esforço e olhar criativo definitivamente dão um novo fôlego ao conceito original, abandonado ao longo dos anos. Então, as coisas voltam a ser colocadas no rumo certo. Alien: Romulus é aquela sequência que o próprio Ridley Scott nunca conseguiu entregar. Lembremos, ele foi o responsável pelo frustrante Prometheus (2012) e o já citado, e sofrível, Alien: Covenant.

Algumas passagens de Romulus são efetivamente emocionantes e provocam suspense genuíno e real na plateia. Parte deste efeito se deve a uma combinação de fatores, a começar pela ótima direção de cena de Alvarez, juntamente com uma cenografia criativa, efeitos práticos e uma edição muito afiada. Enfim, a essência dos elementos que compõem o que definimos como uma mise-en- scène eficiente. 
Com um elenco – e personagens – jovens, Alien: Romulus destaca-se pelas sequências de ação. Os corredores da estação espacial   se mostram particularmente tenebrosos e assustadores com os jovens exploradores sendo eliminados, um por um, ao serem perseguidos e encurralados por uma comunidade de “pequenos” aliens em fase de crescimento, que infestam aquele espaço confinado que flutua no espaço – onde ninguém ouve seu grito. Já vimos algo assim no Alien de 1979, certo? Mas, naquela vez, os personagens eram todos adultos.


O perfil jovem dos personagens de Romulus permite uma possível aproximação estética e temática com os filmes slasher, ao serem eliminados em sequências de terror gráfico, com direito à final girl. Estaria aí uma estratégia para captar o interesse das novas gerações, desconectadas com a saga iniciada há 45 anos? Um destaque absoluto do elenco é a presença da ótima Cailee Spaeny, de Priscilla e Guerra Civil. Sua personagem, Rain Carradine, não fica nada a dever à Tenente Ellen Ripley, bem como o desempenho, que emula uma jovem Sigourney Weaver.
Alien: Romulus, longe de buscar soluções estéticas e narrativas inovadoras, aposta – e acerta muito - no essencial: superar a apatia e impasse criativo que a franquia havia chegado. O filme de Fede Alvarez é tenso, sombrio e, no mais das vezes, assustador. Reacende o interesse de uma saga que parecia estar com os dias contados. Com uma nova e jovem protagonista – Rain Carradine – a saga Alien renova o interesse, garantindo a sobrevivência e muitas reencarnações da criatura alienígena.

Assista ao trailer: Alien: Romulus


Jorge Ghiorzi

Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)

Contato: janeladatela@gmail.com  /  jghiorzi@gmail.com