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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Asteroid City: bolha de sabão

 

É bastante improvável que haja alguém que entre em uma sala de cinema passa assistir a um filme de Wes Anderson que não tenha em mente um mínimo de expectativa sobre o que vai encontrar. Não há surpresas, absolutamente. O cineasta é fiel a seu estilo, que parece esgarçar e radicalizar a cada novo trabalho. Este é o peso que Asteroid City (Asteroid city, 2023) carrega. É Wes Anderson em sua potencia máxima, para o bem ou para o mal.

Meados dos anos 50. Uma cidadezinha minúscula, no meio do deserto americano, com população de apenas 87 pessoas, famosa por ter sido, no passado distante, alvo de um meteoro que caiu na Terra. A imensa cratera formada no local, um ponto turístico, será utilizada como cenário para uma Convenção de Observadores Cósmicos Juniores que reúne estudantes pesquisadores e suas famílias. Um inesperado acontecimento cósmico muda os rumos daquele encontro.


Wes Anderson mostra esta história como um exercício de metalinguagem. Tudo começa como um programa de TV em preto & branco que mostra o processo de criação de um dramaturgo que escreve uma peça de teatro com esta história, mesclando com a encenação da própria peça como uma adaptação cinematográfica multicolorida.

A narrativa de Asteroid City é totalmente fragmentada e descontinuada, o que dificulta nossa adesão incondicional. A frieza e distanciamento das situações e personagens não facilitam nem um pouco o mergulho na história. Aliás, pelo contrário, nos afasta do envolvimento. Um dos pontos cruciais que contribuem para este afastamento é a ausência de um protagonista consistente. Em Grande Hotel Budapeste (2014), por exemplo, que apresentava uma estrutura dramática semelhante, tínhamos a figura do Monsieur Gustave, interpretado por Ralph Fiennes, que acompanhávamos com interesse, pois fazia a costura em todas as subtramas.


O isolamento da cidadezinha, que em dado momento é submetida a um processo de quarentena, nos remete a uma analogia ao período pandêmico a que fomos submetidos recentemente. Uma outra referência de Asteroid City, com seu misto de paranoia militarista, ameaças do exterior e uma bem-humorada homenagem aos filmes de ficção científica da década de 50, traz ecos de Marte Ataca, de Tim Burton.

Um fato cada vez mais evidente é que Wes Anderson está excessivamente refém de uma estética, que tem lá seu charme como estilo, como assinatura autoral, mas não avança e inibe novos olhares. Quando a construção estética é prioritária, em desfavor do ritmo, há algo de errado acontecendo. Em Asteroid City esta fragilidade do cinema de Anderson fica escancarada. A pegada retrô está lá. Assim como a criativa paleta de cores, as composições cênicas de encher os olhos, o humor nonsense, tipos bizarros, elenco recheado de estrelas. Mas o conjunto definitivamente não funciona na plenitude desta vez.

Asteroid City é lindo como uma bolha de sabão. Mas é igualmente vazio e fugaz.

Assista ao trailer: Asteroid City


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS

janeladatela@gmail.com