Jogador profissional de beisebol, Ray (Wyatt
Russell), prestes a se aposentar, por conta de uma lesão, muda-se com a esposa
e filhos para uma nova casa com piscina no quintal. Local perfeito fazer suas
sessões de fisioterapia com exercícios na água. Aos poucos percebe uma melhora
significativa em seu estado físico. Será que a água da piscina tem algo a ver
com isso? Que segredos sombrios se escondem nas profundezas daquela piscina?
O
terror Mergulho Noturno (Night swim), dirigido por Bryce McGuire,
se constrói a partir do medo ancestral da água, fonte de benesses para o ser
humano na mesma medida oposta em que, eventualmente, é causador de tragédias
climáticas. O medo provém não do que enxergarmos sobre sua superfície, mas do
que poderia haver de oculto em águas profundas.
Desde
Poltergeist (1982) e Dama da Água (2006) uma piscina não provocava
arrepios nas plateias. Caso a pretensão de Mergulho
Noturno tenha sido incutir nas pessoas o medo de mergulhar em uma piscina à
noite, falhou miseravelmente. Guardadas as devidas (imensas) proporções que os
distinguem, talvez a tentativa tenha sido repetir o efeito Tubarão que instaurou o pavor em algumas gerações com banhos em mar
aberto. Medo, aliás, que perdura até hoje, quase meio século depois do
lançamento. Mas em Mergulho Noturno o medo é rápido, indolor,
descartável e nem um pouco memorável.
Misto
de terror e suspense, o longa foi inspirado em um curta-metragem de quatro
minutos realizado em 2014 pelo mesmo realizador Bryce McGuire em parceria com
Rod Blackhurst (que no longa assina apenas como coroteirista). Portanto,
estamos diante de uma trama estendida, que preserva o conceito original da
existência de uma “piscina assassina”, mas agrega sem muita convicção uma
mitologia maligna que tenta minimamente dar sentido a um enredo que se sustenta
precariamente.
Mergulho
Noturno, uma produção da Blumhouse, repete o enredo da casa
assombrada e da família sob ataque de forças malignas. Já vimos este filme
dezenas de vezes, com resultados imensamente superiores. O elenco fraco carece
de carisma, fato que contribui decisivamente para a completa ausência de
empatia com os espectadores. Pouco nos importamos com os destinos dos
personagens com os quais não nos identificamos e pelos quais não torcemos em
momento algum.
A
trama de Mergulho Noturno segue passo
a passo o formulismo dos filmes de terror mais recentes. A evolução dos
recursos de computação digital resolveu muitos problemas práticos das
produções. Virtualmente qualquer solução estética e visual é possível. Essa é a
parte boa do processo. A face negativa é a acomodação criativa dos realizadores
que costumeiramente tornam-se explícitos demais deixando pouco espaço para a
imaginação dos espectadores completarem as lacunas. Tudo é entregue pronto e
mastigado. A dificuldade impõe soluções criativas e artísticas, em oposição,
recursos ilimitados conduzem a um impasse criativo. Este sim é o verdadeiro
“Mal” dos filmes de terror das últimas duas décadas.
Ainda
que Mergulho Noturno não peque
exatamente por esta questão de uso massivo de recursos de computação digital (é
até modesto nesta questão), ele é raso por sua concepção como um todo,
particularmente por não cumprir a contento uma premissa interessante. No gênero
terror e assemelhados, raramente há um sopro de novidade. E Mergulho Noturno certamente não é um
destes momentos. O filme, que prometeu mergulhar fundo na experiência do terror
doméstico, ficou na verdade boiando no rasinho da piscina.
Assista ao trailer: Mergulho Noturno
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS –
Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul
Contato: janeladatela@gmail.com