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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Mergulho Noturno: poder maligno das águas

 


Jogador profissional de beisebol, Ray (Wyatt Russell), prestes a se aposentar, por conta de uma lesão, muda-se com a esposa e filhos para uma nova casa com piscina no quintal. Local perfeito fazer suas sessões de fisioterapia com exercícios na água. Aos poucos percebe uma melhora significativa em seu estado físico. Será que a água da piscina tem algo a ver com isso? Que segredos sombrios se escondem nas profundezas daquela piscina?

O terror Mergulho Noturno (Night swim), dirigido por Bryce McGuire, se constrói a partir do medo ancestral da água, fonte de benesses para o ser humano na mesma medida oposta em que, eventualmente, é causador de tragédias climáticas. O medo provém não do que enxergarmos sobre sua superfície, mas do que poderia haver de oculto em águas profundas.


Desde Poltergeist (1982) e Dama da Água (2006) uma piscina não provocava arrepios nas plateias. Caso a pretensão de Mergulho Noturno tenha sido incutir nas pessoas o medo de mergulhar em uma piscina à noite, falhou miseravelmente. Guardadas as devidas (imensas) proporções que os distinguem, talvez a tentativa tenha sido repetir o efeito Tubarão que instaurou o pavor em algumas gerações com banhos em mar aberto. Medo, aliás, que perdura até hoje, quase meio século depois do lançamento. Mas em Mergulho Noturno o medo é rápido, indolor, descartável e nem um pouco memorável.

Misto de terror e suspense, o longa foi inspirado em um curta-metragem de quatro minutos realizado em 2014 pelo mesmo realizador Bryce McGuire em parceria com Rod Blackhurst (que no longa assina apenas como coroteirista). Portanto, estamos diante de uma trama estendida, que preserva o conceito original da existência de uma “piscina assassina”, mas agrega sem muita convicção uma mitologia maligna que tenta minimamente dar sentido a um enredo que se sustenta precariamente.


Mergulho Noturno, uma produção da Blumhouse, repete o enredo da casa assombrada e da família sob ataque de forças malignas. Já vimos este filme dezenas de vezes, com resultados imensamente superiores. O elenco fraco carece de carisma, fato que contribui decisivamente para a completa ausência de empatia com os espectadores. Pouco nos importamos com os destinos dos personagens com os quais não nos identificamos e pelos quais não torcemos em momento algum.

A trama de Mergulho Noturno segue passo a passo o formulismo dos filmes de terror mais recentes. A evolução dos recursos de computação digital resolveu muitos problemas práticos das produções. Virtualmente qualquer solução estética e visual é possível. Essa é a parte boa do processo. A face negativa é a acomodação criativa dos realizadores que costumeiramente tornam-se explícitos demais deixando pouco espaço para a imaginação dos espectadores completarem as lacunas. Tudo é entregue pronto e mastigado. A dificuldade impõe soluções criativas e artísticas, em oposição, recursos ilimitados conduzem a um impasse criativo. Este sim é o verdadeiro “Mal” dos filmes de terror das últimas duas décadas.


Ainda que Mergulho Noturno não peque exatamente por esta questão de uso massivo de recursos de computação digital (é até modesto nesta questão), ele é raso por sua concepção como um todo, particularmente por não cumprir a contento uma premissa interessante. No gênero terror e assemelhados, raramente há um sopro de novidade. E Mergulho Noturno certamente não é um destes momentos. O filme, que prometeu mergulhar fundo na experiência do terror doméstico, ficou na verdade boiando no rasinho da piscina.

Assista ao trailer: Mergulho Noturno 

 

Jorge Ghiorzi

Membro da ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul

Contato: janeladatela@gmail.com