Acredite se quiser. A saga da casa assombrada “Amityville”
chega ao seu 10º (!) capítulo. Iniciada em 1979, com Horror em Amityville, a série de filmes é desigual e na verdade
nunca despertou grande interesse. Isto explica porque apenas cinco produções
foram exibidas nos cinemas, as demais ou foram direcionadas para a TV ou distribuídas
diretamente para o mercado de home vídeo.
O grande apelo do filme original foi o fato de ter sido baseado na história
verídica do massacre de uma família, supostamente motivado por forças malignas que
habitariam uma casa em Amityville (EUA).
Passados quase 40 anos, os espíritos demoníacos
seguem assombrando o casarão. E o cinema também. Afinal, sempre há novos incautos
dispostos a levar velhos sustos. Só isto explica a existência deste Amityville
– O Despertar (Amityville: The Awakening), uma produção absolutamente desnecessária que
nada acrescenta à mitologia da franquia, a não ser alguns dólares a mais nos
bolsos dos produtores.
O endereço é o mesmo: Ocean Avenue, 112 – Long Island.
Apesar de um passado assustador, a casa responsável por uma série de mortes violentas
continua de pé, a espera de novos moradores. E eles chegam: uma família formada
por uma mãe, Joan (Jennifer Jason Leigh), e seus três filhos, a adolescente
Belle (Bella Thorne), a pequena Juliet (McKenna Grace), e o também adolescente
James (Cameron Monaghan), que vive em coma vegetativo após um acidente, preso a
uma cama numa pequena UTI doméstica montada no quarto.
Logo a casa começa a manifestar seus poderes, que
afetam inicialmente James que gradualmente revela pequenos sinais de que
poderia estar despertando do coma. Paralelamente, Belle descobre o verdadeiro
passado da casa (que a família ignorava!), e liga os pontos da situação: os
poderes malignos do local estão se apossando de seu irmão.
Amityville
– O Despertar, a exemplo de
muitas outras franquias e séries de longa duração, faz uso daquele truquezinho
esperto que visa conquistar a atenção e a empatia das novas plateias: os
protagonistas são sempre adolescentes. Os adultos são meros coadjuvantes que
apenas cumprem uma função dramática secundária. Nem sempre funciona, é verdade.
E aqui estamos diante de um caso destes. Os personagens são por demais rasos e
o elenco pouco ajuda a superar este problema.
Isto para não falarmos de um roteiro que não se
decide por qual caminho seguir. Por vezes abre algumas possibilidades
interessantes de abordagem, mas desperdiça todas elas. A mais flagrante é o
equívoco em não seguir no caminho de um exercício de meta-linguagem, semelhante
ao adotado em Pânico, onde os
personagens eram inseridos num universo fictício autorreferente, com plena
consciência de estarem em um filme de terror. Em dado momento os protagonistas
adolescentes de Amityville – O Despertar
se referem ao passado da casa como um fato real que gerou um filme, o citado Horror em Amityville de 1979, que
inclusive assistem em DVD numa sessão coletiva em casa. Seria sem dúvida um
caminho muito estimulante a seguir, mas o filme dirigido por Franck Khalfoun
(de P2 – Sem Saída e Maníaco) não embarca nesta viagem. Opta
em seguir a trilha preguiçosa de tentar pregar sustos gratuitos e forçados na
plateia a cada dez minutos.
Desconexo em sua lógica e desleixado em suas
soluções fáceis (absolutamente inconvincentes) O Despertar não consegue sequer a façanha mínima de se apresentar
como um filme de terror digno de nota. É um equívoco que decepciona do primeiro
ao último minuto. Que os espíritos do mal que habitam aquela casa mal
assombrada sejam deixados em paz, de uma vez por todas. Fica a dica.