quarta-feira, 9 de agosto de 2023

A Era de Ouro: a música não pode parar

 

O que Donna Summer, Kiss, Gladys Knight e Village People têm em comum? A resposta é: Neil Bogart. Quem é Neil Bogart? Ele foi um executivo do mercado fonográfico, criador da Casablanca Records, apontada como a maior gravadora independente de todos os tempos, e descobridor de talentos musicais com potencial de sucesso comercial, como essa turma aí já citada e outros tantos.

Neil Bogart era um sonhador e um gênio em sua área de atuação. Ele foi um dos primeiros empresários e empreendedores do mundo do chamado show biz a entender a música popular moderna (a partir dos anos 60) como uma experiência para o público. O valor não estava apenas na música em si ou na venda de LPs. Em sua visão tratava-se de um pacote completo: discos, shows, merchandising, excursões, execução em rádios, etc. Parece óbvio hoje, mas era inovador e ousado no início dos anos 70, quando Neil Bogart “descobriu” e contratou seu primeiro nome na música: o grupo Kiss.


Falecido há 41 anos, Neil Bogart ganha uma cinebiografia em A Era de Ouro (Spinning gold, 2023), que retrata os bastidores e a trajetória da criação da gravadora Casablanca, da quase falência até o sucesso estrondoso na segunda metade dos anos 70. O legado de Bogart foi levado às telas por seu filho, Timothy Scott Bogart, roteirista e diretor do longa-metragem. Isto já dá a senha do que assistiremos nas pouco mais de duas horas de filme. A cinebiografia é 100% oficialista, chapa branca mesmo, ao apresentar os fatos, sejam eles verídicos na totalidade ou parcialmente reinterpretados, mas sempre favoráveis a seu protagonista. Ainda que este fato possa eventualmente macular o contexto histórico e a realidade dos fatos, vale ressaltar que a narrativa é muito envolvente e a trilha sonora não deixa ninguém indiferente.


A Era de Ouro é nostálgico e memorialista, com efeitos distintos na plateia, ao revelar um contraste geracional. Aqueles contemporâneos da Era Disco, quando a rainha Donna Summer comandava as pistas de dança, mergulham fundo no momento. No entanto, para os milênios da Geração Z tudo pode soar um tanto cafona e desinteressante.

O filme é uma elegia ao nome e à obra de Neil Bogart, uma espécie de aventureiro romântico em seu embate contra as gigantes que dominavam o mercado fonográfico. Neste aspecto a produção capta nossa empatia, ainda que Bogart, em certa medida possa ter sido apenas uma espécie de herói-bandido muito bem sucedido.


O passado do empresário é repleto de histórias um tanto farsescas, que só reforçam o mito. Ele foi divulgador de gravadora, dançarino, vocalista de um grupo de rock (com um único sucesso) e ator pornô (segundo consta, uma única vez). O grande John Ford já disse que quando a lenda é mais interessante que a realidade - ou maior que o fato, segundo algumas versões -, imprima-se a lenda. Timothy Scott Bogart parece ter se inspirado muito neste princípio ao recriar a história de seu pai.

Alternando episódios marcantes da trajetória de Neil Bogart com recriação de apresentações musicais dos principais artistas do casting da Casablanca Records, A Era de Ouro tem pelo menos uma sequência marcante, definidora do momento de virada de chave que determinou o sucesso da gravadora: a sessão de regravação da música I Feel Love, de Donna Summer, o futuro sucesso global que salvou a Casablanca da falência.


Neil Bogart é interpretado pelo ator e cantor Jeremy Jordan. Em 2013 Justin Timberlake chegou a assinar contrato para estrelar a futura cinebiografia. Vale lembrar que A Era de Ouro não é exatamente a primeira vez que Neil Bogart é recriado no cinema. Em 1980 a comédia A Música Não Pode Parar, uma fake biografia da criação do grupo Village People (estrelada pelos próprios integrantes), apresentava um personagem parcialmente baseado em Bogart. O filme foi uma bomba monumental tão gigante que foi a inspiração para a criação dos prêmios Framboesa de Ouro. 

Assista ao trailer: A Era de Ouro


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS

janeladatela@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário