O que Donna
Summer, Kiss, Gladys Knight e Village People têm em comum? A resposta é: Neil
Bogart. Quem é Neil Bogart? Ele foi um executivo do mercado fonográfico,
criador da Casablanca Records, apontada como a maior gravadora independente de
todos os tempos, e descobridor de talentos musicais com potencial de sucesso
comercial, como essa turma aí já citada e outros tantos.
Neil Bogart era um
sonhador e um gênio em sua área de atuação. Ele foi um dos primeiros
empresários e empreendedores do mundo do chamado show biz a entender a
música popular moderna (a partir dos anos 60) como uma experiência para o
público. O valor não estava apenas na música em si ou na venda de LPs. Em sua
visão tratava-se de um pacote completo: discos, shows, merchandising,
excursões, execução em rádios, etc. Parece óbvio hoje, mas era inovador e
ousado no início dos anos 70, quando Neil Bogart “descobriu” e contratou seu
primeiro nome na música: o grupo Kiss.
Falecido há 41
anos, Neil Bogart ganha uma cinebiografia em A Era de Ouro
(Spinning gold, 2023), que retrata os bastidores e a trajetória da criação da
gravadora Casablanca, da quase falência até o sucesso estrondoso na segunda
metade dos anos 70. O legado de Bogart foi levado às telas por seu filho,
Timothy Scott Bogart, roteirista e diretor do longa-metragem. Isto já dá a
senha do que assistiremos nas pouco mais de duas horas de filme. A
cinebiografia é 100% oficialista, chapa branca mesmo, ao apresentar os fatos,
sejam eles verídicos na totalidade ou parcialmente reinterpretados, mas sempre
favoráveis a seu protagonista. Ainda que este fato possa eventualmente macular
o contexto histórico e a realidade dos fatos, vale ressaltar que a narrativa é
muito envolvente e a trilha sonora não deixa ninguém indiferente.
A Era de Ouro é nostálgico e
memorialista, com efeitos distintos na plateia, ao revelar um contraste
geracional. Aqueles contemporâneos da Era Disco, quando a rainha Donna Summer
comandava as pistas de dança, mergulham fundo no momento. No entanto, para os
milênios da Geração Z tudo pode soar um tanto cafona e desinteressante.
O filme é uma
elegia ao nome e à obra de Neil Bogart, uma espécie de aventureiro romântico em
seu embate contra as gigantes que dominavam o mercado fonográfico. Neste
aspecto a produção capta nossa empatia, ainda que Bogart, em certa medida possa
ter sido apenas uma espécie de herói-bandido muito bem sucedido.
O passado do
empresário é repleto de histórias um tanto farsescas, que só reforçam o mito.
Ele foi divulgador de gravadora, dançarino, vocalista de um grupo de rock (com
um único sucesso) e ator pornô (segundo consta, uma única vez). O grande John Ford
já disse que quando a lenda é mais interessante que a realidade - ou maior que
o fato, segundo algumas versões -, imprima-se a lenda. Timothy Scott Bogart
parece ter se inspirado muito neste princípio ao recriar a história de seu pai.
Alternando episódios
marcantes da trajetória de Neil Bogart com recriação de apresentações musicais
dos principais artistas do casting da Casablanca Records, A Era de
Ouro tem pelo menos uma sequência marcante, definidora do momento de virada
de chave que determinou o sucesso da gravadora: a sessão de regravação da
música I Feel Love, de Donna Summer, o futuro sucesso global que salvou
a Casablanca da falência.
Neil Bogart é
interpretado pelo ator e cantor Jeremy Jordan. Em 2013 Justin Timberlake chegou
a assinar contrato para estrelar a futura cinebiografia. Vale lembrar que A
Era de Ouro não é exatamente a primeira vez que Neil Bogart é recriado no
cinema. Em 1980 a comédia A Música Não Pode Parar, uma fake biografia da
criação do grupo Village People (estrelada pelos próprios integrantes),
apresentava um personagem parcialmente baseado em Bogart. O filme foi uma bomba
monumental tão gigante que foi a inspiração para a criação dos prêmios
Framboesa de Ouro.
Assista ao trailer: A Era de Ouro
Jorge Ghiorzi /
Membro da ACCIRS
janeladatela@gmail.com