A obra de Edgar
Allan Poe é fonte inesgotável de inspiração para o cinema. Material criado pela
imaginativa mente literária de Poe já foi utilizado de forma literal em
inúmeras adaptações cinematográficas fiéis ao original. Há também outras tantas
versões apenas parcialmente inspiradas nas tramas criadas pelo escritor. Este é
o caso de Toc Toc Toc – Ecos do Além (Cobweb, 2023), que tem como
base o conto “The Tell-Tale Heart”, escrito em 1843.
A primeira – mas
não única – grande alteração do conto original foi a transposição da ação do
século XIX para os dias contemporâneos. Afora isso, o roteiro incorporou ainda temas
atuais como bullying, abuso infantil, maus-tratos e abandono parental.
Na história, que transcorre nos dias que antecedem o Halloween, Peter, um
menino de oito anos, é atormentado por um misterioso e constante barulho que
vem de dentro da parede de seu quarto. Seus pais insistem que os ruídos e vozes
estão apenas em sua imaginação. À medida que o medo de Peter se intensifica,
ele acredita que seus pais podem estar escondendo um segredo perigoso e
questiona a confiança deles. Quando descobre que os sons são
realmente reais, Peter tem a certeza que os pais ocultam um terrível segredo e
inicia uma busca para descobrir a verdade.
A
produção é de Seth Rogen, que tem se mostrado um produtor bastante ativo. Esta
é sua terceira produção a entrar em cartaz em 2023, após Loucas em Apuros
e As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, além da série de animação Invencível,
no Prime Video, o serviço de streaming da Amazon. A direção de Toc Toc Toc – Ecos
do Além é de Samuel Bodin, da série Marianne, da
Netflix.
Um
dos grandes acertos do roteiro, assinado por Chris Thomas
Devlin, de O Massacre da Serra Elétrica (2022),
foi estabelecer a perspectiva da narrativa a partir do ponto de vista do
garoto, em quase sua totalidade. Eventualmente, em poucos momentos, nosso
entendimento da história passa pela percepção da personagem da professora. No
mais das vezes, tudo o que se refere aos pais de Peter nos é sonegado, causando
no espectador a mesma sensação de desorientação vivenciada pelo garoto. Desta
decisão decorre um dos principais destaques da produção. Como filme de terror Toc
Toc Toc sai do lugar comum do gênero, que tende a reprisar indefinidamente fórmulas
recorrentes, ao reverter expectativas apostando em provocar menos sustos
gratuitos e investir mais em uma narrativa climática solidamente ancorada no suspense.
Foi bem sucedido na acertada escolha.
Contribui
decisivamente para o bom resultado do suspense o fato de que a entidade que
vive por trás das paredes não é exatamente um ser metafísico ou sobrenatural. Pelo
contrário, é uma criatura física - de carne e osso, digamos -, pois sequer
consegue superar a barreira física de uma simples parede ou mesmo de uma mera
porta. Portanto, o pavor torna-se mais real e palpável. Afinal, o que aconteceu
com Peter? O final aberto, livre para interpretações, é apenas mais um
ingrediente que captura nosso interesse e potencializa a experiência.
Toc Toc Toc – Ecos
do Além é uma agradável surpresa positiva. Um thriller de terror que não prometia nada e entregou tudo.
Assista ao trailer: Toc Toc Toc – Ecos do Além
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS – Associação de
Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul
Contato: janeladatela@gmail.com