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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Mafia Mamma – De Repente Criminosa: poderosa chefona


A presença feminina, usualmente relegada ao segundo plano, quando muito, em produções que tem o universo mafioso como tema, ganha protagonismo absoluto na comédia Mafia Mamma – De Repente Criminosa (Mafia Mamma), estrelada por Toni Collette, sob direção de Catherine Hardwicke (de Aos Treze, Crepúsculo e A Garota da Capa Vermelha).

Kristin (Collette) é uma típica dona de casa, mãe e esposa de uma família suburbana nos Estados Unidos. Certo dia um telefonema vira sua vida pelo avesso. Descobre que seu avô faleceu na Itália e recebe uma convocação, quase intimação, para comparecer ao funeral e tratar de assuntos familiares. Lá descobre que herdou um império da máfia que está em conflito com uma famiglia adversária e ela, a inocente dona de casa, foi escolhida para ser a nova chefona da família, a capo di tutti capi.

Personagens inocentes lançados em situações inesperadas é um tema clássico e recorrente no cinema, especialmente em comédias. De imediato podemos lembrar do maravilhoso Muito Além do Jardim, onde o simplório jardineiro interpretado por Peter Sellers chega até aos altos escalões da Casa Branca como conselheiro, por conta de uma sucessão de mal entendidos, felizes coincidências, instinto de sobrevivência e muita sorte.


Uma referência permanente que pontua Mafia Mamma é o clássico dos clássicos, O Poderoso Chefão de Francis Coppola. Seja por citações literais e metalinguísticas ao nome do filme (que a Kristin de Toni Collete afirma nunca ter assistido), seja por referências estéticas como a presença de laranjas (que sempre prenunciam a morte nos filmes de Coppola) ou pela reprodução da cena da porta fechando no momento que o novo Don (no caso, Donna) recebe a reverência do beija-mão de seus fiéis seguidores. Uma outra ponte possível entre Mafia Mamma e O Poderoso Chefão, é um espelhamento entre Kristin e Michael Corleone. Ambos os mais improváveis herdeiros de um império mafioso, no entanto, por um golpe do destino foram os escolhidos para liderar os rumos da famiglia em um momento crítico. No mais, param aí as referências. Os filmes percorrem caminhos completamente opostos: onde um é tragédia e dor, o outro é comédia e diversão.


A trajetória da dona de casa, com um casamento infeliz, que parte para “novas aventuras” está muito bem representada pelo arco da personagem Kristin, a poderosa chefona. Ao romper com seu passado acomodado e submisso ela descobre um novo propósito na vida. Na trama, de forte viés feminino, os homens ocupam uma de duas possibilidades: ou são babacas ou são tóxicos. Quando não sendo os dois ao mesmo tempo.

A mensagem das mulheres no poder, no comando, vem embalada em uma comédia muito bem construída e, acima de tudo, divertida. O saldo final é solidamente positivo graças ao talento indiscutível de Toni Collette, uma das atrizes mais versáteis e competentes da sua geração. Ela consegue brilhar em qualquer gênero: drama, comédia ou horror. Contribui muito para o alto astral de Mafia Mamma o elenco de coadjuvantes, todos ótimos e admiráveis. O único ponto levemente dissonante, curiosamente, é o outro grande nome da produção, a italiana Monica Bellucci. Sua personagem tem pouco a acrescentar a trama (apesar da expectativa que se constrói), é dispensável, nunca diz a que veio e parece ter sido interpretada no piloto automático.


A própria Toni Collette é uma das produtoras de Mafia Mamma – De Repente Criminosa, e, tendo em vista o bom resultado, não seria nenhuma surpresa se estivermos diante do nascimento de uma nova franquia de filmes estrelados pela poderosa chefona. Sim, Collette poderá ter uma série para chamar de sua.

Assista ao trailer: Mafia Mamma – De Repente Criminosa


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS

janeladatela@gmail.com