Doze horas, sem
lei e sem ordem. Doze horas onde a regra geral é o “vale tudo”. Doze horas onde
crimes são permitidos sem as penas da condenação legal. Esta é a premissa da
franquia de filmes da série “Noite de Crime”, amparada na tese sócio/política,
de fundo fascista, que propõe uma catarse coletiva como forma de dominação e
controle da violência latente provocada pela tensão social, racial, étnica e
econômica. Um experimento social, restrito a um território delimitado,
destinado a expurgar todos os males reprimidos.
O universo do “Expurgo”
(The Purge) é uma criação do roteirista e diretor James DeMonaco, realizador
dos três primeiros filmes: Uma Noite de
Crime (2013) Uma Noite de Crime 2:
Anarquia (2014), Uma Noite de Crime 3
(também conhecido como 12 Horas para
Sobreviver: O Ano da Eleição, de 2016). O quarto filme foi lançado em 2018,
A Primeira Noite de Crime, dirigido
por Gerard
McMurray.
Agora chegamos ao quinto
expurgo com Uma Noite de Crime – A Fronteira (The Forever Purge) que, bem
como diz o título, expande a anarquia até os limites do território dos Estados
Unidos. A mudança da ação para as fronteiras com o México traz novos elementos
para explorar os efeitos da violência, do preconceito e da repressão contra os
mexicanos emigrantes ilegais que arriscam a vida para “tentar a vida na América”.
Além, claro, de fazer referência à era Trump e seu muro mexicano.
Adela (Ana de la Reguera) e seu
marido Juan (Tenoch Huerta) vivem no Texas. Juan trabalha para a rica família
Tucker em uma de suas fazendas. Ele impressiona o patriarca Tucker, Caleb (Will
Patton), mas isso só alimenta o ciúme do filho do fazendeiro, Dylan (Josh Lucas),
que não faz questão de esconder seu preconceito contra os “chicanos”. Na manhã
seguinte ao Expurgo, que deveria durar apenas 12 horas, as gangues permanecem
agindo livremente e atacam a família Tucker. Num gesto de lealdade Juan salva
seus patrões da morte. Juntos tentam sobreviver empreendendo uma fuga para o
México, escapando do Expurgo que fugiu do controle do Estado e ameaça devastar
toda a nação norte-americana.
Com roteiro do criador James DeMonaco e direção de Everardo Valerio Gout,
Uma Noite de Crime – A Fronteira sofre do mesmo problema dos
demais filmes da série: a abordagem fica aquém do tema a que se propõe. A premissa
é por demais promissora, mas nunca encontrou o tom adequado na abordagem. O
tratamento é sempre raso e desleixado. A opção pelo entretenimento como filme
de horror com ritmo de filme de ação está sempre em primeiro plano. Parece clamar
ao público: “não perca tempo, não pense muito, apenas divirta-se”.
A falta de ambição fica
evidente mais uma vez. E assim, com este formulismo calculado, a série
esgota-se em si mesma, sem perspectiva de apresentar algo além de clichês,
sequências de ação apenas “ok”, personagens nulos e uma boa ideia que se esvai,
filme após filme.
Assista ao trailer: Uma Noite de Crime – A Fronteira
por Jorge Ghiorzi