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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O Homem do Saco: lenda popular reciclada

Uma possível surpresa para aqueles que assistirem O Homem do Saco (Bagman, 2024) é descobrir que essa não é uma lenda exclusivamente brasileira. Por aqui essa figura sinistra que apavora o imaginário infantil é mais conhecida com o nome de Velho do Saco, uma espécie de andarilho que recolhe as crianças malcriadas e desobedientes as colocando em um saco e levando para local desconhecido. O fato é que este personagem simbólico está presente na cultura popular de muitos países, com predominância naqueles de língua latina, com pequenas variações nas mitologias locais. 

Então neste O Homem do Saco temos uma versão de como esta figura é tratada nas terras do Tio Sam. Nesta (inexistente) disputa de versões estamos em larga vantagem. O nosso tradicional Velho do Saco raiz é muito mais apavorante do que esse tal de Bagman, com sua sacola de couro com zíper. A direção é do cineasta britânico Colm McCarthy, que possui grande experiência na TV onde dirigiu vários episódios para séries como Doctor Who, Sherlock, Peaky Blinders e Black Mirror.



A história que assombra as crianças ganha vida própria em O Homem do Saco. A entidade das sombras que povoa os pesadelos de várias gerações passa a perseguir uma família. Tudo começa no passado quando o pequeno Patrick vive uma experiência perturbadora que deixa traumas que o acompanham por toda a vida. Anos, depois, já adulto, Patrick (Sam Claflin) está casado, com um filho. Após retornar para a cidade natal, para cuidar de empresa madeireira que foi de seu pai, Patrick, sua esposa e filho passam a ser perturbados por uma entidade misteriosa que ronda a casa onde moram. Será o Homem do Saco que retornou para acertar as contas do passado? 

Para esta versão cinematográfica de uma lenda popular o roteiro de O Homem do Saco incorporou alguns elementos que não fazem parte da mitologia original atribuída à tradição do personagem. Esta proposta na verdade acabou por enfraquecer o conteúdo de terror que é inerente ao mito. Há claramente um propósito de trabalhar o personagem Homem do Saco como um personagem pop, com potencial para assegurar futuras sequências. Falhou enormemente. O filme é raso, recheado de clichês e uso demasiado do truque do jump scares, aqueles sustos repentinos que pretendem fazer a plateia saltar da poltrona.


O filme pretende acrescentar camadas de complexidade em uma história que não é nada menos que banal, já vista tantas vezes, mas aqui executada com carência absoluta de criatividade. A narrativa coloca gratuitamente no mesmo saco (desculpe o trocadilho involuntário!) algumas linhas narrativas que não se comunicam nem se justificam. O fato é que o filme não convence em momento algum. Como diziam nossas avós, “saco vazio não para em pé”. Sábias palavras. O único saco que O Homem do Saco enche é o da plateia.

Assista ao trailer: O Homem do Saco


Jorge Ghiorzi

Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)

Contato: janeladatela@gmail.com  /  jghiorzi@gmail.com

@janeladatela