Uma possível surpresa para aqueles que
assistirem O Homem do Saco (Bagman, 2024) é descobrir que essa
não é uma lenda exclusivamente brasileira. Por aqui essa figura sinistra que
apavora o imaginário infantil é mais conhecida com o nome de Velho do Saco, uma
espécie de andarilho que recolhe as crianças malcriadas e desobedientes as
colocando em um saco e levando para local desconhecido. O fato é que este
personagem simbólico está presente na cultura popular de muitos países, com
predominância naqueles de língua latina, com pequenas variações nas mitologias
locais.
Então neste O Homem do
Saco temos uma versão de como esta figura é tratada nas terras do Tio Sam. Nesta
(inexistente) disputa de versões estamos em larga vantagem. O nosso tradicional
Velho do Saco raiz é muito mais apavorante do que esse tal de Bagman, com sua
sacola de couro com zíper. A direção é do cineasta britânico Colm McCarthy, que
possui grande experiência na TV onde dirigiu vários episódios para séries como Doctor
Who, Sherlock, Peaky Blinders e Black Mirror.
A história que assombra as
crianças ganha vida própria em O Homem do Saco. A entidade das sombras
que povoa os pesadelos de várias gerações passa a perseguir uma família. Tudo
começa no passado quando o pequeno Patrick vive uma experiência perturbadora
que deixa traumas que o acompanham por toda a vida. Anos, depois, já adulto,
Patrick (Sam Claflin) está casado, com um filho. Após retornar para a cidade
natal, para cuidar de empresa madeireira que foi de seu pai, Patrick, sua
esposa e filho passam a ser perturbados por uma entidade misteriosa que ronda a
casa onde moram. Será o Homem do Saco que retornou para acertar as contas do
passado?
Para esta versão
cinematográfica de uma lenda popular o roteiro de O Homem do Saco
incorporou alguns elementos que não fazem parte da mitologia original atribuída
à tradição do personagem. Esta proposta na verdade acabou por enfraquecer o
conteúdo de terror que é inerente ao mito. Há claramente um propósito de
trabalhar o personagem Homem do Saco como um personagem pop, com potencial
para assegurar futuras sequências. Falhou enormemente. O filme é raso, recheado
de clichês e uso demasiado do truque do jump scares, aqueles sustos
repentinos que pretendem fazer a plateia saltar da poltrona.
O filme pretende acrescentar
camadas de complexidade em uma história que não é nada menos que banal, já
vista tantas vezes, mas aqui executada com carência absoluta de criatividade. A
narrativa coloca gratuitamente no mesmo saco (desculpe o trocadilho involuntário!)
algumas linhas narrativas que não se comunicam nem se justificam. O fato é que
o filme não convence em momento algum. Como diziam nossas avós, “saco vazio não
para em pé”. Sábias palavras. O único saco que O Homem do Saco enche é o
da plateia.
Assista ao trailer: O Homem do Saco
Jorge Ghiorzi
Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de
Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do
Sul)
Contato: janeladatela@gmail.com /
jghiorzi@gmail.com
@janeladatela