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quarta-feira, 5 de março de 2025

O Macaco: brinquedo assassino

 

Adaptado de um conto de Stephen King, O Macaco (The Monkey), com direção de Osgood Perkins (do recente Longlegs), é uma experiência cinematográfica que mergulha o espectador em uma narrativa que oscila entre o horror visceral, o humor negro e uma reflexão sobre a morte e o trauma herdado. Perkins constrói uma montanha-russa emocional, capaz de provocar risos, choques e sim, uma diversão insana.

A cena de abertura já é um exemplo da forma como o filme pretende estabelecer sua atmosfera. Um piloto de avião sério e confiável, introduz a ameaça do macaco com uma tensão genuína. A sequência é eletrizante: alguém é morto e o piloto se envolve em uma batalha feroz com o brinquedo amaldiçoado, gritando na noite enquanto o macaco revela sua natureza maligna. Essa introdução, repleta de energia bizarra, prepara o terreno para o que está por vir, deixando o espectador com o queixo no chão antes mesmo do título aparecer na tela.

Quando a história avança para a Nova Inglaterra dos anos 1990, o macaco ressurge, desta vez para assombrar os filhos gêmeos do piloto, Hal e Bill Shelburn, interpretados por Theo James em um duplo papel. Aqui, o filme explora o fino véu entre a vida e a morte, usando o brinquedo como uma metáfora para o trauma familiar. Hal e Bill representam duas formas distintas de lidar com a perda e o medo: Hal, mais introspectivo e fechado, luta para se conectar com seu filho Petey (Colin O'Brien), enquanto Bill é o irmão mais extravagante e caótico, cuja paranoia e desenvolvimento interrompido são retratados com uma dose de humor negro. A escolha de figurino de Bill, inspirada no Superman, é um toque genial que adiciona camadas ao personagem, ao mesmo tempo que provoca risos e reforça a fragilidade humana diante da morte.

No entanto, o filme não é imune a tropeços. A transição para o foco nos irmãos Shelburn é um pouco abrupta, e nenhum dos dois personagens é apropriadamente desenvolvido. Eles funcionam mais como arquétipos — Hal como a representação da luta interna e Bill como o caos externo —, o que pode deixar o espectador desejando uma exploração mais rica de suas motivações. Ainda assim, Theo James entrega performances sólidas, trazendo vulnerabilidade e charme aos papéis, o que mantém o público investido na jornada dos irmãos para deter o macaco.

Um dos aspectos mais interessantes de O Macaco é sua abordagem ao tema do trauma herdado. O filme vai além das cicatrizes emocionais, transformando o trauma em uma força sobrenatural tangível, personificada pelo macaco. O brinquedo não é apenas um objeto amaldiçoado, mas um símbolo do legado sombrio deixado pelo pai de Hal e Bill, que abandonou a família e, de certa forma, passou adiante o fardo do medo e da morte. Essa conexão entre gerações é reforçada pela relação de Hal com seu filho Petey, criando uma cadeia traumática de custódia que questiona como o mal se perpetua através das famílias.

O diretor Osgood Perkins demonstra habilidade ao equilibrar os elementos de terror com uma narrativa emocionalmente carregada. Ele entende as necessidades centrais da história e extrai seus temas de maneira eficaz, sem perder de vista o entretenimento. O macaco, como antagonista, é ao mesmo tempo assustador e fascinante, um instrumento de destruição que desafia os personagens a confrontarem seus medos mais profundos. A trilha sonora e a fotografia sombria complementam a atmosfera opressiva, enquanto as cenas de violência são coreografadas com um impacto visceral que não deixa espaço para indiferença.

O Macaco pode ser considerada uma boa adaptação do conto de Stephen King, que não costuma ser muito feliz nas adaptações de suas obras. O filme se destaca pela atmosfera claustrofóbica e sombria, que amplificam a tensão. A direção consegue criar cenas perturbadoras, embora se renda a algumas convenções e clichês do gênero. O elenco entrega performances sólidas, mas o roteiro peca por desenvolvimentos previsíveis e explicações excessivas, que diminuem o impacto do mistério, problemas que Osgood Perkins já havia apresentado no seu filme anterior, o já citado Longlegs. A trilha sonora, no entanto, é um ponto alto, elevando os momentos de suspense. No geral, O Macaco é uma experiência prazerosa para os fãs de terror, mas que poderia ter encontrado maior relevância caso houvesse explorado com mais profundidade sua premissa original.

Assista ao trailer: O Macaco


Jorge Ghiorzi

Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)

Contato: janeladatela@gmail.com  /  jghiorzi@gmail.com

@janeladatela