1940. A Segunda Guerra mundial se alastra pela
Europa. O poder de Hitler invade e rende grandes nações. O próximo alvo da conquista
nazista é o Reino Unido. A iminência de uma invasão força a troca de primeiro
ministro na Inglaterra. A nação inglesa necessita de um político de pulso forte
para conduzir os destinos da nação naquele momento de crise extrema. A escolha
recai em Winston Churchill (Gary Oldman), que assume o posto de primeiro
ministro com uma difícil missão: resistir aos avanços das tropas alemãs. Este é
contexto histórico de O Destino de uma Nação (Darkest hour),
dirigido por Joe Wright, um drama que retrata um dos episódios mais extraordinários
da biografia de Winston Churchill, responsável por transformá-lo em mito.
Na primeira e assombrosa aparição de Winston
Churchill em cena, tão admirados ficamos que somos tentados a ficar procurando
traços da fisionomia real de Gary Oldman. Mas seu rosto está fantasticamente
diluído e mimetizado na face enrugada do primeiro ministro inglês, graças a um
soberbo trabalho de maquiagem. Passado o impacto inicial, resta apenas o
deleite para um desempenho magistral.
Já dizia o mestre John Ford: “Quando a lenda é mais interessante que a
realidade, imprima-se a lenda”.
Churchill, fazendo uso de sua notória sabedoria de raposa velha da política,
utilizou ardilosamente deste princípio. Ao sustentar seus discursos ufanistas com
uma versão fantasiosa sobre a realidade dos fatos (a Inglaterra na verdade
estava prestes a cair diante do avanço das forças nazistas), o político criou
uma narrativa idealizada, visando arrebatar o orgulho patriótico da população
do Reino Unido. Manipulou corações e mentes por meio da palavra e aglutinou as
forças do parlamento, da família real, da elite e do homem simples das classes
proletárias.
Com olhos de hoje podemos dizer que Winston
Churchill era um personalidade midiática, com total entendimento do poder da
comunicação para conquistar multidões. Seria ele um proto-youtuber? O fato é
que o primeiro ministro sabia muito bem como utilizar sua imagem poderosa e o permanente
otimismo para levantar o moral de um país à beira da rendição, fato este que reconfiguraria
totalmente o desfecho da Segunda Guerra. A imagem de um Churchill fazendo o “V”
de vitória e seu indefectível charuto nas capas dos jornais britânicos vendeu
uma imagem de poder onde na verdade havia medo. Render-se, jamais. Lutar,
sempre. Seu discurso motivador inflamou multidões e reverteu o destino
tenebroso que assombrava a ilha britânica.
Winston Churchill, obviamente, não era feito só
de virtudes, seria idealismo ingênuo de nossa parte enxergá-lo desta forma. Ele
era sim um velho ranzinza, matreiro, no mais das vezes com mais dúvidas do que
certezas. Mas, somos obrigados a concordar, era um estadista maiúsculo, de uma grandeza
que não se encontra mais. O Destino de
uma Nação não é exatamente feliz ao retratar a figura mítica do primeiro
ministro. Joe Wright sucumbe ao peso desta figura fundamental da história
inglesa, cedendo espaço para uma narrativa que se equilibra entre a adoração do
mito e o desnudamento, ainda que tímido, de sua personalidade avassaladora.
Talvez Churchill não coubesse mesmo apenas num filme limitado a um episódio
único da sua biografia.