Premiado em 2016 com Oscar da categoria, o documentário Amy
refaz a trajetória do surgimento, ascensão, glória, decadência e prematuro
desaparecimento da cantora e compositora britânica Amy Winehouse, falecida aos
míticos 27 anos, em 2011.
Nesses tempos de elevada exposição midiática a qual
estamos expostos, a disponibilidade do registro digital é uma realidade
onipresente. Ainda assim, é surpreendente a existência de tantas gravações
caseiras e semiprofissionais da trajetória de Amy, seja no âmbito privado,
familiar, seja no registro histórico dos primeiros momentos da sua meteórica
carreira.
Convencional em seu formato, mas envolvente pela
personagem retratada, o documentário foi dirigido por Asif Kapadia, o mesmo
realizador da cinebiografia Senna. Consta que a próxima empreitada de Kapadia será
um filme sobre Maradona, reafirmando assim sua vocação para ser o
documentarista oficial (!) dos famosos.
“Você sempre machuca quem você ama”
Celebridade involuntária e relutante, Amy Winehouse mostrou-se
desde cedo afetada pela excessiva exposição da sua vida. Artista movida pela
paixão, um talento espontâneo, Amy lutou a vida inteira contra a fama que a
fragilizava e consumia.
Ao retratar de forma detalhista a recusa de Amy Winehouse
ao culto às celebridades, o filme de Kapadia acaba por desenhar um cenário
crítico sobre este universo que suga e vampiriza suas vítimas-alvo. As
fraquezas emocionais de um artista podem facilmente ser potencializadas pelo
assédio invasivo. E Amy Winehouse foi uma dessas vítimas, que se refugiou no
álcool e drogas, até seu trágico fim.
“De certa forma o amor está me matando”
Documentários sobre celebridades já falecidas não trazem
surpresas sobre o final. O interesse está, portanto, na trajetória, nos fatos,
razões e motivações que determinaram o caminho. E Amy é
suficientemente rico na construção de sua narrativa para atrair um olhar mais
atento do espectador. Em destaque a comovente e sincera sequência com o cantor
Tony Bennett (seu ídolo), com quem Amy chegou a gravar um histórico dueto, e
também o momento emocionante do anuncio da melhor “Gravação do Ano” no Grammy
de 2008, “Rehab”, da própria Amy.
Ao celebrar e resgatar a vida e a música de Amy Winehouse,
o documentário, que está disponível na Netflix, é honesto, equilibrado e
contundente, sem relativizar a conduta, por vezes no mínimo questionável, da
própria artista que, voluntária ou involuntariamente, acabou por sabotar sua
curta carreira. Amy agrada aos fãs e desperta o interesse nos
curiosos.
(Publicado originalmente no portal “Movi+” em março de 2016)
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