Alguns dos episódios mais marcantes e icônicos da
geopolítica mundial dos anos 80 foram resgatados em Feito na América
(American Made) para contar a história real, pra lá de idealizada, do piloto
norte-americano Barry Seal que fez fortuna atuando ao mesmo tempo como
informante da CIA e traficante de drogas. Assim, assuntos como a Era Reagan, o
escândalo Irã-Contras e o cartel de Medelín, sem esquecer a Guerra Fria que se
expandia pela América Central, voltam a ser lembrados, porém, sob uma ótica um
tanto picaresca, mais adequada a um veículo de entretenimento como esta
produção estrelada por Tom Cruise.
Feito
na América marca o reencontro do
diretor Doug Liman com o astro Tom Cruise, depois da interessante ficção
científica No Limite do Amanhã de 2014.
Quem acompanha as séries Narcos e Conexão Escobar já deve ter ligado o
nome à pessoa. O piloto Barry Seal já apareceu como personagem secundário nas
duas produções. Agora, ele chega às telas na condição de protagonista de uma
produção hollywoodiana padrão.
Sinal dos tempos. Se há pouco mais de 30 anos Tom
Cruise conquistou os céus - e a fama - como o piloto de caça aéreo Maverick em Top Gun – Ases Indomáveis, desta vez volta
a pilotar aviões encarnando um cínico anti-herói. No final dos anos 70 Barry
Seal era piloto de voos comerciais da TWA. A vida era boa, tranquila, sem
sobressaltos. Mas faltava um tanto de emoção. A oportunidade de uma vida mais
estimulante surge quando recebe um convite para trabalhar secretamente a
serviço da CIA fazendo voos rasantes para fotografar supostas bases militares
em países da América Central, apoiados pela então União Soviética, inimigo
mortal do Tio Sam. Além de faturar um bom dinheiro extra, era diversão em
estado puro. Sem dizer que estaria trabalhando em prol da grande nação
norte-americana. Não que isto importasse realmente de fato, mas era uma boa
desculpa para aceitar uma atividade clandestina que estava às margens da
ilegalidade.
E este limite logo seria ultrapassado. Poderosos de
traficantes colombianos, dentre eles um iniciante chamado Pablo Escobar, identificam
naquele ousado piloto de aviões de pequeno porte uma oportunidade de ouro para transportar
drogas para os EUA sem despertar grandes suspeitas. Objetivo e pragmático como
sempre, Barry Seal aceita o desafio. Afinal, se estiver no inferno, abrace o
capeta. Assim inicia a ascensão, glória e desgraça de um agente duplo a serviço
de dois patrões.
Em sua versão cinematográfica o Barrry Seal
interpretado por Tom Cruise se mostra efetivamente como um inocente útil. A
motivação de ganho financeiro não parece estar na justificativa para suas
atitudes. O clásico self made man, que
está na raiz de uma nação capitalista como a norte-americana, não é o objeto de
análise de Feito na América. O que
sobressai é apenas o desejo – quase adolescente – do personagem em confrontar
as autoridades, ou mesmo o Sistema, se avançarmos no conceito. Não há razões
morais que problematizem a personalidade de Barry Seal, que, em última análise,
é um grande alienado político. Ao fim e ao cabo o que resta é apenas um grande
vazio. Um hiato de banalidades inconsequentes.
A usual câmera nervosa de Doug Liman se mostra
muito presente e seu efeito seduz a atenção do espectador dando a entender que
o que assistimos é mais e melhor do que de fato é: uma bolha de sabão, bela e
oca. Um detalhe de interesse brazuca: a fotografia é do brasileiro-paraguaio
César Charlone. Em sendo um veículo para a brilhatura individual de Tom Cruise,
duas coisas são certas: suas clássicas corridinhas e a onipresença do astro em 99%
das cenas.
Por tratar de uma história verídica Feito na América traz algum interesse
para quem deseja saber mínima e superficialmente o que foram aqueles anos 80 em
termos de política externa dos EUA. Mas não jogue todas as suas fichas nesta
versão da história. Apenas divirta-se com ela.
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