Após
uma década inteira que dedicou às produções voltadas para o público
infanto-juvenil, com destaque para a famigerada Malévola, Angelina Jolie
decidiu que era momento de retornar aos filmes, diríamos, “pra gente grande”. E
o retorno se dá pelo caminho seguro do thriller de ação, gênero onde conquistou
seus maiores êxitos de bilheteria com Tomb
Raider, O Procurado, Sr. e Srª. Smith e Salt (vamos esquecer O
Turista, ok?). E ainda vem Eternos
por aí.
Assim chegamos até
Aqueles
Que Me Desejam a Morte (Those Who Wish Me Dead, 2021), onde Angelina
apresenta seu lado mais crossfiteiro, com um papel que exige esforço físico,
força e um tanto de violência. Tudo isto temperado com uma faceta maternal, de mãe zelosa
pela prole em perigo. O perigo no caso é duplo: assassinos sanguinários e as
chamas incontroláveis que consomem a floresta. E a citada prole é apenas uma
metáfora, representada por um garoto de 12 anos perdido na mata após a morte do
pai em circunstâncias trágicas.
Mas, vamos aos fatos. Hannah
Faber (Angelina Jolie), bombeira florestal em Montana (EUA), marcada pela culpa por
acontecimento fatal que resultou na morte de três crianças num incêndio, é designada
para passar uma temporada solitária na torre de vigia que se ergue além do cume
das árvores da região. Simultaneamente, uma dupla de assassinos elimina
testemunhas de um grande caso de corrupção. Uma destas testemunhas eliminadas é
o pai do garoto Connor, que assiste sua morte quando estão em viagem de carro pelas
estradas da região. Após escapar do atentado ele vaga sem rumo pela floresta.
Neste ponto as duas linhas
narrativas da história se cruzam. A dupla formada pela bombeira e o garoto
precisa lutar pela sobrevivência para escapar, ao mesmo tempo, dos implacáveis
assassinos e do gigantesco incêndio florestal. Salvar aquele garoto representaria uma expiação e redenção da culpa pelo trágico episódio do passado da personagem.
Baseado no livro de mesmo
título de Michael Koryta - que, convenhamos, não é exatamente um título de
apelo comercial para um filme - o longa tem direção do ator e roteirista Taylor
Sheridan, que escreveu Sicário: Terra de
Ninguém (Sicário, 2015) e A Qualquer
Custo (Hell or High Water, 2016, indicado ao Oscar de Roteiro), e dirigiu
também o ótimo Terra Selvagem (Wind
River, 2017).
A narrativa de Aqueles Que Me Desejam a Morte tem como
protagonista a personagem de Angelina Jolie. Mas este protagonismo é compartilhado
com outros fortes personagens de destaque. Um deles é o Xerife Ethan interpretado
por Jon Bernthal (de Baby Driver e da
série O Justiceiro), a força policial
do lado certo da lei e da justiça que se envolve na trajetória perigosa da
bombeira Hannah. O outro destaque fica com a dupla de assassinos interpretados
por Nicholas Hoult (Mad Max: A Estrada da
Fúria) e, com potência assustadora, por Aidan Gillen, ator irlandês conhecido
pelo papel do sinistro e maquiavélico Petyr Baelish em Game of Thrones.
A sensação geral é de que
estamos diante de um thriller que optou pela trilha garantida de uma história
de suspense convencional, sem ousadias e maiores pretensões. É uma produção que
cumpre o combinado como entretenimento rápido, fácil e eficiente, sem ofender a
audiência. Sheridan fez um filme que entrega o que promete. Certamente seria uma
produção de sucesso nas antigas locadoras como atrativo disputado de final de
semana. Aliás, em termos mais amplos o filme emula exatamente isto, o retorno a
um formato padrão de entretenimento com cara de anos 80 e 90. O tema do “garoto-testemunha-chave-de-um-rumoroso-caso-de
assassinato” está longe de ser original. Já foi, dentre outros, plot básico de pelo menos dois clássicos daquele período: A Testemunha, dirigido por Peter Weir em 1985, com Harrison Ford, e O Cliente, de Joel
Schumacher, estrelado por Tommy Lee Jones e Susan Sarandon em 1994.
Assista ao trailer: Aqueles Que Me Desejam a Morte
Jorge Ghiorzi
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