sexta-feira, 28 de maio de 2021

“Aqueles Que Me Desejam a Morte”: chamas da vingança


Após uma década inteira que dedicou às produções voltadas para o público infanto-juvenil, com destaque para a famigerada Malévola, Angelina Jolie decidiu que era momento de retornar aos filmes, diríamos, “pra gente grande”. E o retorno se dá pelo caminho seguro do thriller de ação, gênero onde conquistou seus maiores êxitos de bilheteria com Tomb Raider, O Procurado, Sr. e Srª. Smith e Salt (vamos esquecer O Turista, ok?). E ainda vem Eternos por aí.

Assim chegamos até Aqueles Que Me Desejam a Morte (Those Who Wish Me Dead, 2021), onde Angelina apresenta seu lado mais crossfiteiro, com um papel que exige esforço físico, força e um tanto de violência. Tudo isto temperado com uma faceta maternal, de mãe zelosa pela prole em perigo. O perigo no caso é duplo: assassinos sanguinários e as chamas incontroláveis que consomem a floresta. E a citada prole é apenas uma metáfora, representada por um garoto de 12 anos perdido na mata após a morte do pai em circunstâncias trágicas.


Mas, vamos aos fatos. Hannah Faber (Angelina Jolie), bombeira florestal em Montana (EUA), marcada pela culpa por acontecimento fatal que resultou na morte de três crianças num incêndio, é designada para passar uma temporada solitária na torre de vigia que se ergue além do cume das árvores da região. Simultaneamente, uma dupla de assassinos elimina testemunhas de um grande caso de corrupção. Uma destas testemunhas eliminadas é o pai do garoto Connor, que assiste sua morte quando estão em viagem de carro pelas estradas da região. Após escapar do atentado ele vaga sem rumo pela floresta.

Neste ponto as duas linhas narrativas da história se cruzam. A dupla formada pela bombeira e o garoto precisa lutar pela sobrevivência para escapar, ao mesmo tempo, dos implacáveis assassinos e do gigantesco incêndio florestal. Salvar aquele garoto representaria uma expiação e redenção da culpa pelo trágico episódio do passado da personagem.


Baseado no livro de mesmo título de Michael Koryta - que, convenhamos, não é exatamente um título de apelo comercial para um filme - o longa tem direção do ator e roteirista Taylor Sheridan, que escreveu Sicário: Terra de Ninguém (Sicário, 2015) e A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016, indicado ao Oscar de Roteiro), e dirigiu também o ótimo Terra Selvagem (Wind River, 2017).


A narrativa de Aqueles Que Me Desejam a Morte tem como protagonista a personagem de Angelina Jolie. Mas este protagonismo é compartilhado com outros fortes personagens de destaque. Um deles é o Xerife Ethan interpretado por Jon Bernthal (de Baby Driver e da série O Justiceiro), a força policial do lado certo da lei e da justiça que se envolve na trajetória perigosa da bombeira Hannah. O outro destaque fica com a dupla de assassinos interpretados por Nicholas Hoult (Mad Max: A Estrada da Fúria) e, com potência assustadora, por Aidan Gillen, ator irlandês conhecido pelo papel do sinistro e maquiavélico Petyr Baelish em Game of Thrones.


A sensação geral é de que estamos diante de um thriller que optou pela trilha garantida de uma história de suspense convencional, sem ousadias e maiores pretensões. É uma produção que cumpre o combinado como entretenimento rápido, fácil e eficiente, sem ofender a audiência. Sheridan fez um filme que entrega o que promete. Certamente seria uma produção de sucesso nas antigas locadoras como atrativo disputado de final de semana. Aliás, em termos mais amplos o filme emula exatamente isto, o retorno a um formato padrão de entretenimento com cara de anos 80 e 90. O tema do “garoto-testemunha-chave-de-um-rumoroso-caso-de assassinato” está longe de ser original. Já foi, dentre outros, plot básico de pelo menos dois clássicos daquele período: A Testemunha, dirigido por Peter Weir em 1985, com Harrison Ford, e  O Cliente, de Joel Schumacher, estrelado por Tommy Lee Jones e Susan Sarandon em 1994.

Assista ao trailer: Aqueles Que Me Desejam a Morte

Jorge Ghiorzi

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