Barfly – Condenados Pelo Vício
- Mas o que tu quer com isso?
Aquela pergunta direta, objetiva e nada insinuante
foi feita por meu irmão.
Se bem me lembro, lá no começo dos anos 90. E o alvo do questionamento era o meu interesse e a verdadeira idolatria pelo filme Barfly. Houve um ano em que dediquei boa parte de meu tempo no feriado entre natal e ano novo, vendo e revendo trechos do filme. Sobre o que vou falar agora, eu dedico aos mais experientes. Eu tinha uma daquelas fitas VHS e havia conseguido gravar o filme completo da televisão com o vídeo cassete. Além disso, havia também as locadoras. E se podia locar a fita original. Com mais qualidade. Era o que tínhamos e resolvia.
Agora se você ainda não conhece ou não está lembrando de Barfly – Condenados Pelo Vício (1987), a direção é do francês Barbet Schroeder, protagonizado por Mickey Rourke e Faye Dunaway, com produção de Francis Ford Copolla e roteiro assinado por Charles Bukowski. Saiba que Barfly é o filme que escolhi para dar início a essa resenha mensal aqui no espaço “Os Menores Filmes da Minha Vida”. E sobram motivos para essa escolha. Mas calma. Antes que alguém possa entender mal, eu desejo esclarecer o que motivou o nome da sessão.
- Algumas pessoas nunca enlouquecem. Que vida horrível eles devem levar? Nós todos estamos em uma espécie de inferno. E o hospício é o único lugar onde as pessoas sabem que estão num inferno.
Sobre o filme. Iniciando pela sua atmosfera marginal, obscena sofrida e doida. Considerando todo seu conjunto de personagens, lugares, situações, todos os seus tipos estranhos, as ruas, bêbados, prostitutas, vadios, transexuais, desiludidos e derrotados. Toda aquela gente perdida. Ou como Henry Chinaski - escritor, alcoólatra, amante de música clássica, alter ego de Charles Bukowski, nos lembra:
- Qualquer um pode ser sóbrio. Mas para ser um bêbado é preciso talento e persistência. Afinal ninguém sofre como os pobres.
- Implorar
pra você seria como chupar um pinto pela eternidade!
Palavras praticamente vomitadas por ele em resposta ao seu adversário. Eddie com quem travará duelos por toda a película. Alguns socos e tropeções depois e lá está Henry caído e acabado. Na sarjeta. E como ele combina com aquele lugar. Pronto. Temos tudo que precisamos para o que virá a seguir. Vamos acompanhar Henry durante as noites bebendo e arrumando briga por bares de Los Angeles. Em uma delas, ele conhece Wanda e logo vão morar juntos. Após traições e bebedeiras, os dois acabam se acertando.
O que mais atrai na obra é justamente a presença constante de um humor desconcertante, repleto por desolação, tomado de cinismo autodefensivo, de egoísmo, senso de ridículo e irreverente compaixão. Barfly vale cada segundo de sua projeção. Justamente por conseguir obter e revelar altas doses de humanidade e poesia. Presente em quartos imundos, bares enfumaçados e insanidade corrosiva. Uma jornada original e maluca pelo universo caótico e muito real do velho Buck. Há diálogos memoráveis e a linguagem reúne violência ao captar as agruras e devaneios de perdedores e excluídos. Uma espécie de aura iluminada por transgressão, lirismo e loucura. Um copo bem cheio. Que jamais se esvazia.
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