quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A Linha da Extinção: proibido ultrapassar

 

Nos últimos anos o título de uma leva de filmes de gênero (suspense, terror e até comédia), em sua versão brasileira, tem adotado a prática de dar ordens de comando aos personagens / espectadores, tipo “não olhe”, “não conte”, “não fale”, “não case”, “não abra”, “não se mexa” e “não solte”. O thriller de ação e ficção científica A Linha da Extinção (Elevation, 2024) não se enquadra exatamente nesta moda, mas muito bem poderia se chamar “Não Desça”. Na premissa do filme as populações de um mundo pós-apocalíptico se refugiam nas zonas altas das montanhas. A recomendação é de que não se desça abaixo dos 2.400 metros de altura, a chamada linha da extinção. Ao ultrapassarem este limite as pessoas são atacadas por criaturas monstruosas de origem desconhecida.

Em uma desta comunidades, uma pequena vila na verdade, moram os protagonistas: Will (Anthony Mackie), com seu filho Hunter que sofre de problemas respiratórios, Nina (Morena Baccarin) e Katie (Maddie Hasson). A localidade foi criada há três anos, após os acontecimentos que marcaram o surgimento dos “ceifadores”, os seres que emergiram misteriosamente do subsolo para ocupar e dominar o planeta. A origem do êxodo das pessoas para as montanhas é narrada com muita síntese durante os créditos de abertura. Pressionados pela crescente escassez de alimentos e pela necessidade de suprimentos médicos para Hunter, o trio decide empreender uma perigosa missão em busca de recursos em um hospital abandonado, localizado bem abaixo da linha da extinção de 2.400 metros.


A jornada de sobrevivência do grupo em meio hostil é o mote da trama central da ação de A Linha da Extinção, que tem a direção de George Nolfi (de Os Agentes do Destino). Outro ingrediente que tempera a aventura é a relação de antagonismo que existe entre os integrantes do trio. Todos possuem um passado comum cujas consequências, de alguma maneira, se refletem no presente causando um tensionamento nas relações, que explodem justamente no momento menos apropriado: quando embarcaram em uma perigosa viagem. 

Os cenários naturais das montanhas do Colorado são muito bem utilizados contribuindo para o dinamismo de boas tomadas com drones. Uma das sequências a se destacar é a do teleférico que garante bons momentos de suspense e tensão, onde o cenário natural assume importante papel narrativo. Neste aspecto relacionado ao ambiente, onde a ameaça da trama surge da natureza, o filme A Linha da Extinção se aproxima – ou ao menos lembra demais - do universo dos filmes da franquia Um Lugar Silencioso, que também lida com as ameaças do desconhecido que destroem o mundo que conhecemos.


A produção do filme traz os nomes de Anthony Mackie e Morena Baccarin, o que lhes garante o protagonismo compartilhado, porém com resultados diversos. Enquanto Mackie (o novo Capitão-América), que faz o papel de um pai dedicado que arrisca a vida para salvar a vida do filho, possui poucos momentos para brilhar de verdade, a brasileira Morena Baccarin (de Deadpool) ganha bastante espaço para desenvolver uma personagem com uma pesada carga emocional interior e também uma missão pessoal de descobrir uma maneira de eliminar as criaturas.


A ação de A Linha da Extinção é bastante convencional, com soluções previsíveis e situações clichê. Um pecado mortal é o excesso de diálogos expositivos, como que a prestar contas ao espectador sobre os fatos que estão acontecendo. A bem da verdade o filme não possui grandes ambições justamente por reconhecer sua dimensão, pois é a típica produção com o perfil de grande circulação nas plataformas de streaming, onde possivelmente possa ter vida longa. A propósito, o gancho para a provável sequência é apresentado na cena pós-créditos.

Apesar de estar longe de ser filme do qual lembremos por muito tempo, A Linha da Extinção é um entretenimento que não ofende a inteligência do espectador. É rápido e conciso, para assistir com o cérebro desligado. 

Assista ao trailer: A Linha da Extinção


Jorge Ghiorzi

Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul)

Contato: janeladatela@gmail.com  /  jghiorzi@gmail.com

@janeladatela


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