Nos últimos anos o título de uma leva de filmes de gênero
(suspense, terror e até comédia), em sua versão brasileira, tem adotado a
prática de dar ordens de comando aos personagens / espectadores, tipo “não
olhe”, “não conte”, “não fale”, “não case”, “não abra”, “não se mexa” e “não
solte”. O thriller de ação e ficção científica A Linha da Extinção
(Elevation, 2024) não se enquadra exatamente nesta moda, mas muito bem poderia
se chamar “Não Desça”. Na premissa do filme as populações de um mundo pós-apocalíptico se refugiam nas zonas altas das montanhas. A recomendação é de que
não se desça abaixo dos 2.400 metros de altura, a chamada linha da extinção. Ao
ultrapassarem este limite as pessoas são atacadas por criaturas monstruosas de
origem desconhecida.
Em uma desta comunidades, uma pequena vila na
verdade, moram os protagonistas: Will (Anthony Mackie), com seu filho Hunter que
sofre de problemas respiratórios, Nina (Morena Baccarin) e Katie (Maddie
Hasson). A localidade foi criada há três anos, após os acontecimentos que
marcaram o surgimento dos “ceifadores”, os seres que emergiram misteriosamente
do subsolo para ocupar e dominar o planeta. A origem do êxodo das pessoas para
as montanhas é narrada com muita síntese durante os créditos de abertura. Pressionados
pela crescente escassez de alimentos e pela necessidade de suprimentos médicos
para Hunter, o trio decide empreender uma perigosa missão em busca de recursos
em um hospital abandonado, localizado bem abaixo da linha da extinção de 2.400
metros.
A jornada de sobrevivência do grupo em meio
hostil é o mote da trama central da ação de A Linha da Extinção, que tem
a direção de George Nolfi (de Os Agentes do Destino). Outro ingrediente
que tempera a aventura é a relação de antagonismo que existe entre os integrantes
do trio. Todos possuem um passado comum cujas consequências, de alguma maneira,
se refletem no presente causando um tensionamento nas relações, que explodem
justamente no momento menos apropriado: quando embarcaram em uma perigosa
viagem.
Os cenários naturais das montanhas do Colorado
são muito bem utilizados contribuindo para o dinamismo de boas tomadas com
drones. Uma das sequências a se destacar é a do teleférico que garante bons
momentos de suspense e tensão, onde o cenário natural assume importante papel
narrativo. Neste aspecto relacionado ao ambiente, onde a ameaça da trama surge
da natureza, o filme A Linha da Extinção se aproxima – ou ao menos lembra
demais - do universo dos filmes da franquia Um Lugar Silencioso, que também
lida com as ameaças do desconhecido que destroem o mundo que conhecemos.
A produção do filme traz os nomes de Anthony
Mackie e Morena Baccarin, o que lhes garante o protagonismo compartilhado,
porém com resultados diversos. Enquanto Mackie (o novo Capitão-América), que
faz o papel de um pai dedicado que arrisca a vida para salvar a vida do filho,
possui poucos momentos para brilhar de verdade, a brasileira Morena Baccarin (de
Deadpool) ganha bastante espaço para desenvolver uma personagem com uma
pesada carga emocional interior e também uma missão pessoal de descobrir uma
maneira de eliminar as criaturas.
A ação de A Linha da Extinção é
bastante convencional, com soluções previsíveis e situações clichê. Um pecado
mortal é o excesso de diálogos expositivos, como que a prestar contas ao
espectador sobre os fatos que estão acontecendo. A bem da verdade o filme não
possui grandes ambições justamente por reconhecer sua dimensão, pois é a típica
produção com o perfil de grande circulação nas plataformas de streaming,
onde possivelmente possa ter vida longa. A propósito, o gancho para a provável sequência
é apresentado na cena pós-créditos.
Apesar de estar longe de ser filme do qual
lembremos por muito tempo, A
Linha da Extinção é um entretenimento que não ofende a inteligência do
espectador. É rápido e conciso, para assistir com o cérebro desligado.
Assista ao trailer: A Linha da Extinção
Jorge Ghiorzi
Membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de
Críticos de Cinema) e ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do
Sul)
Contato: janeladatela@gmail.com /
jghiorzi@gmail.com
@janeladatela
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