Mostrando postagens com marcador Querido Evan Hansen. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Querido Evan Hansen. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

“Querido Evan Hansen”: meu melhor super amigo

 


“Hoje vai ser um dia incrível, e eu vou dizer por quê.”

Adaptações de grandes e aclamados musicais da Broadway para o cinema não garantem necessariamente sucessos de crítica e público. A desastrosa recente versão de Cats está aí para provar que nem sempre tudo funciona como o esperado. A linguagem do palco por vezes não dialoga bem com a dramaturgia cênica que se deseja nos filmes. Portanto, há sempre um fator imponderável de adequação assombrando as adaptações de musicais para o cinema.

Em cartaz na Broadway desde 2016, o musical “Querido Evan Hansen” foi indicado a nove Tony Wards (venceu seis), incluindo Melhor Musical, Melhor Trilha Sonora, Melhor Libreto e Melhor Ator, e ainda venceu o Grammy de 2018 para Melhor Álbum de Musical. Foi com este prestígio que chegou aos cinemas a adaptação Querido Evan Hansen (Dear Evan Hansen) dirigida por Stephen Chbosky, realizador de As Vantagens de Ser Invisível (2012) e Extraordinário (2017).


"Hoje tudo o que você precisa fazer é ser você mesmo!"

Evan Hansen (Ben Platt, que também estrelou o musical na Broadway) é um adolescente sensível, retraído, solitário, com problemas de relacionamento e poucos amigos. Por sugestão de seu terapeuta ele escreve cartas para si próprio, onde expressa abertamente seus sentimentos. Por acaso uma destas cartas cai nas mãos de Connor (Colton Ryan), um garoto depressivo que acaba por cometer suicídio. Por uma série de mal-entendidos Evan passa a ser reconhecido como o “melhor amigo” do suicida. Para não decepcionar a família enlutada de Connor ele acaba assumindo a mentira, sem imaginar as terríveis consequências que teria que enfrentar em breve.

 

“Eu queria que tudo fosse diferente. Queria fazer parte de alguma coisa.”

O enredo deste drama musical trata essencialmente de problemas típicos dos jovens: inadequação social, saúde mental, relacionamentos, bullying, violência psicológica e a vida vivida no ambiente das redes sociais. Sem esquecer, claro, o grande gatilho emocional normalmente presente nas histórias que retratam o universo adolescente: o suicídio.

Querido Evan Hansen embala todos estes elementos com a leveza sentimental de um musical tradicional, onde os sentimentos dos personagens são manifestados através de canções emotivas e sensíveis. Em suas partes de encenação realista o filme de Chbosky se equilibra como um pequeno drama adolescente já visto inúmeras vezes. Já quando assume seu lado musical, com as canções “comentando” as ações, a realização encontra seus melhores momentos, ainda que por vezes cause um pequeno estranhamento no ritmo pela forma como faz esta passagem, por vezes com pouca sutileza.


Como história de superação Querido Evan Hansen dá conta do recado sem grandes sobressaltos e novidades, com direito até àquela esperada sequência catártica de discurso diante de uma plateia que explode em aplausos (já vimos isso em Extraordinário, não?).

O que talvez falte a Querido Evan Hansen seja a capacidade de nos conectar - e mesmo simpatizar - com os personagens. Há um frio distanciamento no trato com todos eles, o que não contribui para nos aproximar verdadeiramente de seus dilemas e conflitos. Parte desta falta de empatia se deve certamente aos equívocos de casting dos jovens. É flagrante que estamos diante de um elenco com faixa etária incompatível com os personagens adolescentes que deveriam representar, em especial no caso do protagonista Evan, interpretado por um competente Ben Platt, que certamente funciona muito bem no palco, mas inadequado para uma versão cinematográfica. Na parte adulta do filme vale ressaltar a presença de duas ótimas atrizes: Amy Adams (como mãe de Connor) e Julianne Moore (como mãe de Evan). 

“Atenciosamente, seu super melhor amigo: eu mesmo.”


Assista ao trailer: Querido Evan Hansen

por Jorge Ghiorzi