O anúncio de retomada dos filmes da série Alien em
2012 com Prometheus encheu de
expectativas os fãs, especialmente porque o criador original, Ridley Scott,
estava de volta à frente do projeto, assumindo a direção. O resultado final foi
um tanto frustrante e decepcionou muita gente (embora hoje a produção mereça
uma reavaliação menos apaixonada). Cinco anos depois, estamos diante de mais uma
tentativa de dar novo rumo à franquia. Alien – Covenant, que está chegando
às telas mundiais com expectativas renovadas, é a aposta de Scott para dar
sequência à saga criada em 1979.
Em termos cronológicos, Covenant se passa 10 anos após Prometheus.
O início de Covenant repete o início
de Prometheus, que por sua vez se
baseia na premissa inicial de Alien, ou
seja: nave espacial altera os planos iniciais de sua missão e chega uma terra
estranha para explorar um “chamado”. Tudo começa com a nave Covenant que transporta
milhares de embriões humanos para colonizar o planeta Origae-6. A tripulação está
hibernando e o comando da missão (que deve durar mais de sete anos) está sob
responsabilidade do andróide sintético Walter (Michael Fassbender).
Um acidente cósmico obriga o despertar antecipado
de todos os integrantes da missão. Enquanto realizam os consertos necessários
na nave, eles recebem sinais originados de um planeta desconhecido, que
apresenta condições de abrigar vida humana. Uma decisão do comandante (que se
mostraria equivocada, óbvio) muda os planos da missão e decidem tentar a
colonização naquele mundo novo. Ao pousarem na superfície descobrem que naquela
terra já houve uma civilização e o único habitante solitário é o androide David
(também Michael Fassbender), sobrevivente da missão do Prometheus. Mas será que
ele estaria mesmo sozinho?
Um dos destaques do Alien original de 1979 era a forte presença da comandante Ellen
Ripley (Sigourney Weaver), a personagem feminina
que carregava o filme. Entre tantas outras referências à origem da série, Covenant tenta repetir a experiência com
um protagonismo feminino, desta vez com a figura da cientista-comandante Daniels.
Mas a personagem é pouco delineada, frágil e mal resolvida com seu arco
dramático motivado pela perda do companheiro. Sem falar no pouco carisma da
atriz Katherine Waterston (Animais
Fantásticos e Onde Habitam) que compromete ainda mais a empatia do público.
A sensação de confinamento está na matriz genética da
saga Alien, daí entende-se o protagonismo das naves espaciais nos três filmes
dirigidos por Ridley Scott. Os melhores resultados foram indiscutivelmente
alcançados na estreia da série. A nave “Nostromo” realmente fechava a ideia de
um ambiente isolado e exposto às ameaças do espaço (“onde nenhum grito será
ouvido”). O espaço físico, o ambiente, tornava-se simultaneamente cenário e
personagem. Ao reencontrar-se com este universo, criado por ele próprio, Scott
tentou resgatar este DNA da saga, a ponto de intitular o filme com o nome da
nave: “Prometheus”. E fez o mesmo mais uma vez com a “Covenant”. Mas algo se
perdeu nesta jornada. O truque perdeu força e a magia não se repete. A exemplo
do xenomorfo, o DNA da série sofreu mutação. Os resultados foram diluídos ao
longo do tempo e o impacto já não impressiona tanto. Parece que estamos diante
de mais um daqueles casos clássicos onde a criatividade artística sucumbe sob o
peso da abundância de recursos e tecnologia.
O terceiro ato de Alien – Covenant abandona qualquer vestígio de sua proposta inicial
de thriller de ficção científica, com tendência existencialista, e se lança
abertamente como um filme de ação. Teria o espírito de J. J. Abrams tomado
conta de Ridley Scott? A versão anabolizada do Star Trek de J. J. seria uma inspiração para o ritmo final de Alien - Covenant? O exagerado confronto final com o
alienígena deixa muita saudade do primor de suspense e pavor do ato final do Alien original de 1979. Com elementos
minimalistas (efeitos sonoros, trucagens analógicas, edição enxuta e Sigourney Weaver em trajes sumários) Ridley
Scott foi muito mais eficiente do que desta vez, com toda a opulência visual do
desfecho de Covenant.
A volta de Ridley Scott, mais de 30 anos depois, ao
universo expandido de Alien em Prometheus,
e agora com Covenant, talvez tenha
sido um tanto tardia, e a mão já não seja mais a mesma de outros tempos. Semelhante
ao caso dos retornos de Francis Coppola e George Lucas às sequências de seus
maiores êxitos (respectivamente O
Poderoso Chefão e Star Wars).
Passados tantos anos, algo inevitavelmente se perde pelo caminho.
Dados os resultados alcançados, quando mais uma vez
Ridley Scott falha ao retomar o comando da série, parece ter sido prudente que
a direção da continuação de Blade Runner
tenha saído das mãos de seu criador (Scott será apenas o produtor). Em tese a
escolha de Denis Villeneuve foi acertada,
apesar de ter sido questionada na época. A cada novo projeto cresce a sensação
de que o prestígio de Ridley Scott como diretor sobrevive apenas graças às
glórias do passado.
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