terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Cinema, Política & Ideologias


Um filme é sempre a representação de uma época. Um recorte no tempo, no espaço e nas circunstâncias sociais. Quando o cinema retrata fatos políticos isto fica ainda mais flagrante. Não se trata exatamente de um gênero cinematográfico, mas de uma visão do mundo, sujeita sempre à interpretações ideológicas ou versões dos vencedores. Acompanhe esta viagem por 7 filmes, que se passam em 7 países em 4 continentes.


País: EUA
TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE (Direção: Alan J. Pakula -1976)
Clássico filme político norte-americano. Exemplar do cinema engajado de Hollywood dos anos 70, que trata do emblemático caso Watergate, cujas consequências culminaram na renúncia do presidente Richard Nixon. Dois jornalistas (Robert Redford e Dustin Hoffman) do Washington Post iniciam uma investigação protocolar sobre a invasão do prédio Watergate por cinco ladrões comuns, e se deparam com um escândalo de espionagem política que tem sua origem na Casa Branca.


País: Chile
DESAPARECIDO – UM GRANDE MISTÉRIO (Direção: Costa-Gavras – 1982)
Em 1973, no Chile, um golpe de estado derruba o presidente Salvador Allende. Baseado numa história verídica, Desaparecido narra a história de um pai norte-americano (Jack Lemmon) que vai até o Chile, em plena guerra civil, para descobrir o paradeiro do filho, um jornalista considerado subversivo, que, após ser submetido a um interrogatório, desaparece. Nesta jornada pelos porões de uma ditadura violenta e sanguinária o pai, até então um alienado político, acaba verdadeiramente conhecendo quem foi seu filho.


País: Argentina
A HISTÓRIA OFICIAL (Direção: Luis Puenzo – 1985)
Após a ditadura militar, que vigorou de 1976 até 1983, a Argentina tratou de buscar a identidade perdida do país. Sem negar o passado, nem jogá-lo para debaixo do tapete, a coletividade argentina encarou de frente a reconstrução, de vidas e da nação. O filme A História Oficial, produzido ainda sob os ecos da ditadura recém findada, é um exemplo vigoroso deste momento. Em plena “guerra suja” do regime militar argentino uma professora da classe média (Norma Aleandro) decide descobrir quem são os verdadeiros pais de sua filha adotiva. O que descobre era para ser uma história nunca revelada.

País: URSS
REDS (Direção: Warren Beatty – 1981)
Drama biográfico baseado na vida de John Reed, o jornalista e escritor socialista norte-americano que testemunhou e retratou a Revolução Soviética no livro “Dez Dias que Abalaram o Mundo”. Mesclando um pouco de reportagem e outro tanto de política, Reds é uma versão romantizada de uma figura que era tratada como herói pela antiga União Soviética. John Reed (Warren Beatty), juntamente com a ativista feminista Louise Bryant (Diane Keaton), vai para a Rússia para ver de perto a Revolução de Outubro de 1917, quando os comunistas assumiram o poder. Ao retornarem aos EUA pretendem liderar uma revolução semelhante na América.


País: Alemanha
ADEUS, LÊNIN! (Direção: Wolfgang Becker – 2003)
A queda do Muro de Berlim e a unificação da Alemanha são o pano de fundo histórico desta comédia dramática que faz graça dos antigos símbolos do socialismo soviético. O protagonista é um jovem ativista que protesta contra o regime socialista da então Alemanha Oriental (RDA), para desgosto da mãe, totalmente alinhada à doutrina soviética. Após sofrer um ataque cardíaco ela fica em coma por vários meses. Neste tempo muita coisa mudou no país, que deixou de ser comunista. Quando afinal ela desperta do coma o jovem faz de tudo para poupar a mãe do choque com a nova realidade capitalista do país. Uma crítica mordaz aos regimes totalitários baseados na doutrinação cega da população.


País: Brasil
PRA FRENTE, BRASIL (Direção: Roberto Farias – 1982)
Enquanto o Brasil parava para torcer pela seleção brasileira na Copa de 1970, nos porões da ditadura militares “torciam” e torturavam presos políticos. O filme tem o mérito de ser uma das primeiras produções brasileiras a retratar os anos de chumbo no país e chegou a ser alvo de censura por algum tempo. A dureza daqueles anos de repressão invadiu a vida de uma família da classe média quando um pacato trabalhador é confundido com um subversivo de esquerda. Preso e condenado sem julgamento, o inocente não suporta a violência das diversas sessões de tortura e morre. Enquanto isso, o país canta a marchinha “Pra Frente, Brasil” pela conquista do tri campeonato na Copa do México.


País: Argélia
A BATALHA DE ARGEL (Direção: Gillo Pontecorvo – 1966)
O filme retrata os episódios emblemáticos que marcaram o levante do povo da Argélia em sua luta pela independência, quando ainda era uma colônia francesa, na segunda metade dos anos 50. Com um estilo marcadamente documental, o diretor Gillo Pontecorvo reconstituiu episódios reais utilizando moradores locais como atores. Um dos maiores clássicos mundiais do cinema político, A Batalha de Argel, ainda que um tanto panfletário, é um estimado libelo contra a opressão que inspirou (e ainda inspira) sonhos revolucionários mundo afora.

(Texto originalmente publicado no Caderno “Movi+ do jornal NH em março de 2015)

Jorge Ghiorzi

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