As inovações tecnológicas alteraram
profundamente a forma e as condições com que assistimos filmes. Do suporte
físico do celuloide, vivemos hoje tempos onde os acervos estão nas nuvens, esse
espaço intangível onde cabem todos nossos sonhos.
Desde o surgimento do cinema, há mais
de 120 anos, até o final dos anos 70, exercer a cinefilia exigia, além de
dedicação, uma disponibilidade de tempo e recursos. O resgate e a revisão das
grandes obras do cinema só era possível através do acesso às cinematecas. Mas
então, o milagre se fez. Nos anos 80 surge o VHS. E tudo mudou. Pela primeira
vez uma geração de cinéfilos sentiu o gostinho de “levar o cinema para casa”.
Com aquelas fitas magnéticas, seladas ou piratas, os usuários se sentiam um
pouquinho donos dos filmes. E a cinefilia viveu seu primeiro apogeu. Podia-se
ver e rever filmes no conforto dos lares. A opção de escolha se tornou
possível. Depois, era só rebobinar a fita e devolver na locadora antes de virar
mais uma diária.
Quando o mundo do audiovisual já
parecida dominado, eis que surge mais uma novidade tecnológica, que acabou por
revigorar o prazer de consumir cinema em casa. Os antigos VHS foram
substituídos pelos então inovadores DVDs. E lá se foi uma geração de cinéfilos
se desfazendo dos acervos de fitas emboloradas em troca das elegantes cópias em
DVD. A qualidade de som e imagem eram “Infinitamente” superiores. Sem falar que
ocupavam menos espaço na estante.
Ah, bendita tecnologia! Sempre nos
aprontando das suas. E não é que lá veio outra inovação? O futuro chegou. E com
ele vieram os insuperáveis Blu-rays. Som THX, 5.1 canais, stereo surrounded e
imagem cristalina em full HD. Com essas qualidades era quase uma obrigação
substituirmos nossos queridos DVDs. Por que não? Os novos disquinhos azuis
ocupavam ainda menos espaço.
A revolução seguinte acabou por se dar
não no suporte no qual os filmes eram apresentados. Mas sim na diversificação
dos canais de disponibilização. Chegou a era dos filmes “on demand”. A
filosofia é simples: assistir o que quiser, na hora que desejar, da forma mais
conveniente. A diversificação dos dispositivos e a evolução da velocidade do
streaming propicia nosso consumo de filmes no computador, no tablet, no smartphone
e na smart TV. Sem suporte físico. E sem ocupar espaço nas prateleiras. O
inovador serviço da Netflix passou a ser o sonho de consumo dos novos (e
antigos) cinéfilos.
Então, quando tudo parecia ajustado,
eis que surge um novo prazer para exercermos a boa e velha cinefilia. O
superado e decadente DVD vive um momento de renascimento. E a responsável por
este movimento é a Versátil Home Vídeo que descobriu um nicho de mercado que dá
novo fôlego aos disquinhos prateados. A vocação do colecionismo, típica dos
cinéfilos de carteirinha, voltou a dar sinais de vida graças aos imperdíveis
lançamentos dos boxes de DVDs dos mais diversos temas. E tem para todos os
gostos: terror; western, ficção científica, filme noir,
e tantos outros. Além de lançar filmes inéditos no mercado brasileiro, as
edições da Versátil respeitam o consumidor aos privilegiar as versões
restauradas, nas melhores condições disponíveis, recheados de extras que fazem
a alegria de qualquer espectador. Hoje, com a Versátil, voltar a consumir e
colecionar DVDs é vintage.
Curiosa essa evolução nas formas de
assistirmos filmes. No início, nos primitivos “nickelodeons’, a exibição era
privada. Apenas um espectador de cada vez. Depois, com o surgimento das
gigantescas salas de cinema, as sessões passaram a ser um ritual coletivo.
Centenas de pessoas, no mesmo ambiente, compartilhavam o mesmo momento. Na
medida em que a tecnologia avançou o ato da cinefilia recuou para o ambiente
doméstico, com poucos espectadores. E por fim, fechando um ciclo, a experiência
de assistir filmes praticamente voltou a ser solitária com o uso dos
dispositivos móveis, como o celular e o tablet. No entanto, apesar de tudo e
todos, a cinefilia continua muito viva. E nunca foi tão fácil praticá-la.
(Texto originalmente publicado no portal
“Movi+” em agosto de 2015)
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