Ele gosta de
Bonnie Tyler. Ela gosta de David Bowie. Preferências e diferenças
irreconciliáveis, só que não, como mostra Eduardo & Mônica. O drama
romântico, dirigido por René Sampaio, é baseado na conhecida canção de sucesso
do Legião Urbana, composta por Renato
Russo. Realizada pela mesma equipe e diretor de Faroeste Caboclo de 2013 (também inspirado por uma canção do Legião
Urbana), a produção enfrentou problemas para ser lançada. A pandemia e o
fechamento das salas de cinema adiaram por duas vezes a estreia, inicialmente
prevista para o primeiro semestre de 2020.
Frequentemente se
diz que algumas composições de Renato Russo são praticamente roteiros prontos
de filme, pois contemplam características de um bom storytelling ao narrar histórias envolventes e cativantes. Então, o
caminho naturalmente esperado era esse mesmo, acabar nas telas de cinema. A boa
receptividade com Faroeste Caboclo
estimulou a repetição da fórmula. E, sim, deu muito certo, superando até mesmo a
primeira experiência.
O filme (assim
como a canção) conta uma história de amor que acompanha o relacionamento do
estudante Eduardo (Gabriel Leone) e da artista plástica Mônica (Alice Braga), que
precisam superar suas muitas diferenças, de idade, de personalidade, de criação
familiar, de cultura, de perspectivas de vida, de gostos musicais e literários.
O cenário dessa história de conquistas, descobertas e aprendizados é a Brasília
dos anos 80, marcada pelo fim do regime militar em contraste com a ebulição do
rock brasileiro.
Um tema
ostensivamente presente em Eduardo &
Mônica é a possibilidade da convivência e aceitação dos diferentes e
opostos. Olhar condescendente e delicado do diretor René Sampaio torna
perfeitamente aceitável e crível a construção de um relacionamento, seja
amoroso ou apenas de amizade, baseado na compreensão e no respeito a quem pensa
muito diferente.
A manutenção do
tempo (anos 80) e espaço (capital federal), onde transcorre a “história” original
da canção de Renato Russo, foi fundamental para preservar sua essência, um
tanto ingênua e romântica, diga-se de passagem, o que garante que a narrativa
fique de pé e flua com naturalidade. Seria praticamente uma impossibilidade
adaptar a história para os tempos contemporâneos. Eduardo & Mônica se apresenta como um belo e nostálgico retrato
de um tempo que já passou. Uma pequena joia arqueológica da cultura pop
brasileira. Destaque-se, aliás, o roteiro enxuto e muito bem amarradinho
escrito por Matheus Souza com a colaboração final de outros três roteiristas
(Cláudia Souto, Jéssica Candal e Michele Frantz).
A dupla de
protagonistas, Gabriel Leone e Alice Braga, funciona muito bem em cena. A
interação entre eles é um dos pontos altos do filme e garantem momentos de
grande sensibilidade e entrega emocional. A primeira declaração de amor de
Eduardo para Mônica, por exemplo, é um daqueles momentos que capturam a plateia,
que se deixa levar definitivamente por aquela improvável história de amor. Eduardo & Mônica demorou para chegar
às telas dos cinemas, mas certamente vai ficar por muito tempo na memória do
público que vai sair da sessão cantarolando: “Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo
coração...”.
Assista ao trailer: Eduardo & Mônica
Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS
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