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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

“Eduardo & Mônica”: eclipse total do coração


Ele gosta de Bonnie Tyler. Ela gosta de David Bowie. Preferências e diferenças irreconciliáveis, só que não, como mostra Eduardo & Mônica. O drama romântico, dirigido por René Sampaio, é baseado na conhecida canção de sucesso do Legião Urbana, composta por Renato Russo. Realizada pela mesma equipe e diretor de Faroeste Caboclo de 2013 (também inspirado por uma canção do Legião Urbana), a produção enfrentou problemas para ser lançada. A pandemia e o fechamento das salas de cinema adiaram por duas vezes a estreia, inicialmente prevista para o primeiro semestre de 2020.

Frequentemente se diz que algumas composições de Renato Russo são praticamente roteiros prontos de filme, pois contemplam características de um bom storytelling ao narrar histórias envolventes e cativantes. Então, o caminho naturalmente esperado era esse mesmo, acabar nas telas de cinema. A boa receptividade com Faroeste Caboclo estimulou a repetição da fórmula. E, sim, deu muito certo, superando até mesmo a primeira experiência.


O filme (assim como a canção) conta uma história de amor que acompanha o relacionamento do estudante Eduardo (Gabriel Leone) e da artista plástica Mônica (Alice Braga), que precisam superar suas muitas diferenças, de idade, de personalidade, de criação familiar, de cultura, de perspectivas de vida, de gostos musicais e literários. O cenário dessa história de conquistas, descobertas e aprendizados é a Brasília dos anos 80, marcada pelo fim do regime militar em contraste com a ebulição do rock brasileiro.

Um tema ostensivamente presente em Eduardo & Mônica é a possibilidade da convivência e aceitação dos diferentes e opostos. Olhar condescendente e delicado do diretor René Sampaio torna perfeitamente aceitável e crível a construção de um relacionamento, seja amoroso ou apenas de amizade, baseado na compreensão e no respeito a quem pensa muito diferente.


A manutenção do tempo (anos 80) e espaço (capital federal), onde transcorre a “história” original da canção de Renato Russo, foi fundamental para preservar sua essência, um tanto ingênua e romântica, diga-se de passagem, o que garante que a narrativa fique de pé e flua com naturalidade. Seria praticamente uma impossibilidade adaptar a história para os tempos contemporâneos. Eduardo & Mônica se apresenta como um belo e nostálgico retrato de um tempo que já passou. Uma pequena joia arqueológica da cultura pop brasileira. Destaque-se, aliás, o roteiro enxuto e muito bem amarradinho escrito por Matheus Souza com a colaboração final de outros três roteiristas (Cláudia Souto, Jéssica Candal e Michele Frantz).

A dupla de protagonistas, Gabriel Leone e Alice Braga, funciona muito bem em cena. A interação entre eles é um dos pontos altos do filme e garantem momentos de grande sensibilidade e entrega emocional. A primeira declaração de amor de Eduardo para Mônica, por exemplo, é um daqueles momentos que capturam a plateia, que se deixa levar definitivamente por aquela improvável história de amor. Eduardo & Mônica demorou para chegar às telas dos cinemas, mas certamente vai ficar por muito tempo na memória do público que vai sair da sessão cantarolando: “Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração...”. 

Assista ao trailer: Eduardo & Mônica


Jorge Ghiorzi / Membro da ACCIRS