Lançado em 2018,
num tempo pré-pandêmico, Um Lugar
Silencioso se mostrou um aclamado thriller que mixava de forma eficiente o terror
com o suspense, tendo como cenário um mundo pós-apocalíptico. A direção era
assinada por um improvável John Krasinski, muito conhecido pelo papel de Jim
Halpert na série The Office, cujas
poucas experiências de direção, até então, se situavam no terreno da comédia.
Então, chegou o
ano de 2020. O
planeta ficou ameaçado pelo coronavírus. É mundo real, não ficção.
Imediatamente uma nova chave de compreensão e analogia foi agregada para a
análise do filme de três anos atrás. A decisão de desenvolver uma continuação
da história foi certamente impactada por este novo momento. O entendimento da
narrativa então se processa com este novo registro em nossa mente.
Um Lugar Silencioso – Parte
II (A
Quiet Place – Part II), igualmente escrito e dirigido por Krasinski, abre com duas
linhas narrativas. Inicialmente temos um prólogo, que se passa no Dia 1, aquele
que deu origem à invasão das terríveis criaturas alienígenas, ainda que nada
fique suficientemente explicado. Então, logo na sequência, somos jogados exatamente
ao ponto em que encerrou o filme anterior, quase um ano e meio a frente. Lembra
daquele final aberto com a personagem de Emily Blunt engatilhando a arma? Esse
é o momento de retomada da saga da família Abbott.
Evelyn Abbott (Emily Blunt)
e os filhos, Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e o bebê que nasceu
no final do filme anterior, prosseguem sua jornada silenciosa pela
sobrevivência, em fuga da ameaça que espreita por todos os lados. A trajetória
que se assemelha a um road movie, que
se guia por uma tensão constante que alterna movimento e confinamento, silêncio
e ruídos extremos, tensão e relaxamento, isolamento e interação social, desafio
e superação pessoal. Os personagens, todos, apresentam um arco narrativo bem
estabelecido, o que contribui decisivamente para a coesão da história e acentua
valores individuais da família nuclear. Um
Lugar Silencioso – Parte II expande o conceito original e abre
possibilidades para novos personagens, como Emmett (Cillian Murphy), antigo amigo
da família, e um sobrevivente do pós-apocalipse, vivido por Djimon Hounsou.
Ainda que a sequência
apresente níveis de decibéis bem superiores nos efeitos sonoros, em oposição ao
primeiro filme (quase um exercício de estilo na utilização do silêncio como
artifício narrativo), o conceito original segue preservado e ainda é capaz de
proporcionar momentos genuínos de medo e angústia.
Um Lugar Silencioso – Parte II se mostra uma sequência
muito interessante e criativa, com um roteiro enxuto e edição eficiente, o
longa deixa um caminho promissor para a inevitável (e necessária) sequência que
certamente vem por aí.
Assista ao trailer: Um Lugar Silencioso – Parte II
Jorge Ghiorzi