A ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul) divulga os vencedores da tradicional premiação dos MELHORES DO ANO. Foram eleitos os melhores filmes exibidos em festivais online, lançados em salas de cinema e disponíveis em diferentes plataformas de streaming. Todos os membros da associação foram os votantes que elegeram os premiados.
sábado, 8 de janeiro de 2022
Críticos gaúchos escolhem os Melhores de 2021
sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Melhores Filmes de 2021
O novo cenário de exibição trás ônus e bônus para a crítica, para os cinéfilos e para as audiências eventuais. Certamente democratiza o processo de lançamento e exibição globalizada, porém, isto não se reflete necessariamente na democratização do acesso. A possibilidade da apreciação cinematográfica não se dá apenas via ingresso adquirido na bilheteria (plenamente democrática). Agora é necessário assinar uma plataforma de conteúdos de streaming. Como assistir (por meios lícitos) um filme como Ataque dos Cães sem ser assinante da Netflix? Enfim, este é o novo panorama que se apresenta, e com ele devemos conviver e nos adaptar.
Dentro deste panorama esta é minha lista de melhores de 2021. Imperfeita, como qualquer lista. Com uma ressalva: são os melhores que tive a oportunidade de acessar (metade em salas de cinema, metade em serviços de exibição digital).
Melhores Filmes de 2021(ordem aleatória)
01 – DUNA
02 – ATAQUE DOS CÃES
03 – JUDAS E O MESSIAS NEGRO
04 – DRUK – MAIS UMA RODADA
05 – FIRST COW – A PRIMEIRA VACA DA AMÉRICA
06 – UM LUGAR SILENCIOSO – PARTE II
07 – OXIGÊNIO
08 – DESERTO PARTICULAR
09 – AMOR, SUBLIME AMOR
10 – TITANE
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS
Revisão 2021
Estes foram os 10 melhores revistos no ano (ordem aleatória):
01 - O SEGUNDO ROSTO (Seconds, 1966)
02 - O BARCO - INFERNO NO MAR (Das Boot, 1981)
03 - CAÇADOR DE ASSASSINOS (Manhunter, 1986)
04 - ADAPTAÇÃO (Adaptation, 2002)
05 - AMARGO PESADELO (Deliverance, 1972)
06 - VOLTAR A MORRER (Dead again, 1991)
07 - TRÁGICA OBSESSÃO (Obsession, 1976)
08 - O ESCONDIDO (The Hidden, 1987)
09 - ENCURRALADO (Duel, 1971)
10 - TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE (All the
President's Men, 1976)
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
“Matrix Resurrections”: déjà vu
A nova aventura retoma a história a partir da linha temporal deixada pelo filme anterior (Revolutions, de 2003), ainda que vinte anos tenham se passado aqui, no nosso mundo. Neo (Keanu Reeves) agora vive uma vida aparentemente comum sob sua identidade original como Thomas Anderson, atuando como um famoso criador de um videogame de sucesso, chamado... “Matrix”. Para entender as estranhas visões e percepções que tem sentido, ele se trata com um terapeuta. Para complicar um pouco mais ainda sua cabeça ele também conhece uma mulher (Carrie Anne-Moss) que muito se parece com a personagem Trinity do videogame que criou. Tudo começa fazer algum sentido para o atordoado Thomas Anderson quando encontra uma nova versão de Morpheus, que oferece a pílula vermelha que reabre sua mente para o mundo da Matrix.
O filme é autorreferente e indulgente com a própria mitologia que construiu na trilogia original. Dá uma zoada geral e se limita a ser – sem dramas de consciência – um produto de massa a ser consumido por uma sociedade capitalista selvagem, que tanto criticava há 20 anos. Lana Wachowski parece querer nos dizer: “Relaxem. Desencanem. Este não é um filme-cabeça. Apenas aproveitem a experiência”. Isto se evidencia com a inclusão do humor em certas passagens, como aquela onde Anderson e um executivo da companhia discutem a possibilidade – e mesmo a necessidade - de criar uma nova versão do videogame. O papo ali era direto e reto, pois se referia nas entrelinhas à própria gestação da sequência de Matrix que sofreu a pressão da Warner para que o filme finalmente fosse produzido. Alguém tem lembrança de sequer ter esboçado minimamente um sorriso com alguma sequência dos três filmes originais? Pois em Matrix Resurrection isto ocorre, com um mal disfarçado ar de cinismo blasé que ecoa por todo o filme.
Matrix Resurrection é claramente um filme de passagem, de reformulação para uma nova saga revigorada que inevitavelmente virá (um reboot?). Nesta retomada da história é flagrante que algo de substancial se perdeu. Não fosse toda a bagagem e o legado que carrega, o novo Matrix por muito pouco não é apenas um filme de aventura genérico. Não somos apresentados a nenhuma sequência memorável, nenhuma das sequências de luta avança além do lugar comum e as trucagens e efeitos já não surpreendem (alguém lembra do espanto que o “bullet time” criou no final do século passado?). O filme, nesta perspectiva, é suficientemente inteligente para não se levar excessivamente a sério.
Assista ao trailer: Matrix Resurrections
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
“A Última Noite”: o mal está lá fora
Os filmes de Natal são praticamente um gênero à parte. Feitos para divertir e despertar bons sentimentos, as produções natalinas invariavelmente apostam nas comédias leves, que cumprem seu principal propósito, que é o entretenimento. Porém, por vezes aparece uma “ovelha desgarrada” (rena seria mais apropriado?) que subverte as expectativas, oferecendo uma visão bem pouco otimista e reveladora dos verdadeiros sentimentos que ficam escondidos “debaixo do tapete”. A comédia de humor mórbido A Última Noite (Silent night) é a “rena pervertida” da temporada 2021.
O casal Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode), juntamente com seus três filhos pequenos, dentre eles Art (Roman Griffin Davis de Jojo Rabbit), reúne um grupo de amigos para juntos celebrarem o Natal em sua propriedade no interior da Inglaterra. Aquela seria uma noite de muita alegria, presentes, taças de prosecco e... revelações. O que parecia ser o final de semana perfeito aos poucos se transforma em um encontro do mais puro terror quando uma inevitável tragédia mortal está chegando naquela que seria a última noite de todos.
Quem nos liga o alerta é o garoto Art, visivelmente desconfortável com o que está acontecendo além das paredes daquela casa/mansão. Ele – uma criança - é a única pessoa com os olhos realmente abertos para a trágica realidade que é passivamente aceita pelos adultos. Mais do que isso, ele é o único disposto a lutar e encontrar uma saída para o inevitável destino de todos. Assim, aos poucos, descobrimos que há algo mais além de uma alegre reunião de amigos. A verdadeira motivação para aquele encontro é o momento de virada na narrativa. E o riso, antes aberto e franco, fica amarelo e engasga na garganta.
Pouco importa a origem, as razões e a história da ameaça que faz daquela noite de Natal a última noite de todos. O que o filme propõe é uma reflexão sobre nossas escolhas (pessoais e coletivas) e como agimos e reagimos em momentos extremos. A Última Noite traz leveza na abordagem de uma situação limite, conseguindo cativar a atenção e envolver a audiência.
Assista ao trailer: A Última Noite
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
“Amor, Sublime Amor”: recriação de um clássico
Em 1961 o musical Amor Sublime Amor, adaptado de um bem-sucedido espetáculo da Broadway, caiu como uma bomba na envelhecida Hollywood. Foi um sopro de renovação em vários aspectos do gênero, da encenação à cenografia realista, da interpretação às coreografias inovadoras que incorporavam movimentos livres, distantes da dança clássica. É até hoje o musical mais premiado da história com suas 10 estatuetas do Oscar, três Globos de Ouro, dois Grammys e outras tantas premiações.
Este estimado clássico do cinema norte-americano, exatos 60 anos depois, ganha uma refilmagem pelas mãos de um dos mais estimados e premiados diretores do cinema norte-americano. Por definição, potencialmente uma temeridade, um risco demasiado para resultados que poderiam ser devastadores para os envolvidos. Coube a Steven Spielberg esta, digamos, ousadia de mexer em um ícone. Justamente ele, que em sua extensa e destacada filmografia, com mais de trinta longas-metragens, apenas uma única vez apostou em uma refilmagem (Guerra dos Mundos) e nunca havia dirigido um musical.
Amor, Sublime Amor é um musical cheio de energia e emoção, que respeita o original. Um trabalho artístico de primeira linha do qual Steven Spielberg triunfa em seu intento de recriar um clássico para apresentá-lo às novas gerações.
Assista ao trailer: Amor, Sublime Amor
Jorge Ghiorzi
Membro da ACCIRS
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
“Noite Passada em Soho”: sonhos e desejos em Londres
A protagonista Eloise Turner (a neozelandesa Thomasin Harcourt McKenzie, vista recentemente em Tempo do Shyamalan) representa muito bem o espírito daqueles tempos, ainda que a narrativa transcorra nos dias atuais. Estudante de Moda, fortemente inspirada pela estética e o estilo da sessentista, Eloise vai morar no descolado bairro do Soho, em Londres, para finalizar os estudos e iniciar carreira como estilista. Sozinha em seu quarto ela passa a ter sonhos e visões onde conhece a aspirante a cantora Sandie (Anya Taylor-Joy) com a qual se identifica de forma idealizada a ponto de torna-se quase um duplo aspiracional. Ela é tudo que Eloise desejava ser na intimidade: forte, livre, independente, voluntariosa e sexualmente liberada.
Personagens anacrônicos, que invariavelmente destoam do tempo e espaço onde estão inseridos, não são exatamente uma novidade nos filmes de Edgar Wright. Foi assim, por exemplo, em Scott Pilgrim e Em Ritmo de Fuga. Mais uma vez esta abordagem se faz presente em Noite Passada em Soho. A jovem Eloise Turner, uma personagem deslocada em busca de seu lugar no mundo, se refugia no terreno da fantasia, recriando um mundo particular que mistura sonhos e desejos, o real e o imaginário.
Em sua segunda metade o thriller se aproxima de um autêntico “giallo italiano”, com sotaque inglês, que ecoa o mestre Mario Bava, não apenas pela temática de crime, mas particularmente pelo uso massivo de cores vibrantes, especialmente o vermelho e azul, sempre ostensivos e contrastados.
Anya Taylor-Joy (já vista em A Bruxa e na série da Netflix O Gambito da Rainha) é o grande destaque do elenco e confirma seu potencial como a mais promissora jovem atriz candidata a estrela de primeira grandeza. Vale lembrar que o filme de Edgar Wright marcou o ocaso da grande estrela britânica Diana Rigg, falecida logo após as filmagens.
Assista ao trailer: Noite Passada em Soho
por Jorge Ghiorzi