O status de
maturidade dos heróis dos quadrinhos só é alcançado quando o personagem ganha
um filme solo para chamar de seu. Então, mais um integrante da DC vem se juntar
a este seleto grupo. Flash, o Velocista Escarlate, foi premiado com uma
aventura onde é protagonista, ainda que acompanhado por um time de coadjuvantes
de peso, como Batman, por exemplo.
The Flash, dirigido pelo argentino
Andy Muschietti (realizador de It – A Coisa), desde a produção gerou
muita atenção dos fãs. Inicialmente pelas informações vindas dos sets, que
criavam uma crescente expectativa positiva com a produção, e depois, com as
informações negativas do comportamento errático do protagonista, Ezra Miller. O
receio era que o filme sofresse algum tipo de cancelamento por parte dos fãs.
Para sorte da Warner e DC, o movimento não se confirmou.
A base do roteiro
veio da célebre HQ Ponto de Ignição (no original, Flashpoint) que
essencialmente trata de um embaralhamento das linhas temporais que geram realidades
alternativas, provocada imprudentemente pelo Flash. Tudo começa quando Barry
Allen (Ezra Miller) descobre por acaso que poderia utilizar sua supervelocidade
para viajar pelo tempo e retornar ao passado. Agindo contra os conselhos de
Batman, seu parceiro na Liga, que alertou dos riscos e da impossibilidade física
da alteração do passado, Flash decide voltar no tempo para evitar o assassinato
da própria mãe e provar que seu pai, acusado pelo crime, é inocente. Ao fazer
isso, perturba a ordem natural, mistura as linhas temporais e fica preso em uma
realidade alternativa, onde o General Zod (Michael Shannon) planeja atacar e
dominar o planeta Terra. Neste multiverso Flash contará com a ajuda de outras
versões de si próprio e de heróis da Liga.
O tema dos universos
alternativos e múltiplos tem sido um tema muito presente no cinema atual, desde
as aventuras recentes do Homem-Aranha e Doutor Fantástico, até o multipremiado
e oscarizado Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. O conceito da viagem do
tempo e da alteração do passado já está bastante estabelecido na cultura
popular, desde a Trilogia De Volta Para o Futuro (há quase 40 anos),
que, a propósito, é bastante citada neste The Flash, em uma das grandes
sacadas cômicas do filme.
Dolorosas perdas
familiares estão na raiz da trajetória de vários heróis das HQs. Batman, Homem-Aranha
e Superman são exemplos clássicos deste tipo de sina transformadora do espírito.
Flash é outro personagem amargurado por este tipo de perda. É pela dor que
vem o amadurecimento que marca a transição da juventude para a vida adulta. Em The
Flash este aspecto está fortemente presente, inclusive como elemento
catalizador da ação e das boas intenções, que nem sempre resultam nos benefícios
desejados. Há sempre um aprendizado, uma lição. O alegre, brincalhão e
desencanado Barry Allen encara, com muita dor, este rito de passagem que define
sua trajetória.
A presença de Andy
Muschietti na direção garantiu a inserção de várias referências
latinas no filme. A começar pela descendência latina do herói protagonista,
cuja mãe é interpretada pela espanhola Maribel Verdú (de E Sua Mãe Também
e O Labirinto do Fauno). Ainda no elenco há a presença da atriz Sacha
Calle, de ascendência colombiana, no papel de Supergirl. Isto sem falar nas
canções mexicanas e panamenhas na trilha sonora.
O grande destaque
de The Flash, no entanto, que faz a delícia dos cinéfilos, é a
possibilidade de apresentar diferentes versões de personagens conhecidos e realizar
o sonho de materializar alguns desejos secretos dos fãs. Um exemplo (sem spoiler):
as várias versões do Superman, inclusive uma delas, muito curiosa, nunca concretizada.
Num universo paralelo tudo é possível. Então, vale a brincadeira. Mas,
inegavelmente a presença que mais chama atenção tem um forte componente
nostálgico: Michael Keaton (o Batman de 1989) volta a vestir o uniforme do
Cavaleiro das Trevas (“surpresa” que já havia sido entregue pelo trailer).
A expectativa
elevada pelo primeiro protagonismo solo de Flash no cinema se mostrou um tanto
exagerada. Não entrega a promessa na totalidade. The Flash, na maior
parte do tempo, se mostra uma aventura que beira ao genérico. O que, em se
tratando de filmes de super-herói já é algo razoável, diga-se, dado o fato de que
o gênero já está em franco processo de esgotamento da fórmula e exaustão do
público.
The Flash é divertido
quando não se leva a sério, ainda que nem todas piadas funcionem bem. No
entanto, o filme de Andy Muschietti é um importante e sólido passo no
pretendido reboot do Universo DC. Após o The Batman, vem este The
Flash, e fica aparentemente estabelecido que o artigo The (em inglês)
deverá acompanhar os novos títulos futuros.
Assista ao trailer: The Flash
Jorge Ghiorzi /
Membro da ACCIRS
janeladatela@gmail.com