Uma das franquias
de filmes de terror de maior sucesso dos anos 2000, Invocação do Mal chega a mais um capítulo neste pandêmico ano de
2021. Mais do que chamá-la de franquia, o mais correto certamente seria nos
referirmos ao “Universo Invocação do Mal”, pois é disso que se trata. Outros títulos
se incorporam neste universo expandido, com filmes como Annabelle, A Maldição da
Chorona, A Freira e suas respectivas
sequências.
Personagens
centrais das histórias, a dupla (real, já falecida) de investigadores de
fenômenos paranormais Ed e Lorraine Warren nos apresenta mais uma caso
fantástico da sua extensa relação de investigações neste Invocação do Mal 3: A Ordem do
Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It). O selo de
credibilidade está lá, estampado na tela: “baseado em fatos verídicos”. E assim
recebemos os relatos do casal, temperados com altas doses de ficção e
transformados em espetáculo cinematográfico para as massas. O caso da vez é
recorrente na série, mais uma possessão demoníaca.
O capeta, em suas diversas formas, antagonista
profundo do casal Warren, novamente dá as caras. Agora com status, pois é referido
explicitamente no subtítulo do longa. Ed e Lorraine (Patrick Wilson e Vera
Farmiga), após inicialmente investigarem o caso de possessão demoníaca de um
garoto, acabam se envolvendo com outra história dramática. Um suspeito de assassinato
alega nos tribunais que sua alma estava possuída pelo demônio quando cometeu o
crime. Cabe ao casal de “demonólogos” provar que a tese estava correta. Então,
partem numa aventura investigativa pelo submundo do Mal em busca de provas.
Um fato salta aos olhos com este Invocação do Mal 3. A série já dá sinais
claros de esgotamento da fórmula. Após os dois primeiros episódios bem
sucedidos, que estabeleceram um padrão acima da média para seus congêneres, o
terceiro filme passa a sensação de estarmos diante de uma tentativa mudança de
rumo. Como
parece ser uma tradição nos chamados “terceiros episódios” de séries e sagas, há
uma busca de saídas narrativas e exploração de novos terrenos que assegurem a
continuidade. Este componente de risco costuma invariavelmente resultar em excessos
e exageros. Este é o caso de Invocação do
Mal 3, que, enfim, é apenas mais do mesmo. Não podemos desconsiderar que
James Wan, diretor dos primeiros filmes, agora assume a condição apenas de
produtor. A direção coube a Michael Chaves, o mesmo de A Maldição da Chorona (2019), que filmou um roteiro que traz mais
complexidade ao enredo e avança um pouco no terreno dos filmes de investigação
policial.
Outro aspecto que chama atenção em Invocação do Mal 3 é o foco mais flagrante
na relação pessoal dos personagens do casal Ed e Lorraine, tornando-os ainda
mais protagonistas em detrimento do caso que estão investigando. A relação do
casal avança algumas etapas e revela ao público fatos do passado dos dois, o
que os deixa mais próximos e íntimos da audiência.
A série Invocação
parece assumir, sem medo (!), sua condição de “terror geek”, um filme pop de terror
que não dá propriamente sustos nem provoca medo, apenas estimula a adrenalina.
Tudo é muito gamificado, um jogo de etapas a serem cumpridas. Já vimos isto em Jogos Mortais, não por acaso, do mesmo
James Wan. A cada episódio a série se afasta mais e mais dos cânones estabelecidos
por O Exorcista, o Santo Graal dos
filmes de possessão demoníaca dos últimos 50 anos.
O carisma do casal de atores Patrick Wilson e
Vera Farmiga dá conta do recado, como sempre. O filme se sustenta integralmente
no desempenho da dupla. Há que se perguntar o que farão os produtores da
franquia quando a dupla se aposentar da série. O destino talvez seja transformar
a franquia em uma série de TV, apresentando a cada episódio um novo caso dos “detetives
do oculto” no início da carreira, com atores mais jovens. Algo na linha do
saudoso seriado dos anos 70 Kolchak – Os Demônios
da Noite, estrelado por Darren McGavin como o repórter Carl Kolchak que
investigava casos misteriosos e sobrenaturais.
Assista ao trailer: Invocação do Mal 3: A Ordem do
Demônio
Jorge Ghiorzi