sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"Clube da Luta": 15 anos depois


Durden. Tyler Durden. Esse é o cara que o cinema nos apresentou há 15 anos no filme Clube da Luta. Antes das telas o personagem vivia apenas nas páginas do livro de Chuck Palahniuk. Sim, o tempo passa, lá se vai uma década e meia que o filme de David Fincher foi lançado. Aquela era uma época onde os celulares não eram populares, a Internet engatinhava, e o planeta vivia a expectativa do início de um novo milênio. O ano era 1999. O Clube da Luta chamou as plateias para a luta e deu um sacode geral na inércia.
Definitivamente o filme de David Fincher marcou um momento de passagem. Algo como passar do analógico para o digital. O impacto do filme naqueles tempos foi grande. Mas, paradoxalmente, não alcançou toda a repercussão que merecia. Foi o que se poderia chamar de "um filme a frente do seu tempo", cujos valores só foram devidamente reconhecidos com o passar do tempo.
Um dos temas centrais do filme, mola mestra que move a narrativa, é a crítica ao consumismo desenfreado. "As coisas que você possui acabam possuindo você", declara Tyler Durden (Brad Pitt) para o incrédulo e insone executivo (vivido por Edward Norton) em seu processo de libertação emocional. Comprar, consumir, possuir. Sem motivos muito claros e sem necessidade definida. Comportamento que o filme antecipou, antes do surgimento do e-commerce de hoje que estimula e facilita a compra por impulso.
Outro tema caro ao filme é a falta de relações emocionais reais entre as pessoas. O que não deixa de ser uma ironia, se pensarmos em todas as possibilidades de interação que as redes sociais de hoje permitem. Mas, como "Clube da Luta" antecipava há 15 anos, as relações sociais nos dia que correm são eventuais e passageiras. E por fim, o filme de David Fincher também abordou o tema do terrorismo social urbano, misto de vandalismo e utopia, que mobiliza grupos sem bandeira, movidos apenas pela gratuidade da violência. Para a trupe de Tyler Durden, sabotar a comida de um restaurante, inserir fotogramas obscenos em meio a um inocente desenho animado infantil ou explodir um prédio comercial são atos indistintos em sua escala de valores. E pensar que apenas dois após o lançamento de "Clube da Luta", Nova York viveria a tragédia das Torres Gêmeas. Naquele caso, parecia um filme. Mas não era. A vida é sempre maior que a ficção.

(Texto originalmente publicado na revista "Voto" em outubro de 2014)
Jorge Ghiorzi

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